Cincopes

on 17 agosto 2021

PLANEJAMENTO - O PROVÁVEL E O POSSÍVEL

 Eu espero o provável. Eu faço o possível.

As empresas passaram por um solavanco que desarrumou seus processos e planos. Algumas foram mais impactadas que outras, mas todas tiveram que ter flexibilidade e agilidade para realinhar seu negócio.

No início de 2020, ninguém sabia o que estava por vir, os previdentes especulavam e eram chamados de pessimistas.

Em março, a pandemia chegou e os previdentes passaram a ser chamados de realistas, mas continuavam sem uma noção clara do que estava por vir.

Os altos e baixos da pandemia, a falta de responsabilidade coletiva da população, os desencontros do governo federal, a ambiguidade em suas ações, a passividade e, às vezes, sua omissão, as novas variantes, a queda brusca da economia, o drama sanitário e o colapso social deixaram a sociedade em choque e o Brasil de joelhos.


Os orçamentos foram rasgados, refeitos, redesenhados, modificados até serem peças de ficção, com as empresas tocando o negócio com um olho no momento e outro no caixa. Avançaram sem ter noção de cenário futuro, mais preocupadas com a sobrevivência do que com a perenidade da empresa.

Na crise, líderes não lidam com o provável, eles fazem o possível e muitos falharam por não ter a capacidade de projetar o provável para fazer o possível.

E como fazem isso?

Ouvindo pessoas de fora da empresa, se informando em fontes confiáveis, olhando o mundo, percebendo mudanças, debatendo ideias, articulando encontros profissionais e acadêmicos, reavaliando seus conceitos e preconceitos, quantificando os dados, sempre atentos e alertas à conjuntura.

Fluxo de caixa e forecast estão no DNA do setor financeiro e nada impede o desenho de um orçamento trimestral, semestral, anual ou plurianual, peças que trabalham com históricos da empresa. Não precisa de esforço humano para isso, softwares desenham o cenário e simulam o provável.

O esforço dos líderes deve estar em nível estratégico e alocação do capital. Decidir que produtos devem ser aprimorados ou descontinuados, como será a política de investimentos, aquisições, fusões e partnership, avaliar a renovação ou aquisição de bens de capital, qual será a política de expansão, seu quadro de colaboradores satisfaz suas necessidades presentes e atende as futuras e outras discussões no campo da melhoria do desempenho da empresa.

O erro clássico é a aprovação de um investimento visando um retorno provável. É preciso avaliar o risco e as variáveis, internas e externas, para que se projete um resultado possível.

Como se pratica a arte da possibilidade?

A melhor forma é a seleção de projetos em discussão compartilhada com todos os setores envolvidos, avaliando a relação favorável custo/benefício, se ela reforça seu ramo de atuação e se a relação risco/retorno é compatível com a capacidade financeira atual da empresa.

Você precisa ter responsabilidade com a empresa, não com o gestor, e responder alguns questionamentos com franqueza, tipo (1) o que o cliente não nos disse, (2) o que faço todos os dias e que tendem a mudar ou desaparecer, (3) qual regra do nosso negócio devemos colocar no passado, (4) quão disruptivos realmente somos, (5) o que meu cliente precisa e eu não ofereço (6) esse é o mundo em que viverei amanhã, (7) o que mudou no meu negócio e não percebemos, (8) quais tendências nossa área de pesquisa (UX/CX/CS) está ou não está vendo/entendendo. 

Essas e outras perguntas devem ser feitas também aos fornecedores e clientes que serão impactados pela decisão.

É preciso abandonar o método científico (qual é o problema e o que não funciona) e avançar para a discussão da solução, o que é possível fazer, o que é possível consertar.

Orçamentos lidam com o provável. O gestor lida com o mundo possível.

O PROVÁVEL é conjuntural e influenciável por agentes externos. O POSSÍVEL depende de você.