O intenso trabalho de desacreditar, seguido de uma estratégia de criminalizar a política, legou um brasileiro radical.
Essa transformação não é por ideologia, mas pela manipulação envolvendo o fundamentalismo da fé, o reacionarismo dos costumes, a discriminação de gêneros e a teologia da prosperidade, tudo junto e misturado. O crime virou parte importante com seus guetos milicianos e estruturas de dominação territorial, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, de drogas e capacidade de expansão no cenário nacional.
Nossa extrema-direita não tem
ideologia, se apropriou do discurso ideológico para seus interesses pessoais e
familiares criando um populismo de direita associado à fé, aos costumes e ao
crime, usando falsamente a política como instrumento.
Depois do sucesso de um processo de
abalo da política, entraram em campo personagens que catalisaram a frustração
dos pobres apoiados por uma classe média que se acha rica e uma elite que
insiste em ver os pobres como instrumentos e massa de manobra para manutenção
do status quo.
A racionalidade deu lugar ao
emocional. É preciso determinar como pensa nosso vizinho, qual a fé de nossos
colegas, qual o tipo de família de nossos amigos, que direitos defendem.
A base da Pirâmide de Maslow, a racionalidade
do atendimento de necessidades básicas – saúde, educação, segurança, passaram
para segundo plano. O pensamento deve ser único - Deus, Pátria e Família - e o
Estado deve definir o que cada um faz e nos proteger de quem pensa ou professa
uma fé diferente.
Tudo que é libertador como a
sexualidade, a educação, a política ou a liberdade de crença são ameaças que
devem ser erradicadas sumariamente.
Os projetos eleitorais foram
substituídos pelos projetos de controle comportamental em uma agenda de
costumes.
Paradoxalmente, a modernidade
tecnológica se uniu ao retrógrado e reacionário para radicalizar a sociedade
brasileira.
Denúncias de corrupção, lavagem de
dinheiro, estupros, assédio moral, mentiras, mesmo com provas documentais ou
pela própria boca dos autores, não convence quanto ao desvio de personalidade e
a natureza criminosa de seus líderes e personagens, e nem abala o apoio
político da base social por eles explorada.
Grandes corporações do crime e empresariais
legais usam seu poder econômico para financiar o sistema, investindo na
blindagem dos líderes atestando sua pretensa superioridade moral.
A tecnologia, ao invés de libertar o
homem e criar novas possibilidades de desenvolvimento à humanidade, nos leva de
volta ao obscurantismo, tenta nos enclausurar novamente na Caverna de Platão. E
dentro da caverna temos uma sociedade belicosa, ressentida, invejosa e movida
pelo medo.
Se não me dou bem, meu vizinho também
não. Se não consigo, ele também não pode conseguir. A minha vergonha só
encontra satisfação na inveja daquele que vence.
Essa apropriação de sentimentos fez
com que a extrema-direita se espalhasse pelo mundo, porque as pessoas têm os
mesmos “inimigos”. A raiva coletiva tem endereço certo, as minorias, as
mulheres, os diferentes e os que pensam.
A luta não está só no período eleitoral. Está diariamente em cada esquina, nos canais de comunicação de doutrinação, nos discursos das redes sociais, nos memes, nos projetos legislativos, nos cancelamentos, nos haters, no encantamento dos coachs, nos influencers aproveitadores, nos grupos de zap, no patrulhamento, nos robôs...
Enfrentamos uma guerra que não é só
dos partidos. Toda a sociedade deve lutar pela civilização e valores de uma
sociedade humanitária, plural e democrática com a recuperação da política como
instrumento para construir um aparato legal e social que sustente equanimemente
mais de 7 bilhões de pessoas.
Nosso alerta deve estar permanentemente ligado porque enfrentamos uma sequência de batalhas, muitas num só dia.
É preciso estar atento e forte!
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