Cincopes

on 18 maio 2025

PROSA - HUMAN REBORN

Os modismos beiram a insanidade.

O caso dos bebês e o surgimento de clínicas de parto reborn em Santa Catarina, alertam para um problema de saúde mental que vem se agravando em todo o mundo nos últimos tempos, principalmente por adesão ou fuga aos extremismos. Seja na oração ao pneu, comunicação com alienígenas ou medo do comunismo, no Brasil, o radicalismo abriu as portas do hospício. Políticos, pastores, coachs e influencers, surfam na onda ganhando muito dinheiro.

Um dos donos da “clínica”, é separado, paga pensão para o filho reborn e diz que foi com ele que descobriu o amor. Vai entender!

Não sou psicólogo ou psiquiatra, mas meu rapport diz que essa necessidade de transferir afeto de pets às bonecas, incluindo toys e robôs, se deve ao medo de assumir responsabilidades das conexões humana com seus naturais conflitos.

Sempre houve “reborn” na vida das pessoas, só que de outras maneiras e com outros nomes.

Lembro das histórias de um amigo sobre seu relacionamento com Deise, uma diva loira voluptuosa.

Em dia de jogo do seu time, pegava a parceira e ia assistir o jogo no motel.

Adorava ouvir os comentários do Ruy Carlos Ostermann. Dizia que após ouvir o colega e professor podia discutir com qualquer um sobre o jogo sem ter ouvido ou assistido. Ruy comentava com lirismo e verdade, dizia ele.

A preliminar do jogo era entre lençóis e, se o Grêmio vencesse, tinha banho de hidro depois. Em caso de derrota, colocava a amiga no porta-malas e ia para o bar do Capacete esbravejar e beber.

O problema era a emoção ou a fúria do meu amigo durante o jogo. Fumante inveterado, eventualmente, queimava a parceira.

Sua salvação era um borracheiro no bairro Azenha que primava pela discrição e fazia um trabalho digno de um cirurgião, com cicatrizes quase invisíveis.

Nunca vou esquecer do dia que me enviou por e-mail a matéria de um jornal japonês sobre a empresa Ningen Love Dolls que faz funerais para bonecas sexuais antes de enviá-las para reciclagem. A Human Love Dolls, fabricante de bonecas de amor ou sexuais (eu não sabia que tinha diferença!), vende seus produtos com vários planos funerários opcionais, alguns com direito a memorial. A Ningen faz cerimoniais semelhantes de despedida para pets e robôs domésticos. Os cerimonias são realizados em santuários e templos que acreditam que com a convivência, pets, robôs domésticos e bonecas sexuais, adquirem alma.

Ele chegou a desenhar um business plan para reproduzir a ideia em Porto Alegre e me garantiu que tinha mercado. Começou a listar nomes e descobri que havia até uma comunidade para trocar ideias e impressões.

Infelizmente, não resistiu ao covid e nem sei o destino de sua parceira, mas imagino o que faria ao ler as noticias das “loucuras” reborn.

Daria uma grande tragada em seu cigarro de filtro amarelo, ergueria a cabeça, soltaria vários anéis de fumaça, ergueria seu copo com Trigo Velho e, entre risos, diria:

-   Sabe nada, inocentes!

Acho que precisamos voltar às origens e renascer como seres humanos porque não é normal a transferência e o medo de expressar e assumir sentimentos.