Diante da polêmica levantada pelo documento de Elon Musk sobre home office e trabalho presencial, lembrei de minha infância.
Recentemente,
voltei à Santa Cruz do Sul para festejar os 55 anos de criação do Canarinhos do
Colégio do São Luís, coral formado, em 1967, por jovens entre 9 e 15 anos. Sou
um dos pioneiros e fiz parte do grupo por cinco anos.
O
Coral era famoso com apresentações em diversos estados e no exterior. Em 1970,
representamos o Rio Grande do Sul no programa Alô, Brasil, Aquele Abraço, da TV
Globo, no Rio de Janeiro. Dividimos o estúdio com Tim Maia, Vanderléa, Maria
Bethânia, Wanderlei Cardoso e outros astros da época.
Mas
o que minhas lembranças têm a contribuir com o debate?
Minha
reflexão se deve à uma lembrança imotivada de uma conversa nos bastidores do
Salão de Atos da UFRGS durante um Festival Nacional de Coros que participamos,
no final dos anos 60 e início dos anos 70. Após nossa apresentação, estávamos
ao lado do placo, numa algazarra comedida, quando ouvi uma senhora de outro
coral fazer a pergunta que me voltou à mente nessa semana.
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Quem é o regente do coral?
Seu
espanto era porque os Canarinhos, mesmo tendo arranjo musical para três vozes,
solistas e coreografia, era o único coral, infantil ou adulto, em que o regente
não ficava à sua frente. Durante as apresentações, o então Irmão Carmo era um
discreto músico, no órgão eletrônico ou na gaita, ao fundo, junto com o
conjunto.
Pode
parecer pouco, mas mais de 30 jovens abriam mão da presença do regente
ostensivo, porque cada um sabia exatamente o que fazer e o Carmão tinha
convicção de suas escolhas, total confiança na competência de cada um e na
qualidade do seu trabalho como regente em cada ensaio diário de cerca de uma
hora.
Modéstia
à parte, deixamos de competir em festivais, éramos hors-concours em muitos deles.
Se
trinta moleques conseguem cantar músicas diversas, do rock ao pop, passando
pelo tradicionalismo, samba e MPB, em seis idiomas, sem desafinar e sem um
regente a lhes indicar o tom e o ritmo, porque adultos com vida, experiência,
formação, responsabilidade, conhecimento e propósito claro não podem trabalhar
sem alguém estar olhando por sobre seus ombros?
Alguém
não sabe o seu papel ou não sabe contratar. Ou é um Elon Musk criando onda ou
querendo “causar”.
Fica
a dica!
Obs. Lembrando que home office é você trabalhar pra quem, onde e quando quiser. Se você trabalha em sua casa ou onde quiser, mas para uma empresa, tem jornada, escala, disponibilidade, email corporativo, grupo de whats etc, isso é teletrabalho, regulamentado por lei. A empresa deve fornecer o equipamento, internet, conforto, telefone, encargos, benefícios etc. Fora disso, é tentativa de burlar a legislação.
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