Cincopes

on 17 dezembro 2020

PROPAGANDA - LOVE BRANDS NO TIMELINE

 A crise entre a Rádio Gaúcha e os patrocinadores do programa Timeline me levou a escrever esse artigo.

Pra quem não acompanhou, sintetizo. Os apresentadores do programa Timeline fizeram comentários sobre o assalto com repercussão mundial ocorrido em Criciúma. A reação foi extremamente negativa e entraram para o top trends. Cinco dos patrocinadores do programa, imediatamente lançaram notas se posicionando e anunciando o rompimento do contrato de patrocínio.

Independente do conteúdo dos comentários, esse artigo se propõe a discutir alguns pontos sobre o valor das marcas no relacionamento com seus clientes, porque a decisão tomada pelas empresas está claramente ligada aos seus valores e a importância que eles têm no relacionamento com seus clientes e comunidade.

A crise forçou todas as empresas a pensarem melhor seu negócio e o relacionamento de suas marcas com o mercado. O cliente está mais maduro e exigente e sua relação com as marcas transcende o preço. O consumidor precisa entender o propósito e os valores que elas carregam, devem fazer sentido para sua vida.

Onde entra essa tal de love brands nisso? Qual é o conceito de love brands? Afinal, o que faz um consumidor optar por uma ou outra marca?

Love Brands é utilizado para identificar marcas que transcendem a relação comum empresa-cliente. Elas demonstram interesse real com os seus públicos, têm propósitos bem definidos e trabalham seus valores em cada ponto de contato e em cada ação de relacionamento. Não é a loja, produto ou serviço, mas um valor, uma crença que tem importância e com a qual seu cliente se identifica.

Os contatos são em ambiente personalizado, tratamento nominal e ofertas direcionadas para perfil do cliente, como se fossem feitas sob medida, únicas. Sua comunicação, afetiva e envolvente, gera grande empatia ao tratar o cliente com atenção e respeito.

Essas atitudes geram fãs, que replicam sua satisfação, indicando, divulgando, defendendo a marca e gerando renda recorrente. As pessoas adoram fazer parte da sua comunidade para compartilhar com outros clientes seus anseios, desejos, valores e experiências.

Um exemplo mundial é a Harley Davidson. Suas motocicletas são reconhecidas em qualquer lugar do mundo e se tornaram sinônimos de estilo de vida com forte cultura de grupo, comunidade, como as gangues dos filmes (no bom sentido), além do seu amor à vida e o valor à liberdade e à aventura. Mesmo quem não pode comprar uma motocicleta, compra óculos, camiseta, jaqueta para poder compartilhar de seus valores e se sentir parte da comunidade.

O exemplo mais regionalizado são alguns sócios operadores do Garupa. Mesmo com a pandemia, mantiveram a estratégia e os resultados mostram que estavam certos. Seus números voltaram rapidamente ao patamar pré-pandemia. Atendimento personalizado e promoções apenas para o cliente, respeito e apoio ao parceiro e foco em gerar negócios e oferecer o que a comunidade precisa criam o elo que faz o cliente ser fiel, mesmo pagando mais caro.

Qual o caminho para chegar lá?

Primeiro, tenha o foco do cliente e não no cliente e esqueça o velho SAC. Big data, atenção aos fatos e visão de futuro são fundamentais. Se antecipe ao cliente, ofereça antes dele pedir ou precisar, crie e inove constantemente, esteja presente onde ele está, humanize a relação e desenvolva os três pilares do Customer Success (engajamento, churn e análise de números). Pequena observação: análise de números não é análise de resultados. Você pode ficar satisfeito com o resultado alcançado, mas ao analisar os números pode perceber que o resultado poderia ser melhor, por exemplo. Mas esse é tema para outro artigo.

Voltando.

Love Brands precisa de boa estratégia de branding, condizente com a cultura e os valores da empresa. É uma via de duas mãos, se o cliente ama sua marca, a recíproca tem que ser verdadeira. Seu amor ao cliente deve ser incondicional e você deve nutrir o relacionamento para que o cliente continue percebendo o valor dessa relação para a sua vida.

Ações invasivas, insistentes, repetitivas e inconvenientes não ajudam. Só a boa experiência mostra que a marca se importa realmente com seu público, diversificando pontos de contato e sempre gerando ótimas experiências. Seus fãs se tornam consumidores frequentes e recorrentes, compartilham sua satisfação nas redes pessoais e sociais, geram novos negócios e agregam valor à marca.

Divulgue seu Culture Code (Código de Cultura) mostrando claramente os valores, missão, metas e processos da empresa. Divulgue todos os pontos que possam gerar identificação entre produto-serviço e o consumidor, com uma linguagem simples e clara. Não confundir com a cultura organizacional.

Geralmente pensamos que as nossas decisões de compra são racionais ao analisar necessidades, opções, preços, avaliações, prós e contras até a decisão da compra.

De acordo com o professor de Harward, Gerald Altman, 95% das decisões de consumo acontecem no subconsciente. Isso significa que conquistar a lealdade do cliente passa pelo desafio de atingir seu subconsciente, porque mesmo sem se dar conta, as pessoas se conectam a determinadas marcas porque elas representam aquilo que elas acreditam, que elas querem expressar ou como gostariam de ser.

Se olhe no espelho e você vai perceber que as marcas que você usa dizem muito sobre sua personalidade - representam seus valores ou o estilo de vida que você gostaria de ter.

Não esqueça dos colaboradores. Sua estratégia precisa trabalhar o amor à marca de dentro para fora, porque colaboradores satisfeitos e motivados geram clientes mais satisfeitos. Torne-se um Great Place to Work (GPTW)

Para ser amada, uma marca precisa fazer o tema de casa do planejamento estratégico: definir missão, visão e valores, que orientam todas as estratégias. No PE estão os pilares do branding, que sustentam uma love brand.

Simon Sinek, palestrante motivacional, autor da teoria do Círculo Dourado e autor do best seller, Comece pelo Porquê,  afirma que as marcas de mais sucesso sabem o porquê da sua existência, não exatamente o que vendem.

Ao entender o porquê, as marcas assumem uma personalidade, como se fossem uma pessoa. É com essa personalidade, então, que os consumidores vão se identificar.

Será que em outro estado menos conservador e ideologizado a reação dos patrocinadores seria a mesma?

Por fim, um alerta.

Não há marca que não possa ser amada!