Cincopes

on 16 setembro 2024

PROSA - LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

Há tantas variedades de habilidades e competências no ser humano, mas vou me deter em duas – inteligência e esperteza.

Todos têm ambas em proporções distintas. Há os inteligentes e espertos. Há os mais inteligentes que espertos. Há os mais espertos que inteligentes. Há os que se acham inteligentes por serem espertos. Há os espertos que parecem inteligentes.

Explico, porque o ponto onde quero chegar é como essas habilidades são usadas no domínio da narrativa, usando o preconceito e a inveja, atributos que os espertos usam com inteligência.

Baseado em minha experiência na comunicação, na política e na comunicação política, cito como exemplo a manchete malandra da Folhapress do dia 05 de setembro, repercutida por vários veículos.

TEXTO: A manchete está correta apesar da redação dúbia.

CONTEXTO: Primeiro, o Brasil tem no exterior 139 embaixadas, 52 consulados-gerais, 11 consulados, 8 vice-consulados, 12 missões ou delegações e 3 escritórios. Poucos estão sediados em imóveis próprios e o custo de manutenção, de acordo com a matéria, gira em R$ 200 milhões/mês.

Segundo, a viagem de Lula ainda não aconteceu.

Terceiro, houve um corte no orçamento de todos os órgãos federais e os gestores estão tentando recuperar uma parte dos recursos contingenciados.

SUBTEXTO:  Pura maldade colocar em pauta uma possibilidade distante presente na vida de todos aqueles que compram um imóvel ou pagam aluguel, o risco de despejo por inadimplência. Manipula o leitor de manchetes a crer que o Brasil deve essa quantia em aluguéis de nossas embaixadas e escritórios consulares e comerciais e que o despejo é iminente, quando a reportagem informa claramente que são verbas para o bimestre agosto-setembro.

A colocação de forma atemporal quanto a viagem de Lula, insinua que ele já fez a viagem e que deixou a dívida. Obviamente, a verba está prevista porque a presença do presidente brasileiro na abertura da Assembleia Geral da ONU, em setembro, é protocolar e permanente, desde 1955. Apenas em 1983 e 1984, Ronald Reagan, presidente EUA, exigiu a primazia e desbancou João Figueiredo.

A matéria omite o contexto do corte feito pelo governo. O MRE pede que parte não seja cortada, como fazem todos os órgãos atingidos. Inclusive, consta na matéria que o corte foi de R$ 452 milhões e que o pedido é menos da metade do bloqueado. Os desavisados não leram ou não entenderam.

É uma manchete viral que alimentará o mundo da pós verdade ao ser repostada por incautos de má-fé ou aqueles de boa-fé ungidos pela ignorância política.

Educação pode mudar o Brasil, e não falo da formal de livros e bancos escolares, mas a civilizatória e humanista.