Uma
característica destas eleições americanas, assim com a brasileira, é que a
opinião pública ficou em casa, na internet, e o eleitor foi às urnas, elegendo
vitoriosos com a participação de apenas cerca de um terço do total de eleitores.
Nos
Estados Unidos, as pesquisas não erraram tanto, porque no voto popular, Hillary
fez quase 210 mil votos a mais que Trump, mas é preciso reavaliar as
metodologias usadas, porque dizer que vai votar e sair de casa para confirmar
sua intenção é muito diferente.
A
vitória de Donald Trump, como muitos dos prefeitos no Brasil, mostra que o
poder de mobilização não está nas propostas ou nos discursos ideológicos. O
eleitorado é fiel seguidor dos discursos populistas e messiânicos, que
contrariam a opinião pública.
A
característica desses discursos é que eles só funcionam com outsiders ou
políticos que se apropriam dessa imagem com oportunismo, enquanto se aproveitam
das benesses do sistema, como no Brasil.
Trump
vai ter que dominar seu partido, que o abandonou a sua própria "boa"
sorte depois que fez fortes críticas responsabilizando o modelo Ronald Reagan
pela situação atual. Os americanos seguem os ingleses que sofrem hoje a herança
do período Tatcher. Mas será que a vitória lhe dará a força necessária para
enfrentar o establishment?
Como
cumprir suas promessas se cerca de 70% do consumo da classe média americana é
produzida na China? Como fazer as empresas americanas gerarem empregos se a
globalização exportou seus postos de trabalho? Como cobrar contrapartida
financeira do Japão se o país nipônico é o segundo maior credor da dívida americana?
Como fazer a comunidade europeia aumentar seu financiamento à Otan se os
interesses que ela protege são americanos? Como diminuir o investimento em
defesa se a indústria de armas americanas só perde em participação no seu PIB
para o tráfico de drogas? Como ser isolacionista se a crise transformou os
americanos em um dos países mais dependentes do mundo, desde mão de obra à
produtos de alta tecnologia, de bens de consumo à indústria de transformação?
Como mexer numa estrutura de educação que importa cérebros e os devolve aos
seus países de origem com conhecimento e experiência? Como enfrentar indústrias
multinacionais que só devem explicações aos seus acionistas, sejam eles
americanos, chineses, alemães, sauditas, russos, japoneses etc? Como atender os
sindicatos de trabalhadores que confiaram em suas promessas, apenas impondo
barreiras fiscais? Sem falar na sombra chinesa e seu yuan que vem aumentando
sua participação no mercado americano, principalmente no bancário e no
imobiliário.
Trump
tem uma vantagem sobre os prefeitos brasileiros, porque vai ter que negociar
com seu partido e com seus iguais, enquanto os prefeitos eleitos estão aliados
a partidos que praticam o que os candidatos renegaram em seus discursos.
Pra
não dizer que não há nada de bom na vitória de Trump, ela serve para mostrar
que o eleitor americano, momentaneamente, renega o espírito globalista
histórico de seu país, voltando ao berço do nacionalismo. Hillary fez uma
campanha para o mundo e Trump falou para os americanos.
Em
suma, a preocupação com a eleição de Trump deve ser moderada, porque a
civilização já passou por loucos, ditadores, genocidas, visionários, imbecis e
idiotas e sobreviveu.
Logo
ali adiante, a dura realidade vai mostrar aos eleitos e aos eleitores que o
discurso é um, mas a prática é outra.
A
eleição brasileira e a americana mostraram que o voto, obrigatório ou não, tem
que ser conquistado com argumentos que façam o eleitor sair de casa convicto de
que sua participação vale a pena.
No
Brasil, principalmente em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, os fieis
acreditaram nos discursos populistas de atores que negaram a política participando
de um jogo político.
Os
brasileiros devem se preparar para a desilusão e antes que digam que sou
pessimista, conhecendo o sistema político e a sociedade brasileira, afirmo que
meu vaticínio tem uma boa dose de realidade.
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