Cincopes

on 29 julho 2024

POLÍTICA - RAÍZES HISTÓRICAS

O Brasil “descoberto” era a civilização mais “primitiva” da época, sem espírito de nação e nem o conhecimento e a cultura encontrada pelos espanhóis entre incas, maias e astecas.

No “novo” mundo, uma Portugal poderosa, moderna e acostumada às conquistas, guerras, comércio e diplomacia encontrou um território multitribal e ingênuo, o verdadeiro Éden.

A grande área a ser explorada, desafiadora, fragmentada, desagregada, sem estruturas políticas, econômicas, militares e religiosas de uma sociedade organizada que impedisse seus fins exploradores e colonizadores, diferenciavam a operação portuguesa das invasões inglesas e espanholas no continente.

Somente no governo Getúlio Vargas, meio do Século XX, saímos dos ciclos - pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro, café, borracha, pedras preciosas, onde o Estado e a elite exploravam e definiam regras numa sociedade desorganizada.

Somos herdeiros dessa realidade onde (a) o trabalhador, sem sindicatos fortes e políticas claras, tem limitado poder de negociação; (b) os empresários, numa relação promíscua com o poder e sem empreendedorismo, infraestrutura e mercado interno, quer crédito fácil e socorro à sua incompetência; (c) os políticos mantêm privilégios e usam o estado e, (d) a sociedade, desorganizada e apática, paga a conta à espera do estado paternalista e assistencialista.

Getúlio trouxe o país à modernidade com a urbanização, industrialização, diversidade econômica, voto feminino, legislação trabalhista e assistência.

O estado é organizado em quatro áreas básicas: (1) Social – valores sociais, bem comum, justiça social, saúde, organização, segurança; (2) Econômica - riquezas e recursos, tecnologia, moeda e cultura, tributação, política de desenvolvimento; (3) Cultural – história, educação, moral e fé e, (4) Política – executivo, legislativo e judiciário independentes, estabilidade institucional, estado atuante e justo, arcabouço jurídico, representatividade legislativa, partidos fortes, legitimidade do sistema.

Uma nação constrói um país baseada em suas necessidades e se organiza fazendo com que as quatro áreas sejam autônomas, interdependentes e harmônicas, A brasileira começou a se organizar com Dom João (1808), mas os interesses políticos sabotam a harmonia, autonomia e interdependência entre os poderes institucionais.

Aa ideologias não discutem a harmonia institucional. Baseadas em seus princípios, lutam para usar as instituições em proveito próprio. Muda-se o modelo, mas não se abala a hegemonia do estado sobre as outras áreas gerando uma sociedade asfixiada, dependente e subserviente.

Repensar o Brasil em cada eleição, cada crise, e fazer ajustes e aprimorar estruturas e práticas políticas é não perder oportunidades. À sociedade cabe pressionar agentes políticos e partidos - instrumentos legítimos e imprescindíveis à mudança – a descobrir como chegar lá.

Desvios históricos legaram um congresso personalista, mercantilista, corporativo, fisiológico e corrupto que usa um discurso que reduz a autoestima do brasileiro, dificulta a mobilização, sufoca o espírito de nação e cria um clima propício à manipulação das fraquezas humanas.

Dependente do poder público, o cidadão implora o que seria seu por direito, sem força para impor uma agenda que resolva problemas crônicos do Brasil.

O poder é autofágico e a crise chega quando as forças dominantes adiam a mudança até estarem em condições de perder o mínimo possível, quando ela for iminente ou inevitável.

Foi assim em 1964, foi assim em 2016.

A sociedade determina os ciclos de governo com a arma do voto. Elege um programa que resolva problemas do País e, organizado em movimentos sociais, fiscaliza governo, partidos e políticos.

Uma crise aqui, outra ali. Uma tragédia cá, uma catástrofe acolá e nada.

Apenas sentamos, lamentamos e esperamos a próxima.