Cincopes

on 08 junho 2022

PLANEJAMENTO - CADÊ O REGENTE?

 Diante da polêmica levantada pelo documento de Elon Musk sobre home office e trabalho presencial, lembrei de minha infância.

Recentemente, voltei à Santa Cruz do Sul para festejar os 55 anos de criação do Canarinhos do Colégio do São Luís, coral formado, em 1967, por jovens entre 9 e 15 anos. Sou um dos pioneiros e fiz parte do grupo por cinco anos.

 
Nossos shows tinham um setlist de 18 a 21 canções, mas o repertório completo tinha mais de 50.

O Coral era famoso com apresentações em diversos estados e no exterior. Em 1970, representamos o Rio Grande do Sul no programa Alô, Brasil, Aquele Abraço, da TV Globo, no Rio de Janeiro. Dividimos o estúdio com Tim Maia, Vanderléa, Maria Bethânia, Wanderlei Cardoso e outros astros da época.

Mas o que minhas lembranças têm a contribuir com o debate?

Minha reflexão se deve à uma lembrança imotivada de uma conversa nos bastidores do Salão de Atos da UFRGS durante um Festival Nacional de Coros que participamos, no final dos anos 60 e início dos anos 70. Após nossa apresentação, estávamos ao lado do placo, numa algazarra comedida, quando ouvi uma senhora de outro coral fazer a pergunta que me voltou à mente nessa semana.

- Quem é o regente do coral?

Seu espanto era porque os Canarinhos, mesmo tendo arranjo musical para três vozes, solistas e coreografia, era o único coral, infantil ou adulto, em que o regente não ficava à sua frente. Durante as apresentações, o então Irmão Carmo era um discreto músico, no órgão eletrônico ou na gaita, ao fundo, junto com o conjunto.

Pode parecer pouco, mas mais de 30 jovens abriam mão da presença do regente ostensivo, porque cada um sabia exatamente o que fazer e o Carmão tinha convicção de suas escolhas, total confiança na competência de cada um e na qualidade do seu trabalho como regente em cada ensaio diário de cerca de uma hora.

Modéstia à parte, deixamos de competir em festivais, éramos hors-concours em muitos deles.

Se trinta moleques conseguem cantar músicas diversas, do rock ao pop, passando pelo tradicionalismo, samba e MPB, em seis idiomas, sem desafinar e sem um regente a lhes indicar o tom e o ritmo, porque adultos com vida, experiência, formação, responsabilidade, conhecimento e propósito claro não podem trabalhar sem alguém estar olhando por sobre seus ombros?

Alguém não sabe o seu papel ou não sabe contratar. Ou é um Elon Musk criando onda ou querendo “causar”.

Fica a dica!

 

Obs. Lembrando que home office é você trabalhar pra quem, onde e quando quiser. Se você trabalha em sua casa ou onde quiser, mas para uma empresa, tem jornada, escala, disponibilidade, email corporativo, grupo de whats etc, isso é teletrabalho, regulamentado por lei. A empresa deve fornecer o equipamento, internet, conforto, telefone, encargos, benefícios etc. Fora disso, é tentativa de burlar a legislação.