Cincopes

on 09 novembro 2025

PROSA - SEMÂNTICA E REALIDADE

O povo carioca está feliz!

Depois da exitosa operação na Penha, o tráfico sumiu, a droga desapareceu, a sensação de segurança voltou e a polícia prendeu os chefes.

Sem o tráfico, menores e adolescentes voltaram às escolas e conseguiram empregos, as mães nem lembram mais do sangue nas calçadas, não ouvem os gritos dos estupros ou o som dos tiros cortando o silêncio da noite.

A polícia avaliou a operação, vai treinar mais para evitar repetir erros, as famílias daqueles que tombaram em serviço estão amparadas, prenderam quem vazou a operação e todos os que recolhiam o “arrego” foram presos e demitidos do serviço público.

Os fabricantes, mercadores e importadores de armas foram presos, as fábricas fechadas, os estoques nos grandes condomínios da zona nobre foram descobertos e a fiscalização nos aeroportos e portos da região finalmente funcionam.

O Estado está presente e atuante e o sobrenome da Penha agora é paz.

Só que não!

A elite carioca e o resto do país, distantes dos fatos, acham tolerável assistir ao vivo os combates urbanos em zona densamente povoada, corpos empilhados e gritos de mães desesperadas, mas se exasperam ao ouvir a palavra massacre ou matança.

Há mais de 50 anos, desde que Nixon resolveu iniciar uma guerra às drogas para seus concidadãos esquecerem a fragorosa derrota no Vietnam, que o modelo é o mesmo.
O que mudou?

Surgiram barões do tráfico, carteis, quadrilhas internacionais e o lobby das armas prosperou. O consumo só aumentou e não houve um milímetro de recuo em direção a solução do problema.

Essa semana, passou no Canal Brasil um documentário sobre a violência e o crime nas comunidades cariocas e um miliciano disse o que eu pensei quando vi a ação da polícia.
“Há um acordo tácito entre polícia e milícias. Eles invadem e amaciam e a gente vem e toma conta”, disse ele.

No Rio de Janeiro está assim, o crime se associa ao estado para dominar comunidades. E o modelo se espalha com políticos defendendo abertamente criminosos e os financiadores do crime. A tal liga da paz dos governadores é isso. O PCC entrou nesses governos e usa o poder do estado para enfrentar o Comando Vermelho. Basta acompanhar os noticiários e ver sua presença nos tribunais, assembleias, secretarias e câmaras municipais, pessoalmente ou através de prepostos.

O crime perdeu a vergonha e acabou com os intermediários. Criminosos se apresentam como candidatos e tomam congresso, tribunais, assembleias, prefeituras, câmaras e templos na lavagem de dinheiro, doutrinação e domínio de territórios.

A falta de fiscalização e liberalidade regulatória legada pelo governo anterior permitiu que chegassem aos negócios, dividindo espaço e câmaras setoriais com empresários e banqueiros.

Para diferenciar um empresário ou banqueiro milionário dessa caterva, basta perguntar se aceita pagar um pouco de imposto e verão a diferença.

A imprensa, sedenta por manchetes, ajuda o povo a ficar mais preocupado com semântica do que com a realidade.

Os termos “matança” e “massacre” usados por Lula doeram tanto porque tocaram consciências.