A maioria dos produtos tem prazo de vida, necessitando atualizações, aprimoramentos e versões por obsolescência ou concorrência. Alguns poucos mantêm presença importante no mercado por conquistarem um nicho onde são práticos, funcionais e universais. O Product Market Fit perfeito.
O caso da caneta Bic é emblemático. Depois de 86 anos no mercado, sendo
63 no Brasil, mantém um marketshare importante no país (400 milhões de
unidades vendidas/ano) e resiste, mesmo com a chegada de modelos mais modernos
e sofisticados. A própria empresa lançou várias outras, mas o modelo tradicional
continua campeã de vendas.
A Bic é encontrada em qualquer lugar do mundo com o mesmo tubo
transparente, o mesmo design da tampa e sem manual de instruções. A única mudança
aconteceu no design, um furo na tampa para permitir a passagem de ar em caso de
uma pessoa, principalmente crianças, engolir a tampa. Um exemplo de resiliência
e de como um produto pode sobreviver num mercado competitivo.
A caneta esferográfica futurística projetada em 1938, cruzou os séculos. Fabricada
primeiramente na Argentina, em 1940, foi adotada pela NASA como solução para
uso em ambientes gravidade zero e se mostrou extremamente eficiente, comum e
popular, também aqui na Terra. Teve um importante papel na inclusão social nas
escolas, já que a caneta tinteiro era extremamente cara e de uso exclusivo das
classes abastadas.
Quem nunca teve uma? Quem nunca precisou de uma? Quem não foi socorrido
por uma azul, preta, vermelha e até verde?
Antes do QR Code, era importante para escrever um número de telefone no
encontro casual. É a salvação para aquele torpedo insinuante ou romântico que o
garçom amigo entregará ao objeto do desejo. Preserva os poemas apaixonados que
ébrios rabiscam em mesas ou guardanapos pelos bares da vida. Salvou estudantes
com dicas e colas tatuadas na pele. Já ajudou a preservar ideias surgidas num
simples bate papo. É indispensável em provas e concursos. Está nos balcões de
bancos pra preencher envelopes que cobrirão seu saldo.
Às vezes, é responsável pela maldita mancha de tinta em sua camisa
favorita ou é ferramenta criptográfica, como no caso do jovem que viajou para o
Chile em plena era Pinochet e ficou de enviar notícias para os amigos. Avisado
sobre o terror do regime e da censura chilena, combinou de escrever em azul o
que era verdade e em verde o que era mentira. Na primeira carta, em tinta azul
e caligrafia cuidadosa, elogiou a democracia, contou que Pinochet era adorado
pelo povo, que não havia repressão, todos se expressavam com liberdade, censura
era mito e não faltava nada. A única coisa que não encontrara foi uma Bic
verde.
E pode inspirar a criatividade, como neste anúncio que fez a brasileira Jéssica Mantovani, conquistar o título de Student of the Year, de 2016, da revista alemã Lürzer's Archive.
O anúncio prova que o uso de uma Bic para que os Beatles autografassem um
simples vinil, o transforma em peça cobiçada e valiosa.
Uma produção simples, uma foto e uma caneta Bic, e a mensagem impactante
e objetiva discretamente colocada no lado inferior direito do campo de visão - Ter
uma BIC faz toda a diferença, arrebatou o prêmio da revista alemã,
uma das principais referências criativas do mundo.
O anúncio de Jéssica, na época aluna de Direção de Arte da Miami Ad
School/ESPM, mostra como a união do simples com a criatividade é poderosa.
Se você descobrir seu PMF, invista nele.
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