Cincopes

on 29 janeiro 2024

PROSA - FILHINHO DA MAMÃE

Assistindo despretensiosamente uma série televisiva, a cena da mãe de um policial implorando ao comissário para transferir seu filho para um distrito menos perigoso me chamou a atenção e me remeteu aos meus tempos de Exército com as mães pedindo para seus filhos não servirem ou entregando comida ou quitutes por sobre os muros para alunos ou recrutas que reclamavam da comida do EB.

Os dois fatos se conectam com a pesquisa que li no Financial Times do dia 26/01, que mostra que os homens da Geração Z são mais conservadores que as mulheres. É um fato que constato na realidade e incluo aí os integrantes da geração X e Y (millennials).

Os homens dessas gerações se sentem ameaçados em seu mundo machista e minha geração falhou em não mostrar a eles que ele é plural e que ser macho, necessariamente, não o faz um homem.

Os homens da minha geração cumpriam o papel social destinados a eles, focados no trabalho e no patrimônio. Nossos filhos ficaram sob a supervisão da mãe que começava a entrar no mercado de trabalho, enfrentando a dupla jornada. Isso gerou um sentimento de culpa que tentavam compensar oferecendo ao filho superproteção e facilidades que não tiveram.

Uma culpa que os homens não tinham, porque a visão da época era do marido provedor, além da prática comum da paternidade irresponsável.

São os "filhinhos da mamãe", incomodados em compartilhar a vida fora de sua visão de mundo egoísta, projetando nos outros o seu mimimi.

São gerações machistas, misóginas, inseguras sexualmente, preconceituosas e sem qualquer empatia.

Os números do aumento da violência contra a mulher, crimes contra LGBTQIA+, o preconceito fruto da inveja das pequenas conquistas dos pobres, radicalismo ideológico de extrema-direita como autoafirmação e a fé oportunista como desculpa por suas limitações profissionais, empreendedoras e familiares são resultado concreto desse drama geracional.

Em minha visão simplista, leiga e como observador amador da sociedade, acho que as mulheres são mais progressistas porque entenderam o drama de suas mães, além de lutar por avanços que a sociedade machista e patriarcal teima em lhes negar. Andam junto com negros, trans, idosos, menores, portadores de deficiência, trabalhadores, povos originários e outros estratos periféricos e marginalizados com objetivos comuns - inclusão, segurança, oportunidades, liberdade e equidade social e política.

Meu consolo é ver a Geração Alfa, representada em meus netos, mais consciente e empática, dando uma banana para essa visão retrógrada e limitante à evolução social da humanidade.

Temos um longo caminho e não estarei aqui para ver o rascunho atual se tornar uma obra de arte, mas esse novo mundo terá uma sociedade muito melhor.

Do alto de meu otimismo, peço aos veteranos que saiam da frente e não atrapalhem!