Cincopes

on 09 maio 2023

POLÍTICA - QUALIFICAÇÃO E PRODUTIVIDADE

Depois de um crescimento do PIB nacional de 2,5% em 2018, tivemos uma queda brutal em função da pandemia com dois soluços de recuperação tímidos e sem consistência, em 2021 e 2022.

O governo federal finalizou 2022 com saldo em caixa (R$ 57bi), muito mais por não aplicação de recursos do que por gestão fiscal eficiente.

Entramos 2023 com um brutal saldo de contas a pagar (R$ 120bi até fevereiro e R$ 231bi até o final do ano), rombos no orçamento e sem caixa para honrar compromissos constitucionais com saúde, educação e assistência social. É como se você não pagasse suas contas num mês (superávit), gerasse mais custos e empurrasse as dívidas (déficit) para os meses seguintes. Óbvio que vai faltar salário.

O ex-ministro Paulo Guedes tem razão. Os incentivos que governos anteriores deram à indústria, nunca foram aproveitados para modernizar o parque industrial, a competitividade ou em P&D. Foram para o caixa ou para acionistas/investidores.

Esta realidade está na participação dos produtos manufaturados no comércio exterior. A participação, que era de 59% no ano 2000, caiu para 36% em 2022. Somos um país de commodities que têm seu maior mercado na China. Os produtos manufaturados se direcionam aos nossos vizinhos latino americanos.

O mercado rejeita a expressão política industrial nacional, temendo a intervenção do governo, mas o liberalismo não está resolvendo sozinho. O discurso é bom, mas só funciona no Brasil com dinheiro e benesses do governo.

Temos o problema do Custo Brasil? Fato, mas a falta de ousadia, espírito empreendedor e da cultura do capitalismo de risco também são fatos.

O empreendedorismo está apenas em startups e no setor de serviços. Falta ímpeto empreendedor ao setor da indústria, com raras exceções.

Podemos começar agregando valor às nossas commodities que são exportadas e voltam ao país como insumos com preços em dólar, impactando no custo Brasil.

O Fórum Econômico Mundial 2020 teve dois consensos: a necessidade de requalificar os trabalhadores e a importância da participação das empresas nesse processo. Tomaram como meta, requalificar 1 bilhão de trabalhadores até 2030.

Entre 2020 e 2022, 42% dos conhecimentos requeridos por profissões atuais sofreram mudanças. Dois anos desempregado significa que você perdeu 40% de conhecimento sobre sua atividade profissional. Em cinco anos, o trabalhador parte do zero dificultando a recolocação e gerando um alto custo de onboarding e adaptação à empresa.

A requalificação eficaz se dá com forte investimento e a melhoria da educação porque a necessidade básica será pensar e pensar bem. As exigências nas áreas de raciocínio para tomada de decisão, capacidade de trabalhar em grupo e habilidade para transferir conhecimento serão fundamentais.

Softskills como ser ágil, horizontal e ter inteligência fluida serão diferenciais fundamentais no perfil do trabalhador.

De acordo com a OCDE, os países do G20 perderão U$ 11 trilhões na próxima década se não fizerem nada. A inação é mais cara que a ação.

É fundamental que a requalificação aconteça num processo contínuo, evitando o subemprego e a informalidade, sempre um risco à sociedade. Qualquer tropeço social ou econômico leva à instabilidade política e ao questionamento do sistema, campo fértil para o surgimento de espertalhões, mitos e líderes populistas.

No Brasil, chegou o 5G sem ter 3G ou 4G em vários recantos do país. E na educação, métodos do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21 convivem cada um em sua realidade, sem política e sem propósito.

As empresas precisam reorganizar seu sistema de trabalho, incentivar a qualificação, rever métodos, buscar a inovação, usar a inteligência estratégica para projetar o futuro ou teremos uma tragédia anunciada.

O trabalhador precisa se desafiar, buscar novos conhecimentos e desenvolver softskills.

O Brasil ocupa a posição entre os piores IDH – Índice de Desenvolvimento Humano do mundo. Em compensação, tem a segunda maior concentração de renda do planeta. 1% da população detém 28,3% da riqueza nacional, perdendo apenas para o Catar, onde 1% fica com 29%.

A pandemia e o discurso de ódio revelaram uma divisão da sociedade brasileira que estava amordaçada pelo politicamente correto e pelas regras sociais de convivência.

Se a gente não se organizar e trabalhar sério, tem tudo para não dar certo.