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on 06 abril 2021

PROSA - INDIVÍDUO INDIVIDUAL

“Não adianta dizer ‘nós estamos fazendo o nosso melhor’. Você deve ter sucesso fazendo o que é necessário”, Winston Churchill

Individuo é a unidade pessoal e única em uma comunidade ou grupo. Individual é tudo que o indivíduo carrega consigo e o faz ser único. Ele e suas idiossincrasias.

Desde o final dos anos 90, o mundo assiste a um aumento expressivo de indivíduos que optaram por morar sozinhos, mudando a imagem do ser social carente de companhia.

Os motivos dessa mudança vão desde desenvolvimento econômico, avanços sociais, cultura, urbanização, tecnologia, individualismo ou mesmo uma necessidade pessoal ou profissional.

Cidades foram invadidas por hordas de solteiros convictos e o mercado descobriu que esse segmento consome mais e melhor. Surgiram habitações mais funcionais, condomínios com maiores áreas de lazer e setor de serviços, alimentos em porções individuais, carros compactos, utilidades domésticas, tecnologia, e-commerce, delivery... tudo para atender esse novo consumidor.

É um estilo de vida em que as pessoas têm maior autonomia e liberdade, facilidade em participar de grupos de interesse. Na área do trabalho, se viram livres de amarras profissionais como o tradicional “vestir a camisa da empresa”.

Eles entenderam o espírito da frase de Churchill que encabeça esse texto. Nem sempre o melhor é o bastante. E nem sempre o necessário é o melhor.

Elas não querem se comprometer com sonhos que não sejam os seus.

Os negócios evoluíram passando por várias eras - transformação, produção, eficiência, qualidade, competitividade até chegar ao século XXI com a responsabilidade social. Nesse processo veio a automação, downsizing, reestruturações, terceirizações, downgrade, reengenharia, células ágeis, gestão de alta performance e outros modismos gerenciais, até as pessoas entenderem que elas constroem empresas, mas não são A empresa. Os empregos “para toda a vida” são realidade em nichos muito específicos, desaparecendo dia a dia.

As novas gerações são o calcanhar de Aquiles, um verdadeiro desafio às empresas, porque os jovens são individuaispersonalistasambiciosos e inquietos. Tem notável inteligência fluida, são horizontais e suas comunidades não têm fronteiras. Seus grupos não são geracionais, independentemente da idade, eles buscam conexões culturais, de propósitoresponsabilidade e comprometimento com causas.

Um desafio para executivos e área de recursos humanos que ainda esperam envolvimento e comprometimento com palestras motivacionais, discursos prontos sobre cultura, participação, responsabilidade e comprometimento. Isso pouco importa ao jovem do século XXI, ele está impaciente com o presente e ansioso pelo futuro.

Seu propósito, ao contrário das gerações anteriores, não é ter posses, bens, dinheiro. Ele quer ter uma vida e ser o seu chefe ou o seu concorrente amanhã, fazendo algo que valha a pena.

Seja na vida pessoal, social ou profissional, há o enfraquecimento de vínculos e relações, o comprometimento com instituições, empresas ou comunidades é frágil e temporário.

Depois de vivermos por milênios com a ideia do grupo, família, tribo, comunidades físicas, somos testemunhas de uma inflexão histórica.

A crise do Covid mostrou que podemos viver relativamente bem sem sair de casa e a capacidade de adaptação do ser humano, característica evolutiva, trará soluções para os problemas que temos nesse momento de transição.

A repulsa existencial e filosófica à solidão já não nos afeta como antes. A ideia de que isolamento é uma pena, um castigo, deixa de existir e as sociedades humanas tornarão a presença física não fundamental. Isso é assustador, mas verdadeiro.

As pessoas perderam o medo de viver sozinhas e veem a autonomia sobre suas vidas, a liberdade, o evoluir, pessoal e profissional, e a autorrealização como fatores fundamentais.

Seu capital social é usado em benefício da promoção de sua marca pessoal, vivem sozinhos, mas não estão sós.

Paradoxalmente, estão construindo uma sociedade em que os valores e conceitos serão mais democráticos e universais. Vem aí a consciência de grupo, não mais a pessoal.

O norte ético e moral de sua vida será ter um comprometimento com causas e viver a responsabilidade social. Só estarão satisfeitos se o seu redor também estiver bem.

Para quem parou no tempo, se acha o limite da evolução possível do homem, isso tudo é “mimimi”, mas lamento informar que é a nova realidade, o futuro batendo à nossa porta.

Assim como cremos ser melhores que as gerações passadas, eles são a nossa evolução.

Creio nesse novo ser humano e nesse novo mundo.