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on 20 maio 2021

POLÍTICA - SOCIEDADE, EDUCAÇÃO E MERCADO NO BRASIL

Líderes que não agem através do diálogo, mas insistem em impor suas decisões, não organizam as pessoas - elas as manipulam. Eles não liberam, nem são liberados: eles oprimem”, Paulo Freire

Após um crescimento vertiginoso na primeira década deste século e estabilidade no início da segunda, desde 2015 o Brasil vem caindo no ranking do Pisa.

Até 2010, houve um aumento considerável de jovens na escola e isso não prejudicou a qualidade do ensino, pelo contrário, a pressão de dentro forçou a busca por melhoria. Infelizmente, o governo não conseguiu atender as demandas e os jovens foram às ruas para serem, inocentemente, usados.

No Brasil o foco ainda está na memorização do conteúdo e muito pouco em entender. Não é só estudar física, química, é preciso pensar como um cientista. Isso tem que ter um investimento grande em professores e escolher suas prioridades. Por exemplo, entre investir em todos os alunos ou nos alunos com mais dificuldades, a prioridade deveria ser os alunos menos privilegiados."

                          Andreas Schleicher, diretor de Educação da OCDE

A educação brasileira tem dois principais problemas que impactam todo o resto, a falta de investimentos e de uma política duradoura e moderna. A atual gestão governamental quer voltar aos anos 50, da “decoreba”, imposição de narrativa e meritocracia para realidades diferentes. Além disso, a ciência está sob ataque, os conteúdos sob censura e a liberdade educadora ameaçada.

Não conseguimos ter uma educação que participe da economia com cérebros e pesquisa. As empresas não investem em P&D, preferindo comprar pronto a buscar a inovação e soluções compatíveis com nossa realidade.

Observo nas consultorias que faço, o uso de ferramentas complexas, caras e com funcionalidades sem utilidade, que podiam ser substituídas por outras compatíveis com a realidade da empresa se buscasse parceria em startups, escolas técnicas ou universidades.

É hora do mercado focar mais em venture building.

Ah, mas a economia...

O mercado é conhecido como o pensamento da Bolsa de Valores, sistema financeiro e grandes corporações, mas ele não é mais referência à economia real, serve apenas para conhecer os maiores e melhores. As 84 empresas que compõem o “índice” estão vendo sua participação no PIB diminuindo gradativamente.  O mercado está sendo tomado por empresas menores, que não estão listadas na bolsa, são fintechs, agrotechs, energytech, healthtechs, foodtechs, retailtechs e outras que estão abocanhando uma boa fatia do mercado. Algumas delas serão unicórnios, em breve.

Além disso, a Bolsa não vive o dia a dia da economia, tem seu humor de acordo com expectativas futuras, a espera do que pode acontecer. A atuação das techs impacta a economia e algumas empresas terão fortes perdas, precisando se ajustar para sobreviver.

As gigantes do varejo e do e-commerce têm agilidade e recursos para pivotar rapidamente. São empresas capitalizadas, com acesso a financiamento barato, produtos com grande participação no seu setor e jogam de mão no mercado. E o sistema bancário tem caixa para fusões e aquisições.

Por isso os números expressivos nos balanços, enquanto a economia patina ou anda de lado.

As pessoas comuns sofrem o drama da falta de política educacional, econômica e inflação.

Por isso a importância das políticas de inclusão colocadas em prática no início do século XXI. Os millenials foram à escola e ao mercado dispostos a serem a diferença.

A minha torcida é que o governo pare de atrapalhar a sociedade, a educação e o mercado ou em breve teremos um vácuo de empreendedorismo, inovação e pesquisa por falta de cérebros.