Cincopes

on 09 maio 2023

POLÍTICA - EMPREGO E PRODUTIVIDADE

Contrariando a visão geral, os números mostram que o brasileiro não é um trabalhador pior do que os outros.

Nos últimos anos, aumentou o número de horas trabalhadas, mas a produtividade brasileira se manteve baixa, porque a informalidade distorce os números.

O setor de serviços é responsável por 69% do PIB, 70% das horas trabalhadas e 75% do total de empregos no Brasil, mas tem a informalidade como característica.

A informalidade sempre foi um desestímulo à qualificação e hoje, somente cerca de 50% da força de trabalho tem carteira assinada, o que impacta também no INSS e na Previdência.

Mesmo com a melhora da escolaridade média nos últimos 20 anos, temos muito que recuperar pelas deficiências na educação formal nos anos 70 e 80 do século passado.

Nosso parque industrial está em descompasso com as novidades tecnológicas mundiais. Somente a agricultura e o setor financeiro fizeram investimento real em produtividade. A indústria não investe em P&D e mantém seu parque fabril sucateado. Mesmo com cargas tributárias similares, a indústria brasileira é 23%, em média, mais cara que a americana.

No comparativo, nos últimos 25 anos, a agricultura aumentou sua eficiência em 6,8%, enquanto a indústria teve uma queda de - 0,2%.

Os motivos são vários como investimento caro e abaixo do necessário, falta de infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, telecomunicações, portos insuficientes e sucateados), tributação, temor ao risco, burocracia, oligopólios e ambiente de negócios perverso.

Para melhorar esse cenário, é preciso uma reforma tributária justa e equânime, mais cooperação no ambiente de negócios e investimentos em inovação, além de uma mudança de mentalidade do empresariado e da força de trabalho.

Uma das saídas pode ser a desoneração tributária sobre bens de capital com comprovação de contrapartida ao invés de subsídios ou incentivos.

E as empresas devem sair de suas plantas e invadir as universidades em busca de talentos, fomentando a pesquisa e propondo cursos. Assim como as grandes empresas monitoram seu cluster, investindo ou até comprando sistemistas que reduzam seus custos ou dinamizem seu negócio, as universidades são grandes parceiras na busca da inovação e qualificação.

Em qualquer lugar do mundo, um ciclo de economia ativa sustentável tem apenas uma receita: melhora da produtividade + aumento real de salário = crescimento econômico.

Enquanto um trabalhador norte-americano tem uma jornada de trabalho de 40 horas semanais e produz, anualmente, U$ 128,000, o brasileiro produz U$ 38,000, com jornada de 44 horas.

E a jornada de trabalho no Brasil é semelhante a maioria das grandes economias do mundo. A média de horas trabalhadas no Brasil é de 1711 horas, contra 1780 (EUA), 1710 (Japão), 1723 (Itália) e 1695 (Canadá).

Trabalhar mais não significa maior produtividade. Na Alemanha, por exemplo, o trabalhador produz U$98,000 e a média anual é de 1366 horas. O PIB alemão (U$ 4 trilhões) é o dobro do brasileiro (U$ 2 trilhões). Na Alemanha, de uma população de 84 milhões, 45 milhões estão ocupadas, das quais 36 milhões trabalham formalmente. No Brasil, de uma população de 215 milhões, 80 milhões estão ocupados, mas menos de 40 milhões, é formalizada.

A qualidade do trabalho e as estruturas de produção têm que melhorar muito, com investimentos em educação, pesquisa, desenvolvimento, tecnologia e logística.

E precisamos de índices mais claros nos dados sobre desemprego para que possamos identificar problemas e criar soluções. A criação dos “desalentados” na composição do índice, mais atrapalhou do que ajudou. Quanto dos desempregados estão na informalidade? A MEI é realmente trabalho informal ou terceirização? Como trazer os desalentados para o mercado novamente? Qual a qualificação e formação do desempregado?

Depois de dois anos de crescimento, a produção industrial recuou: -1,1% (2019), -4,5% (2020), teve um soluço em 2021 (+3,9%) e em 2022, +0,7%. Na contramão está o setor alimentício que cresceu 2,3% (2019), 12,8% (2020), 16,9% (2021), 16,6% (2022) beneficiado pela crise gerada pela pandemia do Covid19. Esses índices distorcem um pouco a qualidade do crescimento do PIB nos últimos dois anos.

Estamos entre os dez maiores parques industriais do mundo, mas estamos nas últimas posições em tecnologia, inovação e produtividade.

Para reverter esse quadro, é preciso mais que dinheiro, é preciso uma mudança de mentalidade do empresariado, dos trabalhadores e políticas de governo que provoquem e incentivem o patronato industrial a investir na inovação, o setor de commodities adotar o valor agregado na sua produção e todos aceitarem que o risco é natural ao capitalismo.