Contrariando a visão geral, os números mostram que o brasileiro não é um trabalhador pior do que os outros.
Nos últimos anos,
aumentou o número de horas trabalhadas, mas a produtividade brasileira se
manteve baixa, porque a informalidade distorce os números.
O setor de
serviços é responsável por 69% do PIB, 70% das horas trabalhadas e 75% do total
de empregos no Brasil, mas tem a informalidade como característica.
A informalidade
sempre foi um desestímulo à qualificação e hoje, somente cerca de 50% da força
de trabalho tem carteira assinada, o que impacta também no INSS e na
Previdência.
Mesmo com a
melhora da escolaridade média nos últimos 20 anos, temos muito que recuperar
pelas deficiências na educação formal nos anos 70 e 80 do século passado.
Nosso parque
industrial está em descompasso com as novidades tecnológicas mundiais. Somente
a agricultura e o setor financeiro fizeram investimento real em produtividade.
A indústria não investe em P&D e mantém seu parque fabril sucateado. Mesmo
com cargas tributárias similares, a indústria brasileira é 23%, em média, mais
cara que a americana.
No comparativo, nos
últimos 25 anos, a agricultura aumentou sua eficiência em 6,8%, enquanto a
indústria teve uma queda de - 0,2%.
Os motivos são
vários como investimento caro e abaixo do necessário, falta de infraestrutura
(rodovias, ferrovias, hidrovias, telecomunicações, portos insuficientes e
sucateados), tributação, temor ao risco, burocracia, oligopólios e ambiente de
negócios perverso.
Para melhorar esse
cenário, é preciso uma reforma tributária justa e equânime, mais cooperação no
ambiente de negócios e investimentos em inovação, além de uma mudança de
mentalidade do empresariado e da força de trabalho.
Uma das saídas
pode ser a desoneração tributária sobre bens de capital com comprovação de
contrapartida ao invés de subsídios ou incentivos.
E as empresas
devem sair de suas plantas e invadir as universidades em busca de talentos,
fomentando a pesquisa e propondo cursos. Assim como as grandes empresas
monitoram seu cluster, investindo ou até comprando sistemistas que reduzam seus
custos ou dinamizem seu negócio, as universidades são grandes parceiras na
busca da inovação e qualificação.
Em qualquer lugar
do mundo, um ciclo de economia ativa sustentável tem apenas uma receita:
melhora da produtividade + aumento real de salário = crescimento econômico.
Enquanto um
trabalhador norte-americano tem uma jornada de trabalho de 40 horas semanais e produz,
anualmente, U$ 128,000, o brasileiro produz U$ 38,000, com jornada de 44 horas.
E a jornada de
trabalho no Brasil é semelhante a maioria das grandes economias do mundo. A
média de horas trabalhadas no Brasil é de 1711 horas, contra 1780 (EUA), 1710
(Japão), 1723 (Itália) e 1695 (Canadá).
Trabalhar mais
não significa maior produtividade. Na Alemanha, por exemplo, o trabalhador
produz U$98,000 e a média anual é de 1366 horas. O PIB alemão (U$ 4 trilhões) é
o dobro do brasileiro (U$ 2 trilhões). Na Alemanha, de uma população de 84
milhões, 45 milhões estão ocupadas, das quais 36 milhões trabalham formalmente.
No Brasil, de uma população de 215 milhões, 80 milhões estão ocupados, mas
menos de 40 milhões, é formalizada.
A qualidade do
trabalho e as estruturas de produção têm que melhorar muito, com investimentos
em educação, pesquisa, desenvolvimento, tecnologia e logística.
E precisamos de
índices mais claros nos dados sobre desemprego para que possamos identificar
problemas e criar soluções. A criação dos “desalentados” na composição do
índice, mais atrapalhou do que ajudou. Quanto dos desempregados estão na
informalidade? A MEI é realmente trabalho informal ou terceirização? Como
trazer os desalentados para o mercado novamente? Qual a qualificação e formação
do desempregado?
Depois de dois
anos de crescimento, a produção industrial recuou: -1,1% (2019), -4,5% (2020), teve
um soluço em 2021 (+3,9%) e em 2022, +0,7%. Na contramão está o setor
alimentício que cresceu 2,3% (2019), 12,8% (2020), 16,9% (2021), 16,6% (2022) beneficiado
pela crise gerada pela pandemia do Covid19. Esses índices distorcem um pouco a
qualidade do crescimento do PIB nos últimos dois anos.
Estamos entre os
dez maiores parques industriais do mundo, mas estamos nas últimas posições em
tecnologia, inovação e produtividade.
Para reverter esse quadro, é preciso mais que dinheiro, é preciso uma mudança de mentalidade do empresariado, dos trabalhadores e políticas de governo que provoquem e incentivem o patronato industrial a investir na inovação, o setor de commodities adotar o valor agregado na sua produção e todos aceitarem que o risco é natural ao capitalismo.
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