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on 16 março 2023

PLANEJAMENTO - MENOS É MAIS?

Um trabalho conjunto realizado por pesquisadores da Universidade de Cambridge, Boston College e advogados da 4Day Week Global analisou o resultado de um projeto implantado em 61 empresas de diversos setores (serviços, bancos, indústria), no Reino Unido, durante seis meses, com a jornada de trabalho semanal de quatro dias.

No final, todas as empresas registraram quedas acentuadas no turnover e absenteísmo, mantendo ou aumentando a produtividade durante o estudo.

A novidade forçou líderes a melhorar sua capacidade de gestão e as equipes identificaram gargalos que sabotavam a produtividade. Viagens desnecessárias, reuniões em excesso ou não essenciais, prazos dilatados, preenchimento de planilhas em nuvem e relatórios diários foram detectados como atividades que atrapalham o fluxo de trabalho e foram eliminados para reduzir o estresse e melhorar a produtividade.

Ninguém trabalhou menos, apenas tornaram a jornada mais eficiente destinando mais tempo para atividades que gerem mais resultado.

Medir produtividade é complexo porque envolve competências individuais, ferramentas, fatores externos e variações na disposição física e emocional do colaborador.

É possível aumentar a produtividade da turma de 40 horas? Talvez. Há limites para o ser humano manter desempenho satisfatório e concentração permanente, sem exigir pausas e intervalos. O plus na jornada multiplica o risco de erro, aumenta o estresse e abala a saúde física e mental. Já tivemos jornadas de 14 horas ou mais, reduzidas às 40 horas atuais na maioria das sociedades capitalistas. Tecnologia, processos fluidos, inteligentes, gestão humanizada e inovação podem reduzi-la ainda mais, sem prejuízo à produtividade.

A empresa operará apenas 4 dias? Não. As equipes podem definir a jornada, trabalhando parte dela de segunda à quinta e parte de terça à sexta. Isso abre espaço para novas equipes.

Como resultado, 46% das empresas mantiveram os índices de produtividade, 34% relataram uma ligeira melhora e 15% uma melhora significativa. O aumento médio da receita foi de 47%.

Para o trabalhador, 39% disse estar menos estressado e cerca de metade não notou mudança. Alguns estavam tão presos à rotina que precisaram de ajuda para se adaptarem ao novo ritmo, desacostumados que estavam em ter vida fora do trabalho.

A saúde mental melhorou para quase 50% e 37% observou melhora na saúde física.

Testes semelhantes começaram a ser feitos nos EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Islândia e Brasil. A Espanha tem um projeto de pagar às empresas que participarem do projeto.

A grande maioria das empresas participantes permanecerá com o sistema por mais algum tempo e outras farão adequações para tornar permanente. O que iniciou na pandemia do Covi19 como redução do estresse, virou política de produtividade, retenção e recrutamento.

Do resultado, alguns pontos são relevantes, outros merecem análise mais atenta porque essa não pode ser uma regra geral. A implantação deve ser precedida da avaliação da pertinência, natureza e necessidade específica de cada negócio, além da preparação da alta gerência e líderes à mudança de mentalidade e cultura.

Na transição do mundo VUCA para o BANI, reviews, planning, daily, meets e planilhas devem ser usadas com mais equilíbrio. Antes de tomar a decisão de implantar a nova jornada, sugiro avaliar o uso do sistema de produtividade da Nasa* e a Lei de Parkinson**.

Nada será como antes, porque o RESULTADO é mais significativo que o ESFORÇO.

 

*Método Nasa de Produtividade: produtividade não é fazer mais rápido, mas na ordem correta.

**Lei de Parkinson: dê uma tarefa e um prazo a alguém e ela lhe entregará no prazo. Se não der prazo, a pessoa fará no menor tempo possível.