SOBRE PINTADOS E PRETOS
Não
sou muito de falar sobre fatos pontuais, mas o clamor com a morte da onça
pintada no Centro de Instrução de Guerra na Selva do Exército, em Manaus,
levantou alguns pontos sobre preconceito, meio ambiente, ignorância e inversão
de valores.
A
morte de Juma, uma onça pintada macho, mascote do 1º BIS – Batalhão de
Infantaria de Selva, foi uma fatalidade. Tento imaginar a dor do militar que
efetuou o disparo, pois o animal, assim como as outras onças, fazia parte da
tropa, é símbolo do guerreiro de selva e da defesa da Amazônia.
Criticar
por expor o animal ao stress em participar da cerimônia de passagem da Tocha
Olímpica, é desconhecer que um mascote é um animal com convívio permanente com
o ser humano, participa de desfiles na rua e dentro da organização, além de
formaturas militares que não são breves.
É
não reconhecer que se não fosse o resgate e o trabalho do CIGS, sua chance de
sobrevivência na selva seria zero.
Muitas
questões devem ser respondidas no caso como (1) houve falha na
condução do animal, (2) porque ele estava sem
focinheira; (3) porque dois dardos não foram suficientes para
acalmá-lo; (4) porque não havia uma rede de captura; (5) o
animal apresentava anteriormente algum problema de comportamento e não foi
detectado: (6) alguém deu ordem para atirar; (7) foi
precipitação do militar; (8) foi um EV assustado que reagiu indevidamente...
Enfim, várias questões que a investigação vai esclarecer sobre o cumprimento
das Normas Gerais de Ação para o caso e, por conhecer o atual comandante do
CMA, general Miotto, tenho certeza que a investigação será rigorosa,
transparente e a punição, justa.
O
trabalho realizado pelo Exército na Amazônia não tem o reconhecimento devido,
muito por estar fora dos grandes centros, não ter interesse econômico para a
mídia e, também, um pouco pelo próprio hermetismo do Exército.
O
CIGS é um estabelecimento de ensino e sua finalidade principal é capacitar
militares das Forças Armadas para o combate na selva.
Além
dessa face mais conhecida, também capacita tripulantes de aviação comercial,
forças auxiliares, pesquisadores, estudantes e trabalhadores de empresas com obras
na região.
Faz
parte do complexo um zoológico que recebeu diversos prêmios internacionais (10º
melhor do Brasil e o 14º da América Latina) na categoria zoológicos e aquários.
Recebe mais de 200 mil visitantes ao ano e é o segundo ponto turístico mais visitado
em Manaus. São mais de 200 animais resgatados na selva, protegidos contra a
extinção ou recuperados no combate ao contrabando animal e biopirataria. Os
animais não vivem em jaulas, mas em amplos espaços que reproduzem seu habitat
natural.
Tem
a Oca do Conhecimento com diversas atividades interativas que nos mostram a
diversidade da flora e da fauna amazônica, fazendo a alegria de estudantes,
jovens e adultos que buscam conhecer um pouco mais do nosso país.
Tem
um laboratório completo para pesquisa medicinal fitoterápica e biodinâmica com
vários trabalhos na área de medicamentos, aproveitando o potencial da flora da
região, principalmente usando o conhecimento da população indígena e local.
Sedia o NAPIBEx - Núcleo Avançado de
Pesquisas do Instituto de Biologia do Exército que mantem convênio
com várias instituições como a Fiocruz - Fundação Osvaldo Cruz e o INPA –
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia para pesquisa de doenças tropicais,
sendo todos os resultados compartilhados com a sociedade.
Em
suma, é bem estruturado com departamentos importantes para a defesa,
preservação e desenvolvimento sustentável da região e cumpre finalidade
militar, ambiental, turística, pesquisa, educativa e lúdica.
Diante
de toda essa estrutura, é justo entender o ocorrido como uma grande fatalidade
e tenho certeza que o CMA e todo o Exército estão de luto.
A
minha continência e luto à onça.
Ao
militar que disparou e os responsáveis, que suas punições sejam justas.
Alguns
aproveitaram para fazer campanha contra os jogos olímpicos, mas sinto dizer que
tudo vai dar certo, porque não merecemos mais essa vergonha. Que os ladrões
sejam punidos, que os corruptos respondam por seus atos, que o país passe o
mais rápido possível por essa turbulência e que, apesar dos pesares, façamos um
belo papel dentro e fora da arena esportiva. Só os maus brasileiros torcem por
uma tragédia.
E
para falar de inversão de valores, a morte de Juma virou top trends na
internet e todo mundo tem uma opinião, mas a liberdade dos quatro policiais que
mataram cinco adolescentes desarmados com 111 tiros no Rio de Janeiro não
mereceu nem nota de rodapé.
Eu
entendo, afinal os jovens não eram pintados, eram apenas pretos.
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