Cincopes

on 25 setembro 2025

PROSA - ANISTIA E ANISTIA

Vou falar um pouco sobre anistia, porque incautos, ou nem tanto, questionam a posição contrária ao projeto daqueles beneficiados por ela, em 1979.

Não há comparação!

Primeiro, a anistia proposta pela ditadura visava a não punição dos golpistas, torturadores e assassinos de 1964 e, para isso, foi necessário colocar os "subversivos" na mesma bacia. A ditadura estava sob pressão internacional e, sem anistia, TODOS os golpistas poderiam responder em Cortes Internacionais pelo crime de golpe de estado e contra a humanidade pelas torturas, execuções sumárias e assassinatos. A malandragem dos “crimes conexos” incluído no texto os colocou a salvo. A manobra foi tão vergonhosa que, para não identificar para a história o voto do parlamentar, foi aprovada por votação simbólica, mesmo a Arena tendo maioria no Congresso.

Dias depois de alcançar o objetivo de salvar seus companheiros e subordinados, o presidente da República de plantão, partilhando da vergonha, mandou os tribunais militares revisarem processos e libertou presos não atingidos pela lei. Golbery, mentor político do regime, desde 1961, ciente de que a anistia criaria uma oposição avassaladora, aboliu o bipartidarismo, extinguindo a Arena e o MDB, o que dividiu a oposição. Adiou a queda, mas não salvou o regime.

Segundo, a subversão é um tipo de luta legitimada pelo reconhecimento internacional que prevê e protege a resistência contra um regime ilegítimo, como era o caso do Brasil. O terror e a violência devem ser punidos, mas não a opinião, ideologia ou mobilização. Muitos foram torturados e mortos por pensarem!

Num mundo dividido pela Guerra Fria, o movimento contracultura iniciado nos EUA e Reino Unido, se dividiu e vários países enfrentaram lutas de resistência e até terrorismo.

Uma ala criou o movimento underground da geração “faça amor, não faça a guerra” e “paz e amor”, indo do hippie ao anarquismo, usando comportamento, drogas, música, arte e cultura para confrontar o conservadorismo. Foi importante nos EUA na luta pelos direitos civis e pelo fim da guerra no Vietnam.

A outra optou pela luta armada e, às vezes, ao terrorismo. Dividida em vertentes ideológicas da extrema-direita à extrema-esquerda, se espalhou por vários países. IRA, na Inglaterra, Baader Meinof, na Alemanha, Brigadas Vermelhas, na Itália, ETA, na Espanha, Grupo Charles Martel, na França, FP-25, em Portugal, Panteras Negras, nos EUA e outros, mas nenhuma democracia virou ditadura para combater as diferentes visões ideológicas.

No Brasil e em outros países da América Latina, uma sociedade elitista e patrimonialista financiou políticos fisiológicos-corruptos, mobilizou militares carreiristas-golpistas e, juntos, quebraram a institucionalidade implantando ditaduras violentas. Enquanto os militares faziam o trabalho sujo, eles reorganizaram a sociedade e o mercado de acordo com seus interesses baseado na corrupção e montagem de oligopólios, para concentrar o poder.

Terceiro, os golpistas de hoje, tentaram derrubar um governo legal e legitimamente eleito, além de atentarem contra a democracia. E seguem conspirando abertamente contra o país. Além de golpistas, são traidores da Pátria. Criaram o paradoxo de anistiar quem ainda não foi punido e aqueles que continuam cometendo crimes.

A mania do Brasil em perdoar sempre, faz vivermos em sobressaltos com os golpistas anistiados de ontem ameaçando o presente e o futuro.

Foram os anistiados de 1979 que tentaram um golpe em 2022, tentando repetir 1964, num país governado pelos anistiados de 1979.

Em nome da paz e da democracia, anistia não pode perdoar crimes e nem proteger criminosos.