Cedo aprendi
a diferença entre compromisso e responsabilidade.
Na
pré-adolescência, me envolvi em atividades
diversas na escola, teatro, futebol, coral, basquete, sem abdicar de brincar.
Em nenhum momento me senti pressionado, sempre cumpri a agenda com prazer e envolvimento. Claro que a idade facilita a recuperação de energia, adaptação quase imediata a novos ambientes e no aprendizado inconsciente quanto as regras de cada lugar. Com exceção dos estudos, foi importante poder viver isso, sem a cobrança de excelência ou cumprimento de metas por meus pais. Hoje, vejo que o propósito era a ampliação de horizontes e a socialização.
Aos nove anos,
entrei no coral Canarinhos do São Luiz, de Santa Cruz do Sul e só saí aos
catorze. Uma época rica de vivências e experiências, esfuziante, alegre e cheia
de descobertas. Lembro da emoção de cada viagem, do frio na barriga antes de
entrar no palco, dos cuidados com a voz, da recompensa dos aplausos, da euforia
com o disco recém lançado, do uniforme novo ou quando o saudoso irmão Carmo,
regente, depois de muito ensaio, aprovava a música nova para ser incluída no
repertório.
Eu estudava
pela manhã, tinha ensaio às seis da tarde e corria para o ginásio do Clube Corínthians
de Santa Cruz, às 19h, onde jogava basquete na categoria infanto.
O treinador
era um uruguaio que nos tratava com rigor profissional. Treinávamos de terça à
sexta e jogávamos amistosos e o campeonato estadual nos sábados ou domingos.
Então, meu
final de semana era show e basquete, muitas vezes com viagens. Domingo sem
jogo, era missa das dez, seguido de bate papo na praça e ainda sobrava tempo
para as reuniões dançantes na casa de alguém ou no clube Aliança, no final de
tarde.
Mesmo com
tudo isso, tínhamos tempo para jogar futebol no campinho inclinado atrás do
cemitério. Um tempo lomba acima, virava e jogava lomba abaixo. E ainda
brincávamos de esconder no cemitério, à noite.
Os estudos
entravam na esteira com naturalidade e nunca repeti de ano.
O que tem a
ver minhas reminiscências com gosto de mês das crianças com este artigo?
Tudo!
Hoje, como
gestor, noto como é importante fazer as pessoas entenderem a diferença entre
compromisso e responsabilidade.
O compromisso
é comprado pelo salário, mas a responsabilidade é que leva à produtividade.
O compromisso
é seguir a burocracia, chegar na hora, cumprir prazos, preencher as planilhas,
atender mecanicamente o cliente.
A
responsabilidade é estar envolvido com os valores e a missão da empresa, ser
proativo, participativo e buscar sempre o aprimoramento pessoal e do sistema de
trabalho.
O compromisso
é tácito, contratual, mas a responsabilidade tem que ser incentivada pelo
gestor. Promover a participação, ter um bom ambiente de trabalho, criar
ferramentas de análise e gestão de pessoas, ser mentor de sua equipe e
reconhecer o esforço e o desempenho individual são tarefas que o bom líder tem
que estar preparado para desempenhar. Ser apenas o chefe não fará você ter um
time, apenas funcionários loucos que chegue a hora de ir embora.
Aquele jovem
multitarefas aprendeu naturalmente sobre compromisso e responsabilidade, e
coloco em prática há longos anos para gerir pessoas, liderar equipes e cumprir
metas. Nem sempre é fácil, mas qualificação e empatia são primordiais.
Busco na
memória e vendo onde deixei marcas e os impactos que causei, acho que tive
sucesso.
E valeu, porque em todos os momentos fui feliz.
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