Cincopes

on 17 setembro 2024

POLÍTICA - IDEOLOGIA E ESPERANÇA

“A arma mais poderosa na mão do opressor é a mente do oprimido”, Steve Biko.

Essa campanha eleitoral está mostrando como a esquerda perdeu sua conexão com o povo e a realidade.

A vitoriosa ideologia da esperança se dividiu entre ideologia e esperança.

Nem vou questionar a qualidade ou os arranjos políticos nas escolhas dos candidatos feitas pelos partidos, vou me deter ao material produzido e exibido.

É muita publicidade e pouca argumentação, sem utilidade para o convencimento ou persuasão.

As peças parecem concorrer ao Leão de Ouro (Cannes), ao invés de despertar ideias e mobilizar.

A mesma voz fala do caos e da virtude com o mesmo timbre e tom, a plasticidade das imagens não transmite a gravidade da situação, o sujeito que sofre o problema não apresenta a situação e nem é parte da solução. É muita musiquinha e pouca palavra de ordem. Falta realidade!

Não há distinção ideológica entre oposição e situação. Os progressistas perderam bandeiras históricas para uma direita reacionária que manipula seu discurso na conquista de mentes.

Socialmente, a esquerda é hoje o real conservadorismo como defensora da verdadeira família de Deus, aquela bíblica, baseada no amor, na fraternidade e no respeito entre os irmãos e diferentes, mas não consegue comunicar isso.

A canalha “teologia da prosperidade” sufocou a luta pelas liberdades e justiça social, enquadrando todos no mesmo modelo mentiroso (“você é um vencedor”, “vença a qualquer custo”, “trabalhe enquanto eles dormem”) como se o mundo jogasse a seu favor e só dependesse de você catalisar as forças do universo em seu benefício.

Os progressistas sempre foram defensores da liberdade de expressão e contra a censura, mas o discurso foi capturado por uma extrema-direita de discurso único e isolacionista.

Apenas autores de esquerda publicam livros, artigos e legislam sobre a necessidade de uma estratégia de defesa nacional com papel claro para as Forças Armadas, mas uma direita impatriótica toca o coração de vivandeiras e saudosistas do caos.

No caso específico de Porto Alegre, os comerciais e programas são idênticos, só conseguindo diferenciar o partido pelo gênero dos candidatos.

A oposição não consegue apresentar soluções com nexo e impacto, vende ideologia usando termos e temas distantes da vida das pessoas, como o antifascismo, por exemplo.

A oposição é incapaz de vincular os problemas de mobilidade, ambientais, saúde e bem-estar da capital ao atual prefeito. As ruas continuam cheias de lixo e nunca se viu tanto sem teto sob marquises e viadutos de Porto Alegre. Os bairros distantes das zonas norte, leste e sul estão abandonados. A educação tem os piores índices dos últimos anos, e nem falo dos alagamentos.

A situação aproveita a ingenuidade e ego dos publicitários da oposição e surfa na onda. Com a vantagem de não mostrar o lado triste da cidade, espertamente, abusa do otimismo e vende esperança. Não tá bom, mas se a gente continuar, vai melhorar.

Os partidos e políticos esqueceram que o debate ideológico é feito nos projetos legislativos e nas tribunas parlamentares.

Na rua e nas campanhas eleitorais, é feita comunicação política.

O povo não é burro, só precisa ser abastecido com argumentos sólidos e convincentes para optar por seu partido na urna.

Perderão de novo, encontrarão um monte de desculpas e culpados, não vão aprender, mas as peças estarão em lindos portfólios para enganar incautos no próximo pleito.

Na vitória, o candidato não está sozinho.

Na derrota, ele é responsável e culpado, porque perde a eleição por suas escolhas e decisões.

Se não tem capacidade de cuidar do seu próprio futuro, como confiar nele para cuidar do nosso?