Cincopes

on 19 fevereiro 2025

POLÍTICA - BENEFÍCIOS, ISENÇÕES E SUBSÍDIOS

Um dos temas que precisam ser discutidos com seriedade é a necessidade de uma reforma tributária profunda, e a base da discussão é qual a vantagem para o país e a população dos benefícios sociais, isenções fiscais e subsídios tributários.

Trabalho há muitos anos com o público e o privado e tenho uma visão genérica e experiência razoável sobre o assunto.

Os benefícios sociais têm o grande mérito de dar liberdade ao sujeito para definir o destino do dinheiro e, invariavelmente, ele volta ao mercado e alimenta uma rede comunitária e econômica saudável. É fake que o cidadão se sujeita a receber eternamente benefícios, uma visão de quem jamais entrou numa comunidade popular ou periferia. O carente não quer que seus filhos herdem sua realidade e lutam para que eles o superem. Ao contrário do pai rico, filho pobre, a mobilidade social das classes C, D e E é o sonho de cada um fazendo a riqueza deste país. Ali está a renda que gira e gera riqueza.

As isenções e subsídios, infelizmente, não têm o mesmo destino. O montante recebido, muito raramente, volta ao mercado ou beneficia o consumidor. Com raras exceções, apenas aumenta o lucro das empresas.

Sou contra isenções da forma que são feitas hoje, e acho que os financiamentos ao setor produtivo devem ter regulações rígidas e fiscalização crítica. Nos países desenvolvidos, há pesados subsídios ao setor primário, por exemplo, mas a exportação só pode ser feita com excedente de produção ou o povo pagará duas vezes, para produzir e para comprar.

Aliás, um parêntese. Um dos grandes problemas de nosso país é a fiscalização. Não sou contra as privatizações, mas acho que elas só servem para redirecionar recursos para o privado, sem contrapartida para o público, porque as agências de regulação são tomadas pelos interesses das corporações e segmentos econômicos e financeiros com lobbie$ poderosos. Quando tivermos agências realmente reguladoras, públicas e o lobby regulamentado, as privatizações serão fomentadoras de progresso. Essa realidade também cabe a concessão de benefícios sociais. Fecha o parêntese.

Benefícios sociais como bolsa-família e pé-de-meia resolvem problemas emergenciais e reais do dia a dia do cidadão. Ninguém tem ideia do que é viver na periferia, cuidar de filhos, trabalhar, depender de transporte urbano e lutar pela subsistência diária num país sem saneamento, inseguro, desigual e preconceituoso. E por não conhecerem a realidade, acham que as pessoas recebem o dinheiro e querem ficar no mesmo lugar. Quem diz isso, não suportaria cinco minutos vivendo nas condições em que estão milhões de brasileiros. O cara que gasta R$ 100 num happy hour, não imagina o que é esse valor para um sobrevivente.

Política é a arte de entender as necessidades das pessoas e gerar soluções capazes de atingir os objetivos, respeitando os interesses dos outros.

Se não entende de pessoas, falta empatia, sobra preconceito e é religioso ao invés de ter fé, não é político. É apenas um aproveitador.

Numa sociedade individualista e competitiva, é uma tolice achar que quem tem está preocupado com aquele que não tem.

O espírito cooperativo luta para superar esse obstáculo, mas não será na minha geração e de meus filhos que isso acontecerá. Talvez, na de meus netos ou bisnetos.