Ao chegar o ano 21, alcançamos a maioridade do século 21.
2020 foi um ano de provas, testes para a humanidade. E parece que o ser
humano não entendeu o que estava e está acontecendo.
O discurso de ódio prosperou, o preconceito mostrou sua cara, o
negacionismo mostrou força, o reacionarismo mostrou vitalidade e o passado
voltou a assombrar nossos dias.
O politicamente correto é considerado incorreto.
A consciência sobre inclusão, igualdade, fraternidade, meio ambiente,
sexualidade, cultura urbana, sociedade, família, solidão coletiva é vista como
uma ameaça ao conservadorismo político/religioso retrógrado e patrimonialista.
Há a contestação permanente da democracia, o cerco às instituições e o
questionamento aos processos que a fazem viva, estável e vigorosa.
Enquanto o home office está fazendo as empresas mais democráticas e
modernas, o confinamento criou na sociedade guetos ideológicos com gurus de
whats app e astrólogos tentando direcionar o mundo. Surgiram experts em qualquer
assunto, moderadores que não permitem o contraditório e difusores pagos do
pensamento “lógico” para a manada.
Contestar a pluralidade, monitorar a liberdade de imprensa, distorcer a
liberdade de expressão e disputar com unhas e dentes o espaço com suas
narrativas tortas, imprecisas e delirantes é o novo esporte nacional.
“Verdades” irrefutáveis como “bandido bom é bandido morto”, “é pobre
porque não se esforça”, “armas para cidadãos de bem”, “escola sem partido”, “direitos
humanos para os humanos direitos” e a pior delas, “deus acima de tudo” (nosso
pr se considera deus) tentam embretar a sociedade, a ciência, o pensamento
crítico e a organização social.
Taxem os livros! Liberdade às armas!
Em dois anos, o Brasil regrediu mais de 50 anos e, pelo esforço e tempo
para corrigir rumos, já perdemos metade do século 21.
Será preciso um grande esforço coletivo para compor uma força anímica que
limite a ação daqueles que querem destruir a democracia. Não me iludo, eles
sempre existirão, mas expô-los à luz, contrapor e derrotar seu discurso
irracional é uma necessidade imperiosa para que salvemos o país e a nação
brasileira.
-Mãe, posso ir? Todo mundo vai!
- Tu não é todo mundo.
Quem já não foi personagem nesse diálogo?
Espero que a sociedade supere esse período adolescente rebelde, pare,
pense e aja a tempo de nos reorganizar para tentar salvar o século 22.
O efeito manada já não cabe, não somos todo mundo.
Todo mundo somos nós.
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