O capital assumiu ostensivamente seu papel na política. Antes discreto e sorrateiro, elege e define acintosamente como os governantes devem pôr em prática os projetos por ele definidos.
Financiando um extremismo radical, aponta como se fossem culpa de outros os problemas que ele mesmo dá causa no mundo. Concentração de renda, desigualdade social, oligopólios internacionais, transações monetárias sem controle ou regulação, monopólio de dados, concentração do comércio de alimentos, financiamento do crime, alinhamento com produtores de energia, concentração monetária e dívidas nas mãos de poucos bancos, trades do comércio internacional sob controle de poucos grupos e financiamento de guerras e do crime alimentando o comércio de armas para delírio dos fabricantes de mortes no mundo inteiro.
Na
maior democracia do planeta, a estabilidade e a liberdade estão em risco
crescente, desde que a Suprema Corte inaugurou a era do Dark Money (dinheiro
obscuro), em 2010.
Sem
contar fundos, doações e apoios em dinheiro ou recursos, somente em gastos
eleitorais, foram mais de U$ 2 bilhões, em 2024. Como é um dinheiro
irrastreável, esse montante deve ser bem inferior ao realmente gasto, conforme
o Brennan Center e a Open Secrets, instituições que monitoram o peso do
dinheiro na democracia.
A
liberação para doações de empresas e sindicatos a partidos e candidatos, criou
os PACs (Comitês de Ação Política), escritórios que arrecadam recursos
ilimitados sem identificar sua origem, doadores ou destinação. São estruturas
permanentes não só para fins eleitorais, atuam sob qualquer tema, de campanhas de
xerifes às presidenciais. A esperteza fez PACs criarem spin offs que
recebem recursos de outros PACs direcionados à campanhas específicas como
indicações à Suprema Corte, incentivo a atos executivos, tramitação de leis,
eleições de juízes, promotores, conselhos e códigos municipais. Essa
diversidade de aplicações, espalhou e dificulta ainda mais o rastreio do
dinheiro.
Diferente
do Brasil, onde os políticos querem ministérios e cargos para acesso aos
recursos, nos EUA, usam recursos e doações para conquistar cargos de seu
interesse como Howard Lutnick (secretário do comércio) ou Linda McMahon
(secretária de educação), presidente do AAF (Action American First) um dos
maiores PACs pró-republicanos e do AFPI (Instituto de Políticas America First),
think tank ultraconservador e responsável pela perseguição às universidades,
exclusão de literatura “perigosa” e outras políticas culturais e educacionais
discutíveis.
A
ação da Polícia Federal e Ministério Público, na última semana, mostrou que
esse processo está copiado no Brasil com CNPJ encobrindo CNPJ, IPs encobrindo
CPFs e tudo financiando o crime e políticos. Por uma questão de justiça, o
modelo não foi criado pelo PCC, como algunss imaginam. O crime organizado
aderiu a uma prática recorrente de seus financiadores, via caixa dois ou financiamento
direto. O dinheiro de sonegação e desvios precisa ser rentabilizado e a melhor
maneira é o submundo que paga boas taxas.
No
Brasil, mesmo com o financiamento público, o poder dos lobbies é público, poderoso
e ilegal, seja em campanhas eleitorais ou tramitações legislativas. Se é
interesse dos financiadores, há uma mobilização rápida do Congresso. Se o
recurso vai para áreas em que eles não têm controle, dê-lhe pressão contrária.
Se o dinheiro é pra eles, é financiamento, se é para os outros, é gasto.
Este
discurso influencia o pensamento médio daqueles que não acompanham os fatos e
só leem as manchetes, se informam em redes sociais ou têm ponto de vista
conclusivo para qualquer assunto, graças ao seu MBA na faculdade do zap.
No
Brasil, especula-se que apenas R$1,00 de cada R$6,00 investidos em campanha são
declarados, graças ao caixa dois, subfaturamento, terceirização de ações, doações
via antecipação de recursos em contratos públicos, depósitos em contas de
paraísos fiscais, campanhas e profissionais pagos por empresas ou sindicatos e
pagamentos feitos diretamente pelos partidos.
Assim como o orçamento
secreto, a falta de transparência nos gastos dos partidos e dos candidatos é
uma ferramenta que solapa a credibilidade do sistema e abala a confiança na
política, tudo o que os extremistas querem.
A sociedade deve se
mobilizar para moralizar o sistema de doações e financiamento de campanhas,
porque nem os parlamentares e nem seus financiadores querem transparência.
Pra quem se interessar, o documentário
The Dark Money Game (2025), na HBO Max, e o livro Dark Money: The Hidden
History of the Billionaires Behind the Rise of the Radical Right (2016), de
Jane Mayer (Dinheiro Obscuro: a História Oculta dos Bilionários por trás do Crescimento
da Extrema-Direita), mostram como bilionários estão sequestrando a democracia,
dando ao dinheiro mais poder do que à sociedade.
Infelizmente, apesar de
quase 10 anos de sua publicação, nenhuma editora se interessou na tradução da
obra para o português. Talvez, com as ações contra a Faria Lima, PCC e a CPMI
do INSS chame a atenção para um assunto que assombra a institucionalidade, a
defesa e a soberania nacional.
Eleições são manipuladas
para empoderar o parlamento, eleger laranjas e afastar o interesse público do
orçamento.
Um cidadão, um voto, virou fantasia.
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