Cincopes

on 09 fevereiro 2023

PROSA - ACERTAR O PASSO

Hierarquia e disciplina em risco

A estrutura militar precisa ser reavaliada e recuperada.

Desde que o Alto Comando ostensivamente inseriu a política na caserna, em 2014, a hierarquia e a disciplina vêm ladeira abaixo. Em 2016, se meteu no impeachment e o conflito interno só aumentou. No governo passado, os movimentos internos se confrontaram com a tentativa de tomada da Força pelo capitão, surgiu um Alto Comando paralelo da reserva, o que levou a demissões e movimentações de oficiais generais e superiores.

A militarização do governo criou correntes internas, algumas irreconciliáveis. Tem legalistas, intervencionistas, constitucionalistas, golpistas, carreiristas, oportunistas e bolsonaristas. Rabos de turma, preteridos, inconformados e milicos viram na política sua tábua de salvação e viraram candidatos usando farda, nome de guerra, posto e graduação, afrontando a legislação e os regulamentos militares sem ação enérgica do comando. De quatro estrelas ao praça, todos se manifestam, ofendem, articulam e pregam. Se o exemplo não vier de cima, o militar vai mexer em forma sabendo que não sofrerá as consequências.

A conivência e a omissão com os golpistas e os acampados é o ápice desse processo. O ministro da Defesa e os novos comandantes terão um duro trabalho pela frente, não só reestruturando a Força, mas punindo os desvios e enquadrando a ativa e a reserva.

Os vídeos de veteranos militares queimando fardas, ofendendo superiores, destratando comandantes, agredindo autoridades e desrespeitando a Constituição são tristes exemplos de como foi deletéria para a Força as turmas formadas pelos oficiais que fizeram o golpe de 64.

É hora de colocar a tropa em forma, dar um cobre e alinha e acertar o passo ou estaremos programando novas rebeldias para explodirem daqui a 20 ou 30 anos protagonizadas pelas turmas formadas a partir de 2014.

Até entendo a manifestação ostensiva e dura de Lula quanto as FFAA como político, mas foi extremamente dura como Comandante em Chefe. Uma instituição hermética e corporativista, toma para a instituição qualquer agressão, mesmo sabendo eles que ombreiam com alguns aproveitadores.

Lula, máxima de gestão de pessoas: elogie em público e repreenda no privado.

É hora de acabar com essa paranoia de comunismo, esquerdismo porque o exército marcha com ambas: esquerda, direita, esquerda, direita, bumbo no pé direito, esquerda, direita, esquerda, direita…

Será uma operação lenta, silenciosa e discreta, mas inadiável e necessária para que tenhamos menos milicos e mais militares numa instituição coesa e preparada, que deixe de ser usada por aproveitadores como ameaça à sociedade e à democracia.

Em alguns anos, civis e militares poderão olhar em frente e juntos falar:

- Missão cumprida!