Há momentos na história de um país em que é
melhor ser vaiado do que ser aplaudido.
Eduardo Dusek
A política é muito mais complicada do que a
comunicação, mas tão manipulável quanto.
O poder está no agir e não na expressão, o que
coloca a política e a comunicação em campos opostos, mas complementares.
As pessoas acham que as redes sociais mudam alguma
coisa, enquanto os políticos têm certeza de que é preciso agir para mudar, ou
não. Agem em autodefesa, preservando seus interesses, protegendo o poder, o status
quo, a força invisível que os financia e dirige o país.
Como organizar um movimento para fazer frente ao
risco que o país corre se todos têm algo a dizer, mas nada a ouvir?
A
imprensa deve desempenhar seu papel parando de publicar o que os políticos
dizem e escrevem, porque apenas reforçam e dão credibilidade à mentira, à
ilusão, à impostura.
O
papel do jornalista é investigar, aprofundar temas, esclarecer e publicar a
verdade. Seu lugar não é no plenário ou nas antessalas dos gabinetes. Seu lugar
é onde está a notícia, a informação, viver as ruas aferindo o resultado da ação
política dos governos. Antessalas e plenários devem ser frequentados para
confrontar, inquirir, questionar e ouvir o outro lado. Ou alguém dá um
centésimo de verdade e credibilidade aos discursos dos políticos nas
entrevistas ou nos plenários?
O
político exerce seu papel encaminhando soluções para os problemas. Ele tem um
compromisso público para agir em nome da sociedade. O presidente Temer é um
exemplo. Sabe articular, compor, negociar, mas não sabe governar, no sentido
literal da palavra. São realidades e competências diferentes. No quadro atual,
seu papel está definido, criando um enorme problema para a sociedade. Temer não
tem qualquer compromisso futuro que não seja a boa aposentadoria. É um político
sem ambição, sem compromisso com o povo brasileiro, com o futuro, com a história,
com o país. Um presidente sem apoio popular e sem ambição política é perfeito
para fazer o jogo do poder.
A
sociedade está pasma e sem capacidade de articulação. Primeiro, pela falta de
um nome com capacidade de aglutinar forças tão díspares. Segundo, pela cisão
implantada em seu meio baseada no preconceito e na mentira. Terceiro, porque a
capacidade da classe política em criar fatos negativos é tanta que não dá tempo
de se articular em torno de uma causa e já surge outra.
É
lava-jato, parcelamento de salários, desmonte da previdência, extinção de
direitos, corrupção, desemprego, descaso com a saúde, criminalidade, desmonte
da escola pública, atrelamento da educação, entrega do patrimônio nacional,
justiça aparelhada, patronato carente de dinheiro público, sindicatos sem rumo,
geopolítica dinâmica, interesses pessoais, pós-verdade, ataque à pesquisa
técnica e científica, esforço para continuarmos a ser uma economia primária e
dependente e ... vem aí, as eleições de 2018.
Assim
como um exército sem armamento é vulnerável, um povo sem direitos é gado.
Chegamos
a este ponto porque o povo, a comunicação e o parlamento não cumpriram seu
papel, permitindo que os políticos tomassem de assalto a máquina pública. A
máscara caiu e o centrão, o baixo clero e os caciques políticos perderam
totalmente a vergonha, afrontando acintosamente a sociedade com um arremedo de
reforma política com a finalidade de se perpetuarem no poder.
Nessa
barafunda, nesse caos, o importante não é o que vira notícia, mas o que deixa
de ser.
Da
prisão, Eduardo Cunha ri, satisfeito com sua obra e seu poder. Sabe que sairá
em breve para retomar seu império, que o governo está em suas mãos, que sua
bancada está fazendo a lição de casa, que sua mulher e sua filha cuidam bem de
seu patrimônio e que jesus ponto com vai muito bem, obrigado.
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