Cincopes

on 17 outubro 2022

POLÍTICA - PESQUISAS, FÉ E ORÇAMENTO SECRETO

Cientistas têm perguntas. Teólogos, respostas. Políticos, dinheiro. Nós, as dúvidas.

Trabalho em campanha eleitoral desde 1986, participando de campanhas de vereador a presidente. Muita coisa mudou, mas um dos grandes gargalos de qualquer eleição, o esforço derradeiro, a última esperança é a boca de urna.

No voto proporcional, cerca de 35% do eleitorado chega às urnas sem o voto decidido.

No voto majoritário, o percentual é um pouco menor, cerca de 15% não tem decisão convicta.

Os "boqueiros" têm uma importância decisiva ao convencer ou persuadir os indecisos e aqueles que estão dispostos a anular ou votar em branco a escolher o seu candidato.

Os partidos organizados em setoriais (negro, juventude, mulher, saúde e outros), geralmente de esquerda ou centro-esquerda, sempre tiveram grande vantagem na boca de urna, por sua capilaridade, representatividade, capacidade de mobilização, discurso e estrutura.

Os partidos conservadores, sem vínculo formal com a sociedade, dependem da máquina e do dinheiro, além do personalismo e populismo de seus candidatos.

Nesse ano, o orçamento secreto está fazendo a grande diferença, junto com as vigílias montadas no dia da eleição nos templos neopentecostais. O medo, forte ingrediente da doutrinação neopentecostal, tem um poder motivador e de esperança diante das dificuldades que as classes C, D e E vêm enfrentando com a inflação e desemprego.

Em uma campanha com o voto tão cristalizado pelo antagonismo entre os candidatos, como a que estamos vivendo, somente uma vantagem de mais de 10% pode garantir alguma segurança a quem está na frente nas pesquisas.

Os institutos de pesquisa precisam incluir em seus questionários, questões que permitam entender quando, como e porque o eleitor virou ou decidiu seu voto.

Não tenho provas, mas forte convicção (alô, Moro!) que o salto de bolsonaro no primeiro turno se deve muito a isso.

Vamos ver se ele tem capacidade e recursos (nosso dinheiro) para repetir no segundo turno e vencer. Claro que o cenário é outro.

No primeiro turno, o esforço era apenas forçar o segundo. Agora, o desafio é maior, pois só a vitória interessa.