Cincopes

on 29 julho 2023

PROSA - FORÇA E FÉ, A INSEGURANÇA TERCEIRIZADA

A terceirização da segurança conspira contra a democracia.
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O motim do grupo Wagner na Rússia e a sua não punição deve servir de alerta à comunidade internacional.

Após a Segunda Guerra Mundial, os países sentiram necessidade de criar organismos internacionais e regras tentando limitar a barbárie humana em confrontos bélicos.

O genocídio, a perseguição religiosa, os guetos étnicos, os massacres tribais receberam severas penas e julgamentos dentro dos países e na Corte de Haia.

A Convenção de Genebra (1957) já proibia a contratação de mercenários e, em 1988, a proibição foi ratificada com a Convenção Internacional Contra o Recrutamento, Uso, Financiamento e Treinamento de Mercenários, mas EUA, Inglaterra, Rússia e outros países não a assinaram e a burlam contratando mercenários como Empresa Militar Privada (Private Military Company-CMP).

Os EUA usam a CIA e as Forças Armadas para contratar essas empresas, muitas vezes com recursos secretos ou que não podem ser rastreados. A CIA é mais autônoma do que o Exército norte-americano e ambos são tão poderosos que a lei proíbe que operem dentro do seu próprio país. O Exército é formado por sete Corpos de Exército, mas apenas o Terceiro Exército pode atuar dentro do país com anuência do Capitólio e do governador do estado onde eventualmente atuará, caso este entenda que a Guarda Nacional, sob seu comando, não possa resolver a situação. Um estudo de 2014 estimou que 31% da comunidade de inteligência norte americana era de empresas de segurança privadas e. provavelmente, aumentou nos últimos anos.

O Grupo Wagner é conhecido como o exército de Putin, porque seu comandante responde diretamente a ele, não como presidente, mas como pessoa física. O Wagner é uma criação de Putin que montou sua estrutura com veteranos, principalmente do Afeganistão, e bandidos das cadeias russas.

Na Rússia, além do Wagner, existe o Alpha; nos EUA, os mais conhecidos e atuantes são o Dyn Corp, Titan Corp e o Academi, novo nome da Blackwater, após o escândalo de Abu Ghraib; no Reino Unido, Aegis Defense; na África do Sul, o Executive Outcome; e outros menos conhecidos espalhados pelo mundo a serviço de corporações, governos e carteis do crime.

No Brasil, fundada pelo militar da reserva do Exército, Roberto Escoto (Gen Bda Vet), desde 2016, existe a Áquila International, atuando exclusivamente no exterior.

Não só norte-americanos e russos, mas Maduro, Ortega, Erdogan, Bashar al-Assad, Viktor Orban e outros autocratas e ditadores pelo mundo usam e outros tentam criar milícias ilegais para operar fora da lei.

No Brasil, as milícias vêm se organizando como força armada e sendo reunidas sob um único comando nos últimos anos, se espalhando pelo Brasil.

Diferente do tráfico de drogas dividido em facções, sua centralização administrativa e operacional tem como meta ser um poder armado paralelo e poderoso.

Iniciou como grupos de extermínio durante a ditadura, passando a fornecedora de segurança e serviços ilegais e piratas aos pequenos comerciantes e populações da periferia. Nos últimos anos, aumentou seu poder de fogo e iniciou sua expansão nacional com tráfico de armas e drogas, biopirataria, mineração, CACs, habitação, serviços e, cooptando ou se inserindo, nas esferas de poder legal. É hoje uma força com poder desconhecido, que teve seu poder de crescimento e estruturação diminuído após a última eleição.

Tenta quebrar a hegemonia das facções mais conhecidas do tráfico de drogas nos morros do Rio de Janeiro, criando a Facção Cristã (FC). Vive sobre a órbita do TCP (Terceiro Comando Puro) facção dissidente do extinto Terceiro Comando, surgido nas cadeias no final dos anos 70 e início dos anos 80. Seus membros perseguem casas e seguidores de religiões de matriz africana, comunidade LGBTQIAPN+ e outras minorias, além de pontos de cultura popular. É uma facção evangélica radical na defesa da família tradicional e dos bons costumes (sic). É o surgimento do narcopentecostalismo formado pela união de parte da Tropa de Arão e dos convertidos por pastores dentro das cadeias e presídios cariocas. O s Soldados de Salomão denominam a área sob seu controle de Complexo de Israel.

É preciso muita coalizão política e justiça atuante para barrar o crescimento e fortalecimento dessa força paralela.

O Brasil não é para amadores!