A mística das palavras na manipulação das pessoas
O empreendedorismo de marketing está longe da realidade e não é solução. Empreendedorismo é uma palavra tão
mágica quanto mistificadora ao criar a ilusão
da prosperidade, nivelar todo mundo e decretar que “você é o culpado do seu insucesso”.
Há milhares de profissionais com experiência, pós-graduação, mestrado e
doutorado em busca de oportunidade. Portanto, não é falta de qualificação.
Há milhões de trabalhadores sem ou pouca qualificação que gastam seus últimos
trocados em passagens de ônibus buscando trabalho do amanhecer à noite. Não é
falta de vontade.
Há milhares de “empreendedores” que gastam seus parcos recursos e vendem
seus poucos bens para ser seu próprio patrão. Não é falta de espírito empreendedor.
“Basta querer” é tão mistificador quanto “empreendedorismo”, colocando o
peso do desemprego e do insucesso na conta do objeto do sistema e não no
sujeito.
O mercado não atende a necessidade das pessoas, segue sua regra de ouro, atender
demandas reais ou provocadas da
sociedade.
Subtrabalho, subemprego, falsa terceirização e trabalho informal viraram
empreendimento, quando na verdade são justificativas
para que empresas não cumpram obrigações trabalhistas e legais, o governo não
cumpra seu papel e a sociedade pague o custo
social dessa esperteza e omissão.
O “empreendedor” é uma peça no sistema e se não gera resultados, é
descartado sem que o sistema busque entender onde está a falha, na peça ou no
sistema? Nesse caso, o sistema não falha em sempre culpar a peça.
É a capitalização do lucro, individualização do fracasso e a socialização
do prejuízo encobrindo as falhas
sistêmicas.
Para empreender, o estado e a sociedade devem fornecer apoio, recursos,
qualificação, política de juros, carga tributária diferenciada, microcrédito e
oportunidade.
Nem sempre empreender é criar
uma empresa, um produto, uma solução. Ela está em fomentar uma política, propor
soluções ou disseminar uma ideia.
Como confessou de forma corajosa e vergonhosa o empresário australiano, Tim
Gurner, o sistema precisa que uma
parte da população ativa esteja permanentemente desempregada para ser controlada pelo medo e insegurança.
No jogo de mudar para continuar tudo como está, a teologia da libertação que pregava a conquista de
autonomia e autoridade social foi
superada pela teologia da prosperidade,
que prega o “se vira”.
O “basta querer” não existe, porque a simples vontade não gera caixa, não move montanhas, não abre portas, não dribla a burocracia, não conquista mercado e nem enfrenta a concorrência. O seu querer tem que se unir e trabalhar em conjunto com o querer de outras pessoas.
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