Vou falar um pouco sobre anistia, porque incautos, ou
nem tanto, questionam a posição contrária ao projeto daqueles beneficiados
por ela, em 1979.
Não há comparação!
Primeiro, a anistia proposta pela ditadura visava a
não punição dos golpistas, torturadores e assassinos de 1964 e, para isso, foi necessário
colocar os "subversivos" na mesma bacia. A ditadura estava sob
pressão internacional e, sem anistia, TODOS os golpistas poderiam responder em
Cortes Internacionais pelo crime de golpe de estado e contra a humanidade pelas
torturas, execuções sumárias e assassinatos. A malandragem dos “crimes conexos”
incluído no texto os colocou a salvo. A manobra foi tão vergonhosa que, para
não identificar para a história o voto do parlamentar, foi aprovada por votação
simbólica, mesmo a Arena tendo maioria no Congresso.
Dias depois de alcançar o
objetivo de salvar seus companheiros e subordinados, o presidente da República de
plantão, partilhando da vergonha, mandou os tribunais militares revisarem
processos e libertou presos não atingidos pela lei. Golbery, mentor político do
regime, desde 1961, ciente de que a anistia criaria uma oposição avassaladora, aboliu
o bipartidarismo, extinguindo a Arena e o MDB, o que dividiu a oposição. Adiou
a queda, mas não salvou o regime.
Segundo, a subversão é um tipo de luta legitimada
pelo reconhecimento internacional que prevê e protege a resistência contra um
regime ilegítimo, como era o caso do Brasil. O terror e a violência devem ser
punidos, mas não a opinião, ideologia ou mobilização. Muitos foram torturados e
mortos por pensarem!
Num mundo dividido pela Guerra
Fria, o movimento contracultura iniciado nos EUA e Reino Unido, se dividiu e vários
países enfrentaram lutas de resistência e até terrorismo.
Uma ala criou o movimento
underground da geração “faça amor, não faça a guerra” e “paz e amor”, indo do
hippie ao anarquismo, usando comportamento, drogas, música, arte e cultura para
confrontar o conservadorismo. Foi importante nos EUA na luta pelos direitos
civis e pelo fim da guerra no Vietnam.
A outra optou pela luta armada e,
às vezes, ao terrorismo. Dividida em vertentes ideológicas da extrema-direita à
extrema-esquerda, se espalhou por vários países. IRA, na Inglaterra, Baader
Meinof, na Alemanha, Brigadas Vermelhas, na Itália, ETA, na Espanha, Grupo
Charles Martel, na França, FP-25, em Portugal, Panteras Negras, nos EUA e
outros, mas nenhuma democracia virou ditadura para combater as diferentes
visões ideológicas.
No Brasil e em outros países da América
Latina, uma sociedade elitista e patrimonialista financiou políticos
fisiológicos-corruptos, mobilizou militares carreiristas-golpistas e, juntos, quebraram
a institucionalidade implantando ditaduras violentas. Enquanto os militares
faziam o trabalho sujo, eles reorganizaram a sociedade e o mercado de acordo
com seus interesses baseado na corrupção e montagem de oligopólios, para concentrar
o poder.
Terceiro, os golpistas de hoje, tentaram derrubar um
governo legal e legitimamente eleito, além de atentarem
contra a democracia. E seguem conspirando abertamente contra o país.
Além de golpistas, são traidores da Pátria. Criaram o paradoxo de anistiar quem
ainda não foi punido e aqueles que continuam cometendo crimes.
A mania do Brasil em perdoar
sempre, faz vivermos em sobressaltos com os golpistas anistiados de ontem
ameaçando o presente e o futuro.
Foram os anistiados de 1979 que
tentaram um golpe em 2022, tentando repetir 1964, num país governado pelos anistiados
de 1979.
Em nome da paz e da democracia, anistia não pode perdoar crimes e nem proteger criminosos.
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