Cincopes

on 27 julho 2022

PLANEJAMENTO - GERAÇÃO PRATEADA

“Daria tudo que sei pela metade do que ignoro”, René Descartes


Quem consegue definir o que é velho?

Idade? Capacidade? Desempenho? Mentalidade? Utilidade? Usabilidade? Atualidade?

Nos anos 90, quando comecei o voluntariado numa instituição que reciclava vidas de mulheres e jovens através do trabalho de seleção de resíduos sólidos, aprendi que não existe lixo. Tudo tem uma utilidade, as coisas só estão fora do lugar.

É assim o mundo hoje, muitas vezes, a turma da idade+ está fora do lugar.

Quando vejo empresas ditas modernas focarem somente em jovens, imagino a bagagem que devem ter para abrir mão da sabedoria, experiência, conhecimento e competências gerenciais dos 40+, 50+, 60+, aqueles que trouxeram o mundo e muitas empresas até aqui.

É um valor ou falta de valor da empresa? É uma posição pessoal ou gerencial?

Vão dizer que falo em causa própria, mas os fatos corroboram meu pensamento. A geração 60+ movimentou em 2021, R$ 1,6 trilhão, de acordo com dados do IBGE.

Idade não nos define e idadismo não se justifica. Uma força de trabalho e de consumo com esse poder deve conhecer alguma coisa e tem muita experiência para transmitir.

Durante a pandemia, participei de muitos grupos e emprestei minhas competências para empresas que sofreram forte impacto pela falta de experiência de executivos na gestão de crises. E também com executivos experientes e vividos, mas sem intimidade com tecnologia para realinhar seus negócios. Os experientes têm mais humildade para reconhecer seus limites e aprendem muito mais rápido, talvez porque a arrogância se foi com os anos vividos e saibam que têm pouco tempo para aprender e aplicar a solução. Acabei criando uma espécie de mentoria reversa, com jovens e veteranos se ajudando na equidade geracional (tema que merece atenção na hora de montar squads e times).

Empresas que se dizem startups, tecnológicas, modernas que abrem mão da experiência já nascem mortas, velhas e trilharão um caminho tortuoso, dolorido e oneroso para alcançar o sucesso. Farão 4 anos em 10, com idas e vindas, realinhamentos, pivotando, alto turnover, sobressaltos no caixa e andando no fio da navalha permanentemente. A conhecida técnica “tentativa e erro”.

São executivos que dispendem energia, altamente influenciáveis por “técnicos” e “técnicas” as quais desconhecem e fascinados por ferramentas “salvadoras”. Recusam o olhar externo, vivem sua própria miopia e o problema sempre está nos outros, na equipe, no mercado, na concorrência, na crise, no mundo. Trabalham 24 horas focados, não vivem, não entendem o mundo e por consequência, não entendem seu negócio.

Suas empresas terão o tamanho dos seus pequenos sonhos e não o extraordinário potencial e tamanho que o mercado permite e quer. Mesmo grandes, serão pequenas demais para despertar o apetite de investidores e definharão ou sucumbirão.

Espero que os dados que mostram que aumentou em quase 60% a caça aos 50+ alerte em tempo muitos empreendedores e gestores da geração que conhece o mundo pela tela do celular, tira fotos na vertical, mirando apenas um ponto e desprezando o grande horizonte à sua frente. Talvez esteja na hora de saberem o que é visão periférica, objetivo secundário e visão de futuro.