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on 21 março 2016

PROSA - Nós, Terroristas

NÓS, TERRORISTAS
Pelo mundo inteiro as pessoas defendem sua fé. Defendem com palavras, com atitudes e até há aqueles que lutam com uso da violência, ira e insanidade.
Cada vez que veem a violência desmedida e insana do Estado Islâmico (EI), do Boko Haram ou de qualquer outro grupo radical, as pessoas correm para o computador e despejam uma verborragia contra a loucura, a fé cega, a desumanidade e a violência.
Dois posts depois, vemos essas mesmas pessoas retomando a verborragia contra a violência urbana e clamando pela pena de morte. Bradam sem a menor cerimônia que “bandido bom é bandido morto”. Mães gritam que “esses pivetes não tem solução e merecem um tiro na cara”. As mesmas pessoas que publicam com carinho fotos de animais compartilham com palavras de júbilo vídeos com cenas de execução. Defendem políticos toscos e irracionais, mas pedem a estigmatização de pessoas por sua ideologia. Conseguem ver a beleza de um por do sol, mas exibem corpos mutilados como obra de arte. Publicam vídeos de crianças sorrindo, brincando ou dançando e cenas de agressão como se fosse uma catarse coletiva.
O que leva essas pessoas a terem esse tipo de comportamento paradoxal?
Quando difundimos o ódio em nossa time line, quando propagamos mentiras, quando ofendemos pessoas e a humanidade demonstramos nosso instinto animal, porque o ódio precisa apenas disso.
Mas onde está o amor? Longe dessas pessoas, longe da civilidade, longe do amor pelo país.
Vejo apenas arrogância, inveja, ódio, racismo, preconceito e uma falta de educação e humanidade.
Cadê a razão?                                                                                         
Também passa longe, basta ver os comentários sobre qualquer notícia nos portais. Tudo acaba em manifestações de ódio e incompreensão.
Surgem pseudos filósofos e historiadores usando adjetivos e palavrões para ofender pessoas, deturpar a história e conseguir arrastar jovens e incautos como seguidores.
O ministro Celso de Melo, decano do STF, argumenta que a justiça existe para proteger o condenado da sanha da sociedade. Sem ela, seríamos um EI. Tomando o Brasil como exemplo, vejo como ele tem razão.
O problema do Brasil não se resolve mais com educação. O problema do Brasil só será resolvido no divã.

* Leia o artigo do jurista Lênio Streck e você vai entender o risco que corremos com a prática do direito consequencialista.