Cincopes

on 31 julho 2020

PROSA - A DOR DOS OUTROS NOS DÓI MAIS

“ Se as feridas do teu irmão não te causam dor, a tua doença é mais grave que a dele”, Frei Jaime

No início da pandemia, os brasileiros lamentavam as mortes na Itália, na Espanha, na Inglaterra e em outros lugares do mundo.

Compartilhavam cenas tristes e vídeos macabros da dor alheia. Caminhões do exército italiano cheios de corpos, cadáveres insepultos pela rua. Eram tomados de emoção ao ouvir os relatos de personagens em close úmido pelas lágrimas falando de sua dor em outro idioma e todos entendiam, porque a dor é igual em qualquer lugar do mundo.

Mortes que aconteciam longe de nosso viver, muito além do alcance de nossos braços, tinham réquiem em nossas lágrimas.


A regra de que a morte de uma pessoa é uma tragédia, já a morte de milhares é estatística nunca foi tão real no Brasil.

Somos ótimos em compaixão e péssimos em empatia.

Parecem sentimentos semelhantes, mas mexem com partes diferentes de nós. A compaixão é reativa, você chora, lamenta. A empatia exige ação e grandiosidade, muito difícil para uma sociedade individualista.

Estamos entorpecidos, desumanos e egoístas.

Pontualmente, quanto ao covid19, as pessoas reclamam que só falamos dos mortos e não dos recuperados. Alguém daria a verdadeira dimensão ao holocausto se falássemos dos que sobreviveram e não dos milhões de mortos?

O número de mais de 94 mil mortes, em 140 dias, é como se sumissem do mapa do Rio Grande do Sul as cidades de Lajeado, ou Livramento, ou Ijuí, ou Cachoeira do Sul. Poderia ser também o sumiço de Capão da Canoa e Torres, ou até Cruz Alta e Rio Pardo.

Em Santa Catarina, seria o desaparecimento de Camboriú, ou São Bento, ou Navegantes, ou Concórdia. Noventa mil é a soma das populações de Laguna e São Miguel do Oeste, ou Campos Novos e Videira, ou São Joaquim, Sombrio e Penha.

Não vou ficar dando exemplos porque certamente você conhece alguém em alguma dessas cidades ou em qualquer outra com total de população semelhante.

Isso já não importa!

Vivemos o triste momento em que brasileiro já não sente sua própria dor.

1 comentários :

04 agosto, 2020 09:34 Reply Delete Delete

Teu artigo leva a uma reflexao sobre como olhamos o outro . Na atitude compassiva de nossa propria dor ou na consciencia que fazemos parte do mesmo contexto?

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