Estado
laico precisa de fé, não de religião.
Muitas
manchetes dos jornais em todo o mundo, trazem no seu interior um assunto que
precisamos discutir com urgência, a
tentativa de misturar religiosidade
com direitos civis e sociais, um erro grave que pode causar instabilidade
social e democrática.
No
Brasil, essa tentativa de impor uma visão religiosa única, inclusive sobre a Constituição, tenta renegar a maioria da
população a cidadãos de segunda classe, sem direitos e sem cobertura social e
política, transformando o país num grande templo.
O Estado laico, também chamado de secular ou não confessional, permite, respeita, protege e trata de forma igual todas as pessoas, independente de filosofia, ideologia, credo, confissões religiosas, não religião, agnósticos e ateístas. Suas ações e decisões políticas visando a vontade geral e o bem do povo se sobrepõem a qualquer justificativa influenciada por Deus ou outras divindades.
O estado não pergunta ao cidadão qual sua religião ou fé ao cobrar impostos e receber seu voto e, também não pode questionar ao cumprir sua obrigação constitucional de entregar serviços e proteção resultado de seus tributos.
Os direitos sociais e civis estão em risco no Brasil pela força da bancada fundamentalista apoiada pelas bancadas da bala e do boi que, mesmo questionando a pauta, apoiam por interesse econômico e político. Essa união de interesses cria uma maioria parlamentar que não representa o pensamento médio da maioria da sociedade.
Decisões baseadas em justificativas de natureza religiosa transformariam o Brasil numa teocracia, risco que corre Israel, segundo o israelense, Yuval Noah Harari, um dos maiores pensadores da atualidade. Israel convivia entre duas visões conflitantes de si mesma — ser uma democracia secular ou uma teocracia messiânica. Quando parecia que a primeira se consolidaria, Nethanyahu colocou a extrema-direita no poder e agora ameaça a paz interna, regional e mundial tentando impor uma teocracia, se igualando ao seu maior inimigo, o Irã.
Inúmeros grupos e movimentos começam a questionar a cooptação do judaísmo pelo estado, porque faz os judeus pela fé do mundo inteiro, sionista ou não, corresponsáveis por atos e políticas do governo israelense. Um judeu, cidadão brasileiro, mesmo sem jamais ter colocado os pés em Israel, seria alvo de extremistas em qualquer lugar do mundo por sua fé, por exemplo.
A
ação terrorista do Hamas acirrou um
problema que está dentro do estado de Israel, a tentativa de tornar o país um
estado exclusivamente judeu.
A
separação entre judeu e israelense,
judeu e sionista deve ser reforçada,
porque o estado israelense, além de judeus, abriga ateus, cristãos e islâmicos.
Movimentos como Anarquistas Contra o Muro, Mulheres pela
Paz, Boicote de Dentro, Associação para os Direitos Civis em Israel, as
centenas de blogs críticos, o crescente número de objeções de consciência para
não prestar o serviço militar e as enormes manifestações populares contra a
tentativa de Nethanyahu subordinar o judiciário são alguns exemplos da insatisfação interna, que cresceu principalmente
com a criação da Guarda Nacional sob o comando da extrema-direita, em abril
último. A população teme que um país que já tem o Mossad, Aman e o Shin Beth torne a GN
uma triste cópia da SS, tropa do exército alemão que foi um pesadelo para os
judeus na Segunda Guerra.
Além
dos movimentos civis, há os religiosos
formados por judeus ortodoxos e conservadores como o Torah Judaism e o Haredi,
seculares, que contestam a existência do estado de Israel alegando que o Torá
prega que não pode haver um estado judeu em qualquer lugar da terra porque é
uma religião, não uma nacionalidade. Mostram o Judaísmo como a religião mais
antiga do mundo e que o sionismo é uma distorção
que impede sua difusão e crescimento e resulta na perigosa igualdade entre antisionismo e antisemitismo. Defendem
a paz regional e o estado palestino como
condições fundamentais para a paz
que precede a vinda de Cristo.
O fim comum de todos esses movimentos é a
tentativa de salvar Israel de si mesmo
e o resgate do compromisso expresso
na *carta que o criou, porque o
escravizador jamais será livre, nunca terá paz, sempre caminhará olhando por
sobre os ombros.
Reunir
todos esses aspectos políticos, religiosos e geopolíticos é fundamental para
tentar, repito, TENTAR entender o
que acontece na região e também para EVITAR
que o Brasil replique um fundamentalismo que pode abalar nossa democracia e
modo de vida.
Ter fé é muito mais importante que ter uma religião.
A DEMOCRACIA só existe num ESTADO LAICO.
*”O Estado de Israel (…) estará baseado nos princípios de liberdade, justiça e paz (…); assegurará a completa igualdade de direitos políticos e sociais a todos os seus habitantes sem distinção de credo, raça ou sexo; garantirá liberdade de culto, consciência, idioma, educação e cultura”..., Declaração de Independência de Israel, 1948
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