Cincopes

on 18 agosto 2016

POLÍTICA - O CUSTO DA CAMPANHA DIMINUIU?

O CUSTO DE CAMPANHA DIMINUIU?

Acho que já podemos fazer uma breve análise sobre a legislação eleitoral destas eleições, analisando dois pontos, o custo e a operação.

O grande motivo para diminuir o tempo de propaganda foi a diminuição de custos, concretizada na proibição de doações por empresas.

Mas será que essa redução realmente aconteceu? Vejamos.


1.  Com a limitação da soma de apenas seis partidos no computo de tempo para duração dos programas, os partidos que ficaram de fora da soma aumentaram o preço. Como eles não têm base ideológica, os candidatos majoritários compram para que o adversário não os tenha.

2.  Há equipes clandestinas trabalhando no período pré-eleitoral. A veiculação dos programas em rádio e tv começavam 45 dias após o início do período legal de campanha e agora, apenas dez dias depois, prazo impossível para produção e teste de cenários, identidade visual, captação de imagens de arquivo, produção de clips e peças comerciais e de argumento, gravação de programas pilotos e de reserva, pesquisas quali do material etc. Como ninguém trabalha sem receber antecipadamente uma boa parte do contratado, funciona o “por fora”.

3.  A majoritária exibia os programas nas terças, quintas e sábados e agora será de segunda a sábado. É certo que o tempo foi reduzido de 20 para 10 minutos, mas produzir um programa de três minutos, por exemplo, exige quase tanto esforço e tempo quanto um de 6 minutos. A redução na produção não é proporcional à veiculação.

4.  O tempo cortado na exibição de programas foi redistribuído no tempo reservado às inserções comerciais, além de incluírem os candidatos proporcionais no horário o que demandará mais recursos, pessoal e meios diários para a produção de material. Em alguns casos, será contratada outra empresa para atender apenas os candidatos proporcionais.

5.  A redução aumentou os custos com pessoal, alimentação, transporte, combustível etc. Por exemplo, para cobrir uma cidade com um milhão de habitantes durante noventa dias, você precisava 500 pessoas. Com menos de quarenta e cinco dias, você precisa, às vezes, mais do que o dobro de pessoal, recursos, material e meios.

6.  A liberalidade de fazer campanha antes do período eleitoral apenas se apresentando como pré-candidato, pôs em movimento uma máquina cujo custo não será computado nos custos oficiais de campanha.

7.  A campanha eleitoral virou uma gincana estafante, principalmente para os candidatos majoritários. Como cobrir uma cidade grande ou de médio porte em apenas 45 dias?

8.  A campanha agora é 24 horas, pois a internet precisa de monitoramento permanente. Enquanto rádio e tv têm veiculação diária, na internet é preciso monitorar a concorrência, ter pessoal preparado para analisar os dados e produzir respostas ou proposições imediatamente, seja em vídeo, imagens ou textos. E esses profissionais não são baratos.

9.  Aumentou a contratação de pessoal profissional, pois você não pode entrar numa campanha sem a assessoria de advogados e contadores. A necessidade de prestação de contas diárias exige pessoal com profundo conhecimento legal e tributário e eles cobram caro porque além de especialistas, são também responsáveis junto com o candidato perante a lei.

10. O custo com tecnologia também aumentou, porque o trabalho exige softwares para doação on line, firewall, programas para análise e cruzamento de dados, tecnologia digital, e-mail marketing, gestão, controle financeiro, logística, controle de pessoal, agenda etc. É uma empresa montada para funcionar apenas 45 dias.

11. Pesquisas! Algum candidato ousa entrar numa campanha tão curta sem saber o que o eleitor espera? Não há tempo para correção de rumo e a tacada tem que ser certeira, a não ser que você queira fazer uma campanha apenas para seus amigos.

Paradoxalmente, foram cortados os meios mais baratos como pintura de muros, cartazes, bonecos, placas etc. Sugiro aos legisladores e juristas que ouçam profissionais da área de comunicação antes de se aventurarem na fantasia de regulamentar campanhas eleitorais.

Conclusão: A proibição de doação por empresas legitimou o caixa dois e provavelmente criará um caixa três (pré-campanha), porque é impossível captar os recursos necessários apenas com doações de pessoas físicas.