“ Se as
feridas do teu irmão não te causam dor, a tua doença é mais grave que a dele”,
Frei Jaime
No
início da pandemia, os brasileiros lamentavam as mortes na Itália, na Espanha, na
Inglaterra e em outros lugares do mundo.
Compartilhavam
cenas tristes e vídeos macabros da dor alheia. Caminhões do exército italiano cheios
de corpos, cadáveres insepultos pela rua. Eram tomados de emoção ao ouvir os
relatos de personagens em close úmido pelas lágrimas falando de sua dor em
outro idioma e todos entendiam, porque a dor é igual em qualquer lugar do
mundo.
Mortes
que aconteciam longe de nosso viver, muito além do alcance de nossos braços,
tinham réquiem em nossas lágrimas.
A
regra de que a morte de uma pessoa é uma tragédia, já a morte de milhares é
estatística nunca foi tão real no Brasil.
Somos
ótimos em compaixão e péssimos em empatia.
Parecem
sentimentos semelhantes, mas mexem com partes diferentes de nós. A compaixão é
reativa, você chora, lamenta. A empatia exige ação e grandiosidade, muito
difícil para uma sociedade individualista.
Estamos
entorpecidos, desumanos e egoístas.
Pontualmente,
quanto ao covid19, as pessoas reclamam que só falamos dos mortos e não dos
recuperados. Alguém daria a verdadeira dimensão ao holocausto se falássemos dos
que sobreviveram e não dos milhões de mortos?
O
número de mais de 94 mil mortes, em 140 dias, é como se sumissem do mapa do Rio
Grande do Sul as cidades de Lajeado, ou Livramento, ou Ijuí, ou Cachoeira do
Sul. Poderia ser também o sumiço de Capão da Canoa e Torres, ou até Cruz Alta e
Rio Pardo.
Em
Santa Catarina, seria o desaparecimento de Camboriú, ou São Bento, ou Navegantes,
ou Concórdia. Noventa mil é a soma das populações de Laguna e São Miguel do
Oeste, ou Campos Novos e Videira, ou São Joaquim, Sombrio e Penha.
Não
vou ficar dando exemplos porque certamente você conhece alguém em alguma dessas
cidades ou em qualquer outra com total de população semelhante.
Isso
já não importa!
Vivemos o triste momento em que brasileiro já não sente sua própria dor.
1 comentários :
Teu artigo leva a uma reflexao sobre como olhamos o outro . Na atitude compassiva de nossa propria dor ou na consciencia que fazemos parte do mesmo contexto?
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