“Você quer viver em um mundo no qual
bilhões de pessoas estão imersas em fantasias, perseguindo metas de faz de
conta e obedecendo a leis imaginárias?”, Yuval Noah Harari
Significado da Vida em um Mundo sem Trabalho, publicado no
The Guardian, é um artigo onde o filósofo Yuval Noah Harari prevê que uma nova
classe de pessoas deve surgir até 2050: a dos inúteis. O texto é cheio
de pontos e contrapontos, pronto para ser contradito e discutido, mas vou focar
no que sua visão importa ao mercado de trabalho.
A gradual eliminação de vagas pelo uso de máquinas que processam milhões de informações em alta velocidade e pelo emprego da inteligência artificial em trabalhos repetitivos desenha um novo mercado de trabalho.
A observação de Harari, junto com os dados publicados pelo IBGE de que 20%
dos jovens entre 15 e 29 anos não trabalham e nem estudam, preocupam.
O Dieese contesta o termo que ironicamente usamos, nem-nem, por
entender que na verdade não é uma escolha pessoal. Prefere o termo sem-sem,
porque apenas 1,4% decidiram não trabalhar, o restante está em cursos
não regulares (pré-vestibular, qualificação e treinamento), envolvido em
afazeres domésticos (mulheres) e em busca de oportunidade.
Aos jovens sem acesso à tecnologia e oportunidades, desencantados com a
realidade, juntam-se os desempregados não empregáveis por desatualização ou
etarismo que, cansados de não ter acesso à educação e nem ao mercado de
trabalho, se tornam cidadãos-zumbis sem oportunidade de ter esperança.
Harari coloca a inteligência artificial como responsável pelos inúteis,
mas a desinteligência natural é parte importante no problema e fator fundamental
no surgimento dos sem-sem de qualquer idade ou gênero.
A sociedade precisa se engajar na busca das soluções, porque essa massa e
os aposentados terão um peso considerável no gasto público, seja por benefícios
ou segurança social.
A explosão das bets no Brasil está relacionada ao pensamento de Harari.
Ele diz que as pessoas que nada tem, se direcionam ao jogo ou à fé,
realidades alternativas à sua vida desesperançada. E aqueles que têm, pouco ou
muito, se rendem à manipulação de trades, bitcoins ou consumo, outras formas de
apostar em busca de um propósito ou sentido na vida.
Frustração ao encarar a realidade e entender que é mentiroso o discurso
da prosperidade fácil dependente só de você, são alguns dos motivos que nos
fazem compreender o gasto bilionário com apostas e consumo. Ao não atingir sua
meta, o jogo, a fé e o consumo se unem na esperança fantasiosa de encontrar
realização e um propósito de vida através do realismo mágico.
Essa busca incessante e doentia se torna um vício que consome amargamente
sua vida e impacta a célula familiar.
A vantagem é que está em nossas mãos, mitigar ou resolver a situação.
Legislação consciente, educação libertadora, investimentos em inovação,
desenvolvimento tecnológico e uma rede social acolhedora com políticas públicas
justas fazem parte de uma estratégia que pode evitar o esgarçamento do tecido
social que coloque em risco a paz e a segurança.
Antes de tudo, devemos abandonar a fantasia dos discursos sectários,
retrógrados, elitistas e uniformes na fé e na ideologia, e tomar um choque de
realidade antes que sejamos atropelados pelas consequências de nossa omissão e
indiferença.
O Brasil é muito maior que qualquer discurso político. Nossas diferenças
são nossa força e base para criar uma identidade nacional realmente brasileira.
E tudo começa com o voto!
Emoticon Emoticon