“Daria tudo que sei pela metade do que ignoro”, René Descartes
Quem
consegue definir o que é velho?
Idade?
Capacidade? Desempenho? Mentalidade? Utilidade? Usabilidade? Atualidade?
Nos
anos 90, quando comecei o voluntariado numa instituição que reciclava vidas de
mulheres e jovens através do trabalho de seleção de resíduos sólidos, aprendi
que não existe lixo. Tudo tem uma utilidade, as coisas só estão fora do lugar.
É assim o mundo hoje, muitas vezes, a turma da idade+ está fora do lugar.
Quando
vejo empresas ditas modernas focarem somente em jovens, imagino a bagagem que
devem ter para abrir mão da sabedoria,
experiência, conhecimento e competências
gerenciais dos 40+, 50+, 60+, aqueles que trouxeram o mundo e muitas empresas
até aqui.
É
um valor ou falta de valor da empresa? É uma posição pessoal ou gerencial?
Vão
dizer que falo em causa própria, mas os fatos corroboram meu pensamento. A
geração 60+ movimentou em 2021, R$ 1,6
trilhão, de acordo com dados do IBGE.
Idade não
nos define e idadismo não se
justifica. Uma força de trabalho e de consumo com esse poder deve conhecer
alguma coisa e tem muita experiência para transmitir.
Durante
a pandemia, participei de muitos grupos e emprestei minhas competências para
empresas que sofreram forte impacto pela falta de experiência de executivos na
gestão de crises. E também com executivos experientes e vividos, mas sem
intimidade com tecnologia para realinhar seus negócios. Os experientes têm mais
humildade para reconhecer seus limites
e aprendem muito mais rápido, talvez
porque a arrogância se foi com os anos vividos e saibam que têm pouco tempo
para aprender e aplicar a solução. Acabei criando uma espécie de mentoria reversa, com jovens e
veteranos se ajudando na equidade geracional
(tema que merece atenção na hora de
montar squads e times).
Empresas
que se dizem startups, tecnológicas, modernas que abrem mão da experiência já
nascem mortas, velhas e trilharão um caminho tortuoso, dolorido e oneroso para
alcançar o sucesso. Farão 4 anos em 10, com idas e vindas, realinhamentos,
pivotando, alto turnover, sobressaltos no caixa e andando no fio da navalha
permanentemente. A conhecida técnica “tentativa e erro”.
São
executivos que dispendem energia, altamente influenciáveis por “técnicos” e
“técnicas” as quais desconhecem e fascinados por ferramentas “salvadoras”.
Recusam o olhar externo, vivem sua própria miopia e o problema sempre está nos
outros, na equipe, no mercado, na concorrência, na crise, no mundo. Trabalham
24 horas focados, não vivem, não entendem o mundo e por consequência, não
entendem seu negócio.
Suas
empresas terão o tamanho dos seus pequenos sonhos e não o extraordinário
potencial e tamanho que o mercado permite e quer. Mesmo grandes, serão pequenas
demais para despertar o apetite de investidores e definharão ou sucumbirão.
Espero
que os dados que mostram que aumentou em quase 60% a caça aos 50+ alerte em tempo muitos empreendedores e gestores
da geração que conhece o mundo pela tela do celular, tira fotos na vertical,
mirando apenas um ponto e desprezando o grande horizonte à sua frente. Talvez
esteja na hora de saberem o que é visão
periférica, objetivo secundário
e visão de futuro.
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