Cincopes

on 17 dezembro 2017

POLÍTICA - CADA UM NO SEU LUGAR

Há momentos na história de um país em que é melhor ser vaiado do que ser aplaudido.
                                                                                                                          Eduardo Dusek
A política é muito mais complicada do que a comunicação, mas tão manipulável quanto.
O poder está no agir e não na expressão, o que coloca a política e a comunicação em campos opostos, mas complementares.
As pessoas acham que as redes sociais mudam alguma coisa, enquanto os políticos têm certeza de que é preciso agir para mudar, ou não. Agem em autodefesa, preservando seus interesses, protegendo o poder, o status quo, a força invisível que os financia e dirige o país.
Como organizar um movimento para fazer frente ao risco que o país corre se todos têm algo a dizer, mas nada a ouvir?

A imprensa deve desempenhar seu papel parando de publicar o que os políticos dizem e escrevem, porque apenas reforçam e dão credibilidade à mentira, à ilusão, à impostura.
O papel do jornalista é investigar, aprofundar temas, esclarecer e publicar a verdade. Seu lugar não é no plenário ou nas antessalas dos gabinetes. Seu lugar é onde está a notícia, a informação, viver as ruas aferindo o resultado da ação política dos governos. Antessalas e plenários devem ser frequentados para confrontar, inquirir, questionar e ouvir o outro lado. Ou alguém dá um centésimo de verdade e credibilidade aos discursos dos políticos nas entrevistas ou nos plenários?
O político exerce seu papel encaminhando soluções para os problemas. Ele tem um compromisso público para agir em nome da sociedade. O presidente Temer é um exemplo. Sabe articular, compor, negociar, mas não sabe governar, no sentido literal da palavra. São realidades e competências diferentes. No quadro atual, seu papel está definido, criando um enorme problema para a sociedade. Temer não tem qualquer compromisso futuro que não seja a boa aposentadoria. É um político sem ambição, sem compromisso com o povo brasileiro, com o futuro, com a história, com o país. Um presidente sem apoio popular e sem ambição política é perfeito para fazer o jogo do poder.
A sociedade está pasma e sem capacidade de articulação. Primeiro, pela falta de um nome com capacidade de aglutinar forças tão díspares. Segundo, pela cisão implantada em seu meio baseada no preconceito e na mentira. Terceiro, porque a capacidade da classe política em criar fatos negativos é tanta que não dá tempo de se articular em torno de uma causa e já surge outra.
É lava-jato, parcelamento de salários, desmonte da previdência, extinção de direitos, corrupção, desemprego, descaso com a saúde, criminalidade, desmonte da escola pública, atrelamento da educação, entrega do patrimônio nacional, justiça aparelhada, patronato carente de dinheiro público, sindicatos sem rumo, geopolítica dinâmica, interesses pessoais, pós-verdade, ataque à pesquisa técnica e científica, esforço para continuarmos a ser uma economia primária e dependente e ... vem aí, as eleições de 2018. 
Assim como um exército sem armamento é vulnerável, um povo sem direitos é gado.
Chegamos a este ponto porque o povo, a comunicação e o parlamento não cumpriram seu papel, permitindo que os políticos tomassem de assalto a máquina pública. A máscara caiu e o centrão, o baixo clero e os caciques políticos perderam totalmente a vergonha, afrontando acintosamente a sociedade com um arremedo de reforma política com a finalidade de se perpetuarem no poder.
Nessa barafunda, nesse caos, o importante não é o que vira notícia, mas o que deixa de ser.
Da prisão, Eduardo Cunha ri, satisfeito com sua obra e seu poder. Sabe que sairá em breve para retomar seu império, que o governo está em suas mãos, que sua bancada está fazendo a lição de casa, que sua mulher e sua filha cuidam bem de seu patrimônio e que jesus ponto com vai muito bem, obrigado.
O país não vai avançar se cada um não estiver em seu lugar cumprindo seu papel.