Cincopes

on 18 maio 2021

POLÍTICA - SOCIEDADE, EDUCAÇÃO E MERCADO

“Qualquer país que tiver uma educação melhor que os EUA, será melhor que os americanos”.

“Quem construiu os EUA foi a classe média e os sindicatos, não o mercado”.

                                                                                               Joe Biden, Presidente EUA

Extraídas do discurso da União do presidente norte-americano, Joe Biden, são frases referência para entender a visão do governo norte-americano sobre os problemas que afetam seu país há décadas, corroendo lentamente a paz social.

Uma das maiores dívidas está no financiamento estudantil. Mais da metade dos alunos que concluíram o ensino superior não conseguem pagar o dinheiro tomado para financiar seus estudos. As grandes universidades dependem muito dos estudantes estrangeiros.

O sistema de saúde se mostrou falho e o governo teve que desembolsar bilhões de dólares para que à rede privada ajudasse no atendimento aos norte-americanos na crise do Covid19.

O número crescente de famílias dormindo em carros, hotéis, motéis, abrigos públicos e de ONGs assombra.

O drama urbano com os sem teto morando em barracas, sob marquises, parques, estações de metrô ou paradas de ônibus espalhados por todas as cidades têm três fontes – a crise de 2008, o desemprego e os veteranos ex-combatentes das forças armadas.

Os números são assustadores. Em Los Angeles são mais de 80 mil e em Nova Iorque, cerca de 110 mil. Alguns conseguem se organizar e vivem em acampamentos formado por barracas de camping e abrigos de lona ou plástico.

O problema é tão presente e grave que em algumas cidades há partidos políticos de homeless.

Num país com cerca de 330 milhões de habitantes, são mais de 50 milhões de miseráveis, quase 7% da população. Percentualmente é menos que no Brasil, mas aqui há uma rede de proteção mínima como o SUS e o Bolsa Família, por exemplo.

Não foi gratuita a vitória de Nomadeland como melhor filme no Oscar desse ano.

Baseado na falácia da responsabilidade pessoal, onde sucesso ou fracasso na vida é visto como símbolo de fortaleza ou frouxidão pessoal, se criou a promessa de mobilidade social sem restrições, um destino impulsionado pela autodeterminação e perseverança e que basta querer para vencer. O projeto iniciado no período Nixon e ampliado no governo Reagan, diminuiu a presença do governo na assistência social, concentrou a renda, desregulamentou e afrouxou a fiscalização levando a precarização crescente e à crise de 2008, tão grave que a previsão feita na época de que o país levaria 20 anos para se recuperar parece acertada. O governo Trump e a pandemia aprofundaram a crise.

Na Inglaterra, situação semelhante aconteceu com o plano Tatcher que levou à crise de identidade inglesa e ao Brexit, apesar dos países europeus serem bons exemplos em políticas sociais.

Os dois países têm a educação no pivô da perda de inteligência. Os americanos perdem profissionais nativos e formam inteligências estrangeiras, principalmente orientais e africanas, que voltam aos seus países para desenvolver projetos e empreender. Os ingleses eram o primeiro país da Europa no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e hoje amargam o nono lugar.

Joe Biden tem a China como adversário geopolítico e econômico, não ideológico ou por temer o fantasma do “comunismo”. Ele sabe que o dólar pode se financiar por ser moeda base do comércio mundial, mas isso é paliativo, não resolve o problema. Além do risco da moeda chinesa se tornar referência mais estável no mercado mundial se a projeção da China se tornar a maior potência mundial em 2050, se confirmar.

Biden tem a convicção de que está na sociedade a solução, não no mercado.

Como sociedade, aposta que a americana é melhor que a chinesa.