Cincopes

on 04 setembro 2016

PROSA - PONTO DE EBULIÇÃO

Nossa democracia precisa urgente de uma reforma política para se consolidar. Já perdemos muito tempo e a processo eleitoral nada muda. Nos atemos a eleger sempre o menos ruim, nunca o melhor.


A falta de democracia interna e de renovação dentro dos partidos criou um sistema onde velhas raposas, sem voto, agregam “celebridades” e partidos nanicos para se reeleger ou para terem cacife eleitoral visando as benesses pós-eleição. E na última reforma política, diminuíram a janela de campanha eleitoral com o explícito propósito de combater a renovação, num esforço de autopreservação.

Os eleitos, de qualquer partido, acham mais fácil cooptar ou comprar apoio do que negociar, porque os grupos ou partidos querem impor sua visão e não encontrar soluções. No poder, abrem o balcão de negociação e até oposicionistas eleitorais se tornam base. 

O povo é enganado a cada eleição, pois o prometido nunca é entregue. Com bases políticas que formam uma grande salada de interesses, é impossível implementar mudanças. A única unidade dos políticos é a monetária.

O brasileiro não usa seu voto conscientemente, pois tende a votar naquele com mais chance de vitória. E pior, há os que abandonam partido, candidato ou ideologia para votar naquele que pode vencer seu “inimigo”. Esse tipo de eleitor, o vagamente ideológico é o principal artífice do perigoso processo de radicalização ideológica que estamos vivendo no Brasil.

Ao não cumprir promessas – seja por “limitações políticas ou econômicas”, como disse a ex-presidenta, os políticos semeiam o vírus do descrédito no verdadeiro processo político, o da negociação transparente e a busca do consenso para atender o bem comum.

As manifestações mostram o tamanho do problema. Alguém consegue nominar todos os motivos expressos nos cartazes e nas palavras de ordem? O começo, vinte centavos, termina nos bilhões da corrupção. Estão ali saúde, educação, mobilidade urbana, os três poderes, inclusão, reforma agrária, imprensa, homofobia, segurança, copa, olimpíada e muitos outros. São temas que já foram prioritários, mas hoje são urgentes.

Há décadas esses temas assombram o país. Foram “usados” como motivo para um golpe militar e estavam por trás do impeachment do presidente Collor. Somos um país levado com a barriga, tutelado por uma elite que sustenta o sistema baseado nos interesses econômicos, corporativos e por uma estrutura governamental que cresce e não funciona (Collor “só” tinha 23 ministros, FHC tinha 34 e Dilma chegou aos 39).

Não adianta presidentes, governadores e prefeitos chamarem apenas os políticos para conversar. Toda a sociedade deve ser incluída, sem partidarismo, sem ideologia e sem limites. Diferentemente dos “caras-pintadas”, que no início dos anos noventa tinham base partidária e um único objetivo – o impeachment foi um movimento difuso e apartidário, mas não apolítico. Teve muito de ódio, preconceito e individualismo. São contra os partidos, mas paradoxalmente, deu poder ao verdadeiro problema da nação, o patrimonialismo, o fisiologismo e a corrupção profissional. São contra o estado que o oprime, explora e o relega, seja no município, no estado ou no país, mas o entregaram ao verdadeiro inimigo da sociedade.

Aviso aos incendiários que só os políticos podem impedir que a temperatura continue a subir. Se eles não entenderem o que está acontecendo, tentarem despolitizar as ações e tratarem a voz da nação como um pequeno problema, talvez se surpreendam, de novo, quando ela se tornar um grande problema.