Uma das principais característica da democracia, eleições livres, deixaram de ser oportunidades para melhoria de vida, aprimoramento da máquina governamental e solução de problemas que afligem a sociedade.
O dinheiro sempre foi importante, mas passou a ser fundamental,
afetando negativamente o percentual de participação pelo desencanto do cidadão.
Hoje, o VOTO é apenas um símbolo da democracia, não se concretiza no mandato resolutivo e eficiente dos eleitos. E nem pela participação ativa do eleitor na fiscalização e cobrança do poder público e dos agentes políticos no cumprimento de suas promessas.
O movimento mundial coordenado sabotando o sistema eleitoral, incentiva a
antipolítica e alimenta a rejeição aos partidos. Assim como o eleito, a
população não cumpre seu papel.
No Brasil, desde 2014, a democracia vem sendo sistematicamente sabotada e
não há uma força política ou popular que consiga orquestrar uma reação.
Em 2018, Bol$on@ro, sem vínculo político ideológico ou histórico com
qualquer partido (foi filiado a 10 diferentes), surfou na onda, uniu viúvas da
ditadura, conservadores, ruralistas, elite insatisfeita e a população
descontente e marginal, conquistando a vitória com um discurso anacrônico e
populista. A mídia apagou seu passado e o povo aderiu ao pesadelo de sua
eleição.
Restou provado que o populismo como voto de protesto deve ser
exercido com moderação e bom senso ou corremos o risco de cairmos na armadilha
em que nos metemos em 2018.
Em 2022, Lula encarnou o defensor da democracia e conquistou a vitória,
mas o resultado mostrou que o canto entoado incessantemente desde 2014,
encontrou eco em corações e mentes desiludidos e maquiavelicamente mantidos na
desilusão.
Há uma falsa polarização ideológica quando na verdade é uma polarização
de personagens. De um lado, o capitão usando um discurso “político” para
acobertar interesses pessoais e de grupos perigosos à sociedade, à democracia e
à vida.
De outro, Lula perigosamente incorporando o salvador da pátria sem
respaldo político consistente e futuro incerto. A esquerda está perdida e no
quadro político atual, não temos um centro ideológico e programático confiável.
O centrão, chamado de centro ideológico, na verdade é um radical fisiológico.
Diante deste cenário, não consigo ver os resultados eleitorais de 2024
como um posicionamento ideológico do eleitor mais à direita, apesar de sermos
um povo historicamente conservador ou não teríamos tantos golpes, ditaduras, escravidão
e mitos idolatrados em nossa história.
A direita está com um pé em cada canoa, tentando se equilibrar num oceano
em que só o capitão e seus asseclas fazem marolas.
A direita e a extrema-direita fizeram muitos votos, é óbvio, mas foram
conquistados pelo uso do dinheiro do orçamento surrupiado pelo centrão. Ele não
quer governos estaduais, federais ou deputados estaduais, seu foco é a bancada
federal (base de cálculo para repasses do fundão e poder para controlar as
emendas) e o poder municipal.
Prefeituras são o sonho de consumo da ala fisiológica. Além de disseminar
cabos eleitorais nas figuras de prefeitos, vereadores e lideranças locais, são
perfeitas para desvios de recursos e desperdício populista, ferramentas
naturais na conquista de votos na maioria dos municípios.
O fisiologismo é uma máquina de fazer dinheiro e votos.
Dos mais de cinco mil municípios, pouco mais de trezentos têm mais de cem
mil habitantes. No restante, as pequenas cidades precisam da prefeitura, seja no
sustento a mídia local, empregar um familiar e sequestrar a simpatia da família
inteira, manipular dados de saúde e educação para inflar criminosamente os
repasses de recursos estaduais e federais, promover shows superfaturados
desviando recursos da saúde e da educação para pagar celebridades duvidosas,
além de acertos com grupos econômicos locais interessados no planejamento
urbano, licitações manipuladas, venda de insumos superfaturados ou vista grossa
em desvios tributários.
Toda esta máquina está conectada com políticos estaduais, federais e seus
financiadores.
Nas cidades médias e grandes, há um maior
debate ideológico, distorcido pela bem montada máquina de mentiras e
preconceitos, além da esquerda estar numa luta interna permanente com o que
sempre prejudicou sua consolidação social, o personalismo e o ego.
Nas grandes cidades, a monetização das eleições chegou na forma de
valorização dos debates. Em São Paulo, os veículos popularizaram o personagem M@rç@l,
engajando as mídias sociais nas transmissões, onde o Google destina 70% da
receita às emissoras por gerarem o conteúdo.
Durante os debates, os SuperChats ficaram abertos e vários
comentários patrocinados foram fixados no topo. Mensagens de apoio aos
candidatos, desinformação e anúncios promocionais de canais de notícias
alinhadas com a extrema-direita foram os que mais investiram e, segundo o YouTube,
a audiência média superou 1,5 milhões de pessoas.
A empresa ludibriou sua própria regra de não aceitar anúncios políticos
patrocinados, alegando que comentários não são anúncios, são moderados e devem
seguir as regras.
Na vida política brasileira, os dois lados, eleito e eleitor, têm culpa e
por isso as eleições passaram a ser simbólicas. Independentemente do resultado,
os eleitos continuam iguais e o eleitor continua a não cumprir o ciclo –
vota-fiscaliza-reelege ou troca.
O brasileiro teima em não aprender a lição e entender o valor do voto parlamentar.
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