Cincopes

on 22 novembro 2022

POLÍTICA - E AGORA, JAIR?

“É difícil libertar um tolo das amarras que ele venera", Voltaire

O presidente está em silêncio desde a derrota. Ninguém consegue imaginar o que ele está pensando ou tramando.

Tem que recuperar o ego. É o primeiro presidente que não consegue se reeleger, mesmo sendo o ocupante do cargo que mais usou e abusou do dinheiro e da máquina pública na história.

Está no PL, mas por quanto tempo manterão a fidelidade?

O capitão é personalista, egocêntrico, sem fé, sem ideologia e instável emocionalmente, já perambulou por mais de dez partidos em sua trajetória política.

O PL é um partido confiável? Valdemar da Costa Neto é de confiança? Sua bancada é fisiológica e em breve o afastamento dos cofres públicos vai doer. Quantos permanecerão fiéis ao capitão? Quanto tempo o PL resistirá longe do Centrão e do caixa?

Um político sem discurso organizado, sem estrutura partidária coesa e sem palanque precisa criar sua própria realidade para arregimentar militância. É o caso do capitão.

Com todo o poder, espaço e recursos como presidente da República, por quatro anos tentou, inutilmente, fundar um partido para chamar de seu. Conseguirá sem poder e sem recursos? Seu único discurso é propagar o medo de fantasmas.

Outra pedra no sapato são os processos contra ele e seus filhos que estão parados na PGR. E outros iniciarão assim que o TCU e o novo governo assumirem e tiverem o acesso aos dados políticos, administrativos e econômicos verdadeiros. A PF e a PGR serão desaparelhadas para que os processos andem. Quantos processos serão abertos? E os sigilos guardam o quê?

Além disso, outros personagens vão surgir para tentar catalisar o discurso da direita, com muito mais cacife e traquejo político que o capitão.

Romeu Zema, governador reeleito de Minas Gerais, pode dar um salto nacional e não morre de amores pelo capitão. É a chance do Novo ter protagonismo numa campanha eleitoral.

Tarcísio de Freitas terá São Paulo e os capitães da indústria brasileira na mão e só se agarrou ao capitão pra demarcar sua diferença para Haddad. Eleito, até onde irá sua fidelidade?

Simone Tebet também está no jogo. Vai se manter fiel à Lula pelo reconhecimento que ele dedicou a ela. Pode dominar o MDB e isolar a ala fisiológica e bolsonarista com o apoio do novo governo.

Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, pode voltar a ter arroubos nacionais e unir MDB e PSDB. Tem discurso, mas lhe falta uma assessoria que ajude a desenhar essa trajetória.

Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito, tem a grande chance de finalmente ser presidente. Se mostra um grande subcomandante, leal e com competência política, podendo cair nas graças de Lula para ser ungido ao posto de seu sucessor. Resta ao PT entender que Lula não foi escada para o partido voltar ao poder, mas foi o artífice de uma grande frente ampla para a retomada política e econômica do país com paz social.

A exceção de Alckmin, os outros tê, menos de 60 anos e podem criar uma sinergia política e eleitoral de médio prazo para construir um caminho que una o centro e a direita.

A bancada bolsonarista raiz será isolada pelos seus companheiros de Congresso. Terão dificuldades para iniciativas políticas, pouco acesso a recursos e serão discriminados nas comissões. Teremos vários “bolsonaros” perdidos no plenário, histriônicos, fanfarrões, presunçosos, petulantes e arrogantes, um time de bufões exibicionistas em busca das lentes.

Quatro anos é um longo tempo, mas muito curto para quem tem somente discurso.

Foi uma campanha com os últimos espécimes de uma geração ideológica. A marca do século XXI na sociedade, na economia e nos negócios vai chegar à política. Vem aí a geração da cooperação.