O Brasil “descoberto” era a civilização mais “primitiva” da época, sem espírito de nação e nem o conhecimento e a cultura encontrada pelos espanhóis entre incas, maias e astecas.
No “novo” mundo, uma Portugal poderosa, moderna e acostumada às conquistas, guerras, comércio e diplomacia encontrou um território multitribal e ingênuo, o verdadeiro Éden.
A grande área a ser explorada,
desafiadora, fragmentada, desagregada, sem estruturas políticas, econômicas,
militares e religiosas de uma sociedade organizada que impedisse seus fins exploradores
e colonizadores, diferenciavam a operação portuguesa das invasões inglesas e
espanholas no continente.
Somente no governo Getúlio Vargas,
meio do Século XX, saímos dos ciclos - pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro, café, borracha,
pedras preciosas, onde o Estado e a elite exploravam e definiam regras numa
sociedade desorganizada.
Somos herdeiros dessa realidade onde
(a) o trabalhador, sem sindicatos fortes e políticas claras, tem limitado
poder de negociação; (b) os empresários, numa relação promíscua com
o poder e sem empreendedorismo, infraestrutura e mercado interno, quer crédito
fácil e socorro à sua incompetência; (c)
os políticos mantêm privilégios e
usam o estado e, (d) a sociedade, desorganizada e apática, paga a conta à espera do estado
paternalista e assistencialista.
Getúlio trouxe o país à
modernidade com a urbanização, industrialização, diversidade econômica, voto
feminino, legislação trabalhista e assistência.
O estado é organizado em quatro
áreas básicas: (1) Social – valores sociais, bem comum,
justiça social, saúde, organização, segurança; (2) Econômica - riquezas
e recursos, tecnologia, moeda e cultura, tributação, política de
desenvolvimento; (3) Cultural – história, educação, moral e fé
e, (4) Política – executivo, legislativo e judiciário independentes, estabilidade
institucional, estado atuante e justo, arcabouço jurídico, representatividade
legislativa, partidos fortes, legitimidade do sistema.
Uma nação constrói um país baseada
em suas necessidades e se organiza fazendo com que as quatro áreas sejam
autônomas, interdependentes e harmônicas, A brasileira começou a se organizar
com Dom João (1808), mas os interesses políticos sabotam a harmonia, autonomia
e interdependência entre os poderes institucionais.
Aa ideologias não discutem a
harmonia institucional. Baseadas em seus princípios, lutam para usar as
instituições em proveito próprio. Muda-se o modelo, mas não se abala a
hegemonia do estado sobre as outras áreas gerando uma sociedade asfixiada,
dependente e subserviente.
Repensar o Brasil em cada eleição,
cada crise, e fazer ajustes e aprimorar estruturas e práticas políticas é não perder
oportunidades. À sociedade cabe pressionar agentes políticos e partidos -
instrumentos legítimos e imprescindíveis à mudança – a descobrir como chegar
lá.
Desvios históricos legaram um congresso
personalista, mercantilista, corporativo, fisiológico e corrupto que usa um
discurso que reduz a autoestima do brasileiro, dificulta a mobilização, sufoca
o espírito de nação e cria um clima propício à manipulação das fraquezas
humanas.
Dependente do poder público, o
cidadão implora o que seria seu por direito, sem força para impor uma agenda que
resolva problemas crônicos do Brasil.
O poder é autofágico e a crise chega
quando as forças dominantes adiam a mudança até estarem em condições de perder
o mínimo possível, quando ela for iminente ou inevitável.
Foi assim em 1964, foi assim em
2016.
A sociedade determina os ciclos de governo com a arma do voto. Elege
um programa que resolva problemas do País e, organizado em movimentos sociais,
fiscaliza governo, partidos e políticos.
Uma crise aqui, outra ali. Uma
tragédia cá, uma catástrofe acolá e nada.
Apenas sentamos, lamentamos e esperamos a próxima.
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