O mundo se tornou um grande palco onde a teoria de Sigmund Freud, sobre a tendência de vivermos em conflito com quem se parece conosco, se mostra real.
O NARCISISMO DAS
PEQUENAS DIFERENÇAS é um conceito sobre nossa sensibilidade de conflito com
aqueles que temos semelhança social.
No Brasil, quanto mais lutamos para diminuir a desigualdade, mais as pessoas se assemelham e mais se atacam. O pobre vira classe média, acha que venceu por mérito próprio e se coloca num lugar em que outro não o possa alcançar. Renega a sociedade e o esforço que ela faz para inclusão dele e de outros. E as vítimas são os grupos de amigos, colegas de trabalho e até dentro das famílias, para satisfação de quem incentiva a radicalização.
Este sentimento
é presente no preconceito com os nordestinos ou mesmo dentro do mesmo estado
como o Rio Grande do Sul com o preconceito racial, a paixão política ou
clubística, o gaúcho urbano (cola-fina) e o rural (centauro) ou entre os
moradores da metade sul e os da metade norte.
O narcisismo cega
a humanidade, numa luta alimentada pelo mercado e por falsos mitos. Você é
único, a individualidade é esmagada pelo individual e elimina a
importância da coletividade.
Os discursos
ridicularizantes, o recalque e os comentários maldosos e humilhantes servem
mais para entendermos sobre quem os profere do que a quem eles são
dirigidos.
Freud observou que
os culpados ou responsáveis pelas diferenças e que estão em classe
social distante ou são muito diferentes estão imunes ao preconceito de
classe, religião, ideologia, paixão esportiva, nível cultural ou padrão
estético, gatilhos que alimentam controvérsias triviais e disparam processos
psicológicos como a crueldade, mesquinharia, preconceito, inveja, podendo
chegar à polarização e à violência.
Muitas vezes, o
sentido de pertencimento e identidade validam a atitude. Defender como capitais
valores religiosos, políticos ou clubísticos daqueles que podem deturpar sua
profissão de fé em dogmas, mentiras ou pós-verdade, reforça sua posição
dentro do grupo ao seu lado na mesma trincheira. E forja compromissos, muitas
vezes sutis, com o poder que o domina sem necessidade de verdade,
só de percepção de verdade. “Eu sei o meu lugar”, “sempre foi assim”, são
exemplos comuns de dominação ideológica e social.
A inveja torna seu
igual uma ameaça potencial. “Como ele não tem a mesma percepção que
eu?”, “como ele conseguiu antes de mim?” são questões fora do seu
alcance cognitivo. Muitas vezes, também é um desejo reprimido. Agredir
e matar o outro é uma forma de matar o próprio desejo reprimido. Ou inveja da coragem do outro em ser ele mesmo.
Essas situações se
espalham pela história e na sociedade, presentes em guerras, filosofias, arte,
política, psicanálise e religiões com dissidências radicais não pelo
essencial, mas pelo detalhe.
A identidade
social está na diferença e o afasta do poder com a hierarquização.
Ela cria uma relativa estabilidade social que pode ser ameaçada pelo
risco que a mobilidade social pode representar ao status quo.
A internet
potencializou os combates e o semelhante-alvo não precisa estar fisicamente
na mesma aldeia.
Compreender o narcisismo das pequenas diferenças promove a empatia, fortalece a
tolerância, reduz o impacto dos conflitos triviais, impõe a harmonia e promove
a união.
É hora do homem se repensar
como ser humano, desenvolver novos tipos de afeto e gratidão, melhorar
sua capacidade de dar e receber e ousar amar e ser amado.
Afaste-se do
espelho!
Tenho esperança, porque me recuso a validar a estupidez humana.
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