Em 1998, fiz um curso sobre gestão em que um dos professores era um japonês, consultor de uma entidade similar ao Sebrae, no Japão.
Ele surpreendeu a plateia com uma visão de futuro de longo prazo (30 anos), onde via um Brasil marcando passo no seu desenvolvimento e mínimos avanços na desigualdade social, se não mudasse sua política industrial. Ele mostrou com números, que a capacidade industrial brasileira e o mercado de serviços estavam dimensionados para atender apenas 15% da população. A estrutura não disponibiliza produtos duráveis ou com valor agregado de qualquer linha a grande parte da população porque o mercado desenhou um sistema que não sobrevive sem oligopólio. E o cenário se repete no setor de serviços.
A chamada
"inflação de demanda", na verdade é uma política de mercado para ter
altos lucros com mercado cativo. Na época, eu não tinha percepção clara,
vivíamos embalados pelo sucesso do Plano Real e achei que o tempo derrubaria a
tese do japonês.
Hoje, quase
30 anos depois, vejo a mesma ladainha “não podemos crescer, porque o sistema
não aguenta”, mas é hora de darmos um basta e criarmos uma política que inclua
mais brasileiros. Vivemos o maior Nível de Utilização de Capacidade Instalada
da Indústria (NUCI) , 83,7% em 14 anos e o cenário é de incerteza. Não pode
aumentar salário porque se a população for às comprar, o mercado não consegue
atender.
Analisando o
cenário, se com um nível de quase 84% temos esse problema, devemos supor que
nem com 100% o drama se resolve. Mesmo com renda, o brasileiro está proibido de
consumir.
A renda média
cresceu, mas ainda é baixa pelo arrocho salarial histórico. Por mais que um ou
outro governo invista no crescimento da renda e na recomposição salarial, há
muito a recuperar. Basta ver a cesta básica mínima que serviu de parâmetro para
o primeiro salário-mínimo da história e comparar com a de hoje e o valor do
salário atual.
O tempo tem
mostrado que o Brasil aguenta um PIB anual em torno de 3%, como 2023 e 2024. Em
2025, a previsão deve se repetir e “surpreender” o mercado. E vamos continuar
sobrevivendo.
No cenário
macroeconômico, estamos razoavelmente estáveis. A relação dívida-PIB está
estável, a inflação tem tendência de queda, as reservas estão altas, os juros
não têm espaço para crescer, a massa salarial e o salário médio crescem, o
número de estudantes no ensino superior aumenta e cada vez mais novos
consumidores entram no mercado.
Nosso
problema está na microeconomia e na política.
Apesar das
manchetes sobre polarização, ela não existe, porque o debate não é ideológico.
O radicalismo e o fisiologismo são os responsáveis pela paralisia do país. Nada
se faz sem passar no caixa. Nossos políticos se comprometem com o poder para
conseguir recursos para fazer promessas ao eleitor. Eleitos, se dobram a quem
financia sua eleição e atende seus interesses.
E a esses não
interessa participar com sua parte no esforço para reformas estruturais, basta
ver a farra na definição de isenções e alíquotas do IVA.
Às favas, o
eleitor e o país!
O Brasil
precisa que a elite e os políticos não se incomodem em dividir o país com o
restante da população.
A solução do
problema é cidadania, respeito ao outro e pensar em soluções estruturantes e de
longo prazo. O problema não é de esquerda, direita, ideologia ou filosofia, é
estrutural onde o dinheiro tem comprado o poder e aliciado governos.
Vendemos o
almoço pra pagar a janta, Só que todo mundo vende e na hora de chamar à mesa,
poucos jantam.
Se não voltarmos a fazer política como função social e democrática, seremos um país sem futuro, à mercê de aventureiros, oportunistas e apátridas.
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