Cincopes

on 01 setembro 2023

PROSA - (IN) DEFESA DA NONRA

Há séculos se distorce o sentido de honra. Como pode ter honra a morte?

Talvez meu modo de defender a honra seja ultrapassado, mas sigo vivendo bem com meus valores e princípios.

Defendo minha honra quando mostro aos meus filhos e netos o valor do respeito, da luta contra o preconceito, da equidade entre gêneros, da defesa intransigente da democracia e do prazer de ser humano e solidário.

Defendo quando tento mostrar que não é possível ser justo e democrático apoiando causas paradoxais em seu sentido e prática.

Nem sempre tenho sucesso porque alguns insistem em negar suas próprias idiossincrasias.

Matar em defesa da honra é alegar defender o que não tem.

A morte que não seja no estrito direito a sua sobrevivência imediata é nojenta, degradante, covarde e criminosa.

A decisão do STF de proibir a alegação de “legítima defesa da honra” como justificativa ou atenuante para homicídios poderia ter sido derrubada há anos se o corpo de jurados não tivesse o pensamento médio de uma sociedade caricata, preconceituosa, patriarcal, machista, racista, patronal.

Sou jurado e nunca atuei em um caso que houvesse essa alegação, mas bastaria aos jurados responderem sempre NÃO ao questionamento do juiz.

E acho que nosso sistema de corpo de jurados deveria progredir para o modelo americano de deliberação entre os membros ao invés de apenas Sim ou Não. Nem sempre o mundo é preto ou branco.

O maior mentiroso, e um perigo para a sociedade, é aquele que professa fé em Deus e age contra o ser humano seja por sua etnia, gênero, classe, condição social, filosofia, ideologia, poder ou por apenas ser diferente de você.

Os últimos quatro anos nos mostraram que o inimigo estava escondido dentro de nossa família, no vizinho, no nosso círculo de amizades e à mesa ao lado no trabalho.

Na última eleição, conseguimos diminuir a marcha para o caos, mas a luta continua necessária e precisa de uma sociedade alerta.