“A arma
mais poderosa na mão do opressor é a mente do oprimido”, Steve Biko.
Essa campanha eleitoral está mostrando como a esquerda perdeu sua conexão
com o povo e a realidade.
A vitoriosa ideologia da esperança se dividiu entre ideologia e
esperança.
Nem vou questionar a qualidade ou os arranjos políticos nas escolhas dos candidatos feitas pelos partidos, vou me deter ao material produzido e exibido.
É muita publicidade e pouca argumentação, sem utilidade
para o convencimento ou persuasão.
As peças parecem concorrer ao Leão de Ouro (Cannes), ao invés de despertar
ideias e mobilizar.
A mesma voz fala do caos e da virtude com o mesmo timbre e tom, a
plasticidade das imagens não transmite a gravidade da situação, o sujeito que
sofre o problema não apresenta a situação e nem é parte da solução. É muita
musiquinha e pouca palavra de ordem. Falta realidade!
Não há distinção ideológica entre oposição e situação. Os
progressistas perderam bandeiras históricas para uma direita reacionária
que manipula seu discurso na conquista de mentes.
Socialmente, a esquerda é hoje o real conservadorismo como
defensora da verdadeira família de Deus, aquela bíblica, baseada no
amor, na fraternidade e no respeito entre os irmãos e diferentes, mas não
consegue comunicar isso.
A canalha “teologia da prosperidade” sufocou a luta pelas
liberdades e justiça social, enquadrando todos no mesmo modelo mentiroso
(“você é um vencedor”, “vença a qualquer custo”, “trabalhe enquanto eles dormem”)
como se o mundo jogasse a seu favor e só dependesse de você catalisar as
forças do universo em seu benefício.
Os progressistas sempre foram defensores da liberdade de expressão
e contra a censura, mas o discurso foi capturado por uma extrema-direita de
discurso único e isolacionista.
Apenas autores de esquerda publicam livros, artigos e legislam sobre a
necessidade de uma estratégia de defesa nacional com papel claro para as Forças
Armadas, mas uma direita impatriótica toca o coração de vivandeiras e
saudosistas do caos.
No caso específico de Porto Alegre, os comerciais e programas são idênticos,
só conseguindo diferenciar o partido pelo gênero dos candidatos.
A oposição não consegue apresentar soluções com nexo e impacto, vende ideologia
usando termos e temas distantes da vida das pessoas, como o antifascismo, por
exemplo.
A oposição é incapaz de vincular os problemas de mobilidade, ambientais,
saúde e bem-estar da capital ao atual prefeito. As ruas continuam cheias de
lixo e nunca se viu tanto sem teto sob marquises e viadutos de Porto Alegre. Os
bairros distantes das zonas norte, leste e sul estão abandonados. A educação
tem os piores índices dos últimos anos, e nem falo dos alagamentos.
A situação aproveita a ingenuidade e ego dos publicitários
da oposição e surfa na onda. Com a vantagem de não mostrar o lado triste da
cidade, espertamente, abusa do otimismo e vende esperança. Não tá
bom, mas se a gente continuar, vai melhorar.
Os partidos e políticos esqueceram que o debate ideológico é feito
nos projetos legislativos e nas tribunas parlamentares.
Na rua e nas campanhas eleitorais, é feita comunicação política.
O povo não é burro, só precisa ser abastecido com argumentos sólidos
e convincentes para optar por seu partido na urna.
Perderão de novo, encontrarão um monte de desculpas e culpados, não vão
aprender, mas as peças estarão em lindos portfólios para enganar incautos no
próximo pleito.
Na vitória, o candidato não está sozinho.
Na derrota, ele é responsável e culpado, porque perde a eleição
por suas escolhas e decisões.
Se não tem capacidade de cuidar do seu próprio futuro, como confiar nele para cuidar do nosso?
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