Cincopes

on 22 junho 2023

PROSA - CLASSE MÉDIA

                                “A massa sustenta a marca, a marca sustenta a mídia,
                                        a mídia manipula a massa”, George Orwell

RENDA: produto, receita, faturamento, arrecadação, dividendos, féria, ganho, juro, lucro, mesada, pensão, proventos, rédito, rendimento, usura

SALÁRIO: ordenado, comissão, embolso, emolumento, estipêndio, féria, honorários, paga, pagamento, proventos, remuneração, retribuição, soldo

Renda e salário não são sinônimos. É preciso entender isso para tentar equalizar a desigualdade social e a redistribuição de riqueza no país. Começa pelo Imposto de Renda que não é realmente sobre renda, mas sobre salários e, parcialmente sobre patrimônio. E os impostos sobre consumo são altos para itens fundamentais e básicos, enquanto artigos de luxo ou supérfluos tem alíquotas pequenas ou são isentos.

A falta de esclarecimento e a propaganda dão às pessoas comuns a impressão de poder apenas por ter um aparato tecnológico caro, consumir além do limite de sua capacidade, acesso ao crédito e bens de grifes globais.

No Brasil, esse comportamento criou um problema de conscientização cidadã que levará muito tempo a ser equalizado.

A propaganda faz do ato de consumir não apenas suprir uma necessidade, mas de melhora momentânea sem a devida mobilidade social.

Em sociologia, a classe média sempre foi vista como fator de equilíbrio, modernização e liberalismo por ser foco de mobilidade social. O furor da extrema direita, dos políticos e regimes autocráticos a estão transformando em risco à democracia.

No Brasil, a divisão entre classe trabalhadora e classe média dificulta uma ação organizada e coletiva em prol do social e justo. Qualquer movimento em prol das minorias ou desassistidos se transforma em risco à classe média que é, mas não se entende como trabalhadora.

Segundo o IBGE, a escada de classe média inicia com renda a partir de R$ 1.500 (D), R$ 2.500 (C), R$ 8.600 (B) e R$13.400 (A). O Instituto considera classe alta com renda a partir de 20 salários mínimos e há um longo caminho até alcançar a classe rica.

A classe média brasileira entende sua posição social pelo consumo e não pela renda e isso a faz se comportar como se estivesse mais próximo dos ricos do que dos pobres, uma falsa impressão que provoca preconceito econômico, cultural e até racial. Ela está a cerca de R$ 6 mil dos pobres e a alguns milhões dos ricos.

São valores de acordo com a realidade brasileira, mas longe de outros países, inclusive de alguns que compartilham da mesma realidade econômica no sul Global, onde a OCDE considera classe média a partir de R$ 10 mil.

Essa visão difusa leva próximo à realidade a percepção de que a classe média brasileira se sente mais segura quando o engenheiro vira motorista de aplicativo do que quando o filho do porteiro vira médico. Uma visão alardeada pelo mercado que transformou a terceirização baseada em MEI e trabalhadores de aplicativos em empreendedores.

Hoje, o crescimento do PIB vai para poucas pessoas e precisamos mudar com urgência essa realidade. Se a distribuição de renda não for compartilhada entre todos os cidadãos e se mantiver a concentração de renda, o PIB pode crescer o quanto quiser que nada vai mudar.

O mais grave, vai piorar, e o afastamento social pode criar um esgarçamento social que levará à uma possível ruptura social.