Cincopes

on 13 abril 2021

PROSA - 2021, ANO DA MAIORIDADE

Ao chegar o ano 21, alcançamos a maioridade do século 21.

2020 foi um ano de provas, testes para a humanidade. E parece que o ser humano não entendeu o que estava e está acontecendo.

Nos fechamos em nós mesmos e demos uma banana para a realidade.

O discurso de ódio prosperou, o preconceito mostrou sua cara, o negacionismo mostrou força, o reacionarismo mostrou vitalidade e o passado voltou a assombrar nossos dias.

O politicamente correto é considerado incorreto.

A consciência sobre inclusão, igualdade, fraternidade, meio ambiente, sexualidade, cultura urbana, sociedade, família, solidão coletiva é vista como uma ameaça ao conservadorismo político/religioso retrógrado e patrimonialista.

Há a contestação permanente da democracia, o cerco às instituições e o questionamento aos processos que a fazem viva, estável e vigorosa.

Enquanto o home office está fazendo as empresas mais democráticas e modernas, o confinamento criou na sociedade guetos ideológicos com gurus de whats app e astrólogos tentando direcionar o mundo. Surgiram experts em qualquer assunto, moderadores que não permitem o contraditório e difusores pagos do pensamento “lógico” para a manada.

Contestar a pluralidade, monitorar a liberdade de imprensa, distorcer a liberdade de expressão e disputar com unhas e dentes o espaço com suas narrativas tortas, imprecisas e delirantes é o novo esporte nacional.

“Verdades” irrefutáveis como “bandido bom é bandido morto”, “é pobre porque não se esforça”, “armas para cidadãos de bem”, “escola sem partido”, “direitos humanos para os humanos direitos” e a pior delas, “deus acima de tudo” (nosso pr se considera deus) tentam embretar a sociedade, a ciência, o pensamento crítico e a organização social.

Taxem os livros! Liberdade às armas!

Em dois anos, o Brasil regrediu mais de 50 anos e, pelo esforço e tempo para corrigir rumos, já perdemos metade do século 21.

Será preciso um grande esforço coletivo para compor uma força anímica que limite a ação daqueles que querem destruir a democracia. Não me iludo, eles sempre existirão, mas expô-los à luz, contrapor e derrotar seu discurso irracional é uma necessidade imperiosa para que salvemos o país e a nação brasileira.

-Mãe, posso ir? Todo mundo vai!

- Tu não é todo mundo.

Quem já não foi personagem nesse diálogo?

Espero que a sociedade supere esse período adolescente rebelde, pare, pense e aja a tempo de nos reorganizar para tentar salvar o século 22.

O efeito manada já não cabe, não somos todo mundo.

Todo mundo somos nós.