Aproveito
a data dos 245 anos da capital gaúcha para dar meu testemunho sobre a beleza e a
humanidade de nossa cidade.
Não
nasci aqui, mas há 45 anos adotei como minha e periodicamente revisito ou
descubro lugares de Porto Alegre. Nos meus andares, admiro a arquitetura
concebida e erguida pelo homem e que guarda em seu interior momentos tão
humanos. A arte é a forma do homem expressar seus sentimentos e fazer de lugares
comuns, altar de seus sonhos.
Entre
tantos exemplos, conto um simples passeio por um dos mais belos e mais abandonados
locais de Porto Alegre, o Centro Histórico.
Atravessei
calmamente a Praça da Alfândega observando as pessoas. Os monumentos, ruas, avenidas,
cruzamentos, prédios e história sempre estarão lá, sempre no mesmo lugar, mas as pessoas,
em suas idas e vindas, mudam o ambiente, transformam lugares.
Subi
e desci as escadas da Casa de Cultura, com pausas para ver os detalhes de sua arquitetura
e viajar no tempo, tentando imaginar quantas histórias esquecidas e adormecidas
existem em seus corredores e salas que um dia abrigaram um hotel e testemunharam a pena de Mário Quintana desenhando poesias.
Observei
a escadaria da Igreja das Dores com suas duas torres imponentes e lembrei da lenda
do escravo Josino. Quanto dela será lenda? Quanto dela será verdade?
A
igreja, ombreando fé e força, é cercada por instalações militares e pelo QG do Comando Militar do Sul.
Cruzei
os salões do Museu do Rio Grande do Sul admirando nosso passado.
Atravessei
a Galeria Chaves. Perambulei pelas estações Central e Rodoviária do metrô.
Senti
os aromas do Mercado Público. Me perdi nos sons da Rua da Praia. Me inseri na multidão na Voluntários. Me dirigi ao Santander Cultural para assistir um filme,
mas atrasei. Para não perder a viagem, resolvi visitar a exposição monetária do
Santander Cultural... e me surpreendi.
Ali,
no local onde se conta a história do dinheiro, do capital, do ter e das posses,
encontrei um testemunho do quanto esperamos e dependemos de sentimentos e de
pessoas.
Lá,
no Livro de Visitas, há vários depoimentos, além dos tradicionais testemunhos
sobre o local. Tem anarquia, protestos, política, elogios, agradecimentos e até
um “viva el rey de españa!”.
Mas
um deles eu não resisti e fotografei depois de lê-lo com uma mistura de
incredulidade, prazer e emoção.
O
depoimento de um ser humano apaixonado esperando pelo amado. Um encontro que
não houve. Um recado público emocionado, mas com endereço certo. Um registro
como última esperança que chegue ao destinatário.
“Talvez
consiga dizer em palavras como é vir te encontrar e tu não comparecer.
Te
esperei por uma hora e mais alguns 45 minutos, ali na esquina ouvi uma voz, mas
não eras tu.
Desculpa
se te fiz alguma coisa, só queria matar a saudade que neste instante me mata e
a dor no peito insiste em aumentar.
Continuarei
aqui por mais algumas horas na esperança de te encontrar, de poder te ver e beijar
tua boca, tocar tua mão e tirar essa dor no peito”.
No
final um singelo coração e as palavras “meu amor”.
Um
testemunho de uma espera cheia de esperanças. Uma esperança que se esvai.
Apaguei
o nome da autora, mas quem for ao Santander Cultural poderá buscar no Livro (22/01/2015)
a prova do valor incalculável dos sentimentos.
Espero
que a vida já tenha proporcionado este reencontro porque perder a esperança,
não viver um amor, postergar a felicidade nos faz incompletos.
E
nessas esquinas, ruas e parques está nosso amor, esperando o momento do
encontro ou compartilhando com a gente o frio cortante de nosso inverno, o ar
primaveril colorido pelos ipês e azaleias, o calor sufocante do verão ou a
luminosidade sem igual do outono de nossa Porto Alegre.
Viva
a Porto Alegre dos sonhos! Porto dos amores! Alegria da vida!
Viva
o amor!
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