Cincopes

on 30 julho 2020

POLÍTICA - O FIM NÃO JUSTIFICA OS MEIOS

“Se os fins justificam os meios, são os meios que definem o caráter”, Marcelo Marchi Negreira

Ninguém discute os méritos da operação Lava Jato, necessária e útil para a depuração política no Brasil e melhora da auto-estima do brasileiro ao ver políticos poderosos e empresários influentes de algemas e uniformes de presidiário. Mas aqui é Brasil, e rapidamente os envolvidos se tornaram celebridades e o ego passou a comandar muitas das ações dos procuradores e do juiz Sérgio Moro.


A lava jato se tornou um núcleo independente do judiciário, tangenciando leis e infringindo normas com o silêncio do STF, a indevida corregedoria do TRF4 e da falta de pulso dos fracos ex-procuradores-geral, Rodrigo Janot e Raquel Dodge, comprometida com a ala temerista para não atrapalhar a condução do processo de impeachment e leniente no vazamento dos áudios de conversas entre os procuradores de Curitiba criticando o STF e a própria Raquel Dodge, confessando a investigação ilegal que tinha como alvo o ministro Gilmar Mendes e festejando a indicação de Luiz Fux ao Supremo.

A tentativa de criar uma fundação para gerir mais de R$ 2 bi em recursos, o obscuro conluio com o FBI, a destruição das empresas nacionais, as operações espetaculosas, as escutas suspeitas, os vazamentos seletivos, as manifestações públicas influenciando a política nacional, a relação suspeita do juiz com a acusação, a promoção pessoal na venda de palestras e consultorias são alguns dos fatos que nunca foram investigados ou devidamente coibidos pelo CNJ ou instâncias superiores.

A ofensiva de Aras sobre a lava jato mira o temor de Bolsonaro de que um novo núcleo use os mesmos métodos processuais contra o bolsonarismo. Com um incontável número de pontas soltas, principalmente nos negócios e relações da sua família, fez um recuo estratégico e reorganizou suas forças para enfrentar a crise.

Aras entendeu que a mudança de perfil falastrão do presidente e o apoio do Centrão, inconfiável como o escorpião que pica mortalmente quem o ajudou, não geraram segurança suficiente e acelerou o processo de enquadramento dos núcleos da Lava Jato.

Não esqueçamos também, que o festejado ministro Fux será o novo presidente do STF a partir de setembro.

Temos que convir que o cumprimento das regras é extremamente importante num órgão que tem 1300 procuradores. Os exemplos de Janot e Dodge devem assombrar Aras e Bolsonaro.

A máxima “o fim justifica os meios”, erroneamente citada como de Maquiavel, quando na verdade é do poeta romano Ovídio, não serve para uma sociedade plural e democrática, porque flexibiliza a aplicação da justiça, podendo ser manipulada por interesse pessoal ou político. Para Maquiavel, os meios devem respeitar a ética, porque só assim justificariam os fins.

Numa Democracia séria, o fim não justifica os meios, mas os meios definem o caráter dos envolvidos.