Cincopes

on 16 novembro 2022

PROSA - DOIS BRASIS QUE SE APROXIMAM

“Um idiota nunca aproveita a oportunidade. Na verdade, o idiota é a oportunidade que os outros aproveitam”, Millôr Fernandes

A definição objetiva de política é a arte de atender sonhos incontáveis, diversos e difusos de uma população, com recursos financeiros e físicos limitados gerados por essa população.

O resultado da eleição aumentou os discursos discriminatórios, racistas e preconceituosos de brasileiros em relação a brasileiros com um falso dilema entre o sul e o norte.

O choque e a disputa são naturais nessa disputa de espaços e recursos e as mudanças pelas quais passamos precisam do amadurecimento das relações humanas, conscientização política e empatia para construir uma sociedade justa.

Não sou expert em dados demográficos e econômicos, mas a observação do crescimento da importância do nordeste na economia, dá a noção do “perigo” temido por alguns.

Desde 2002, a diferença nos índices de Saúde, PIB, IDH, IDS e Educação vêm caindo entre os estados brasileiros. O nordeste se tornou polo industrial com montadoras, alimentos, têxtil, energia, calçados, refinarias, estaleiros e siderúrgicas. O número de carteiras assinadas passou de 2,5 milhões (2002), para 13,3 milhões (2011). A pandemia e a crise brasileira afetaram seriamente a região derrubando para 9 milhões (2019), mas em recuperação. É a segunda colocada na geração de empregos, criando acima do dobro de vagas do que a região sul, terceira colocada.

Sua participação no PIB nacional passou de 12,7% (2004) para 14,4% (2020). Parece pouco, mas seu PIB cresceu 165% no período (R$ 191 bi à R$ 507 bi), e as exportações saltaram de U$ 4,6 bi (2000) para U$ 21 bi (2021), graças ao aumento de produtos com valor agregado na pauta de exportações. Mesmo com a pandemia e a crise na gestão nacional, tem o maior crescimento percentual em 20 anos.

É a maior produtora de feijão, segunda produtora de frutas e produz 10% da soja brasileira.

Tem 28% da população e 13% do PIB nacional, com crescimento médio de 3,2%/ano. O Índice de Desenvolvimento Social passou de 1,9 (1970) para 6,83 (2010). O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) passou de 0,513 (2000) para 0,659 (2020).

A mortalidade infantil caiu de 27/1000 (2000) para 15/1000 (2017) e o percentual de Sobrevivência Infantil é de 96,3/100.

É a segunda região no total de matrículas no ensino superior, com 1,8 milhões de estudantes, e o maior percentual sobre o total de habitantes. EAD e presencial representam 21% da educação superior do país: 22,7% nos cursos presenciais e 18,2% no EAD, o menor percentual do país. No sul, o EAD responde por mais de 30% das matrículas.

A diáspora nordestina refluiu, se refletindo no aumento da densidade demográfica sem aumento do número de nascimentos. É o nordestino voltando para casa.

São apenas números esparsos (com o censo, teremos dados mais atualizados), mas falei de saúde, educação e economia, base para o desenvolvimento econômico e social. Os dados são para a região, mas há estados nordestinos com índices superiores aos da região sul e sudeste.

O perfil do retirante nordestino que vinha para o sul com a família e ocupava as periferias das cidades, mudou para jovens qualificados ou profissionais com emprego garantido.

Ainda há muitos problemas em relação ao saneamento, educação, saúde e alta concentração de renda em alguns locais, mas são problemas que a própria conscientização e organização da sociedade encontrará solução pela única via possível, a política.

Os dois brasis que conhecíamos se aproximam e trocaram de perfil. Antes, o nordeste era arcaico, coronelista e o sul moderno. Hoje, o nordeste se modernizou, avançou e o sul volta às suas raízes conservadoras, arcaicas, egocêntricas, na contramão do mundo.

Não fale do que desconhece ou é preconceito, inveja e frustração.

O Brasil é muito maior do que nosso quintalzinho.

Brasileiros, acima de tudo! Deus em todos nós!