Cincopes

on 01 março 2024

PLANEJAMENTO - CAPETALISMO CAPITALISTA

“Trabalho não é só produzir, é também transformar a si mesmo”, Christophe Dejours

A Teologia da Libertação, capacidade de se entender como ser social e livre politicamente, foi substituída pela teologia da prosperidade que subordina e humilha o ser humano ao definir que a prosperidade financeira é mais importante que a prosperidade pessoal, social e econômica.

Ela prega o dever de produzir desde muito jovem e construir patrimônio antes de se construir como ser humano e cidadão.

É uma regra brutal, padronizando atitudes, transformando idiossincrasias em defeitos, tratando todos como iguais. Ao não alcançar resultados iguais ao grupo, surge a ideologia da vergonha, um fenômeno estudado por Christophe Dejours, médico, psiquiatra e psicanalista especialista em medicina do trabalho e diretor da pesquisa Psychodynamique du Travail et de l'Action (Psicodinâmica do Trabalho e da Ação). A ideologia da vergonha imputa às pessoas, sentimentos deprimentes ao não se perceberem iguais aos outros, esquecendo que cada um vive com seus limites e diferenças.

Ela está presente na “fé” mercantilista do líder religioso e no discurso motivacional de alguns coachs sem qualquer experiência em gestão de negócio ou pessoas, que usam passagens da Bíblia e frases de livros de autoajuda, manuais ou filosofia de almanaque para mobilizar a claque.

A simples falta ao trabalho por doença é motivo de vergonha. Não basta o sofrimento, é preciso superar a dor e abandonar sua individualidade para cumprir suas tarefas. Absenteísmo por gravidez, acompanhamento de um filho doente, perdas importantes, tratar de assuntos pessoais ou negar o dízimo por necessidade, desemprego ou urgência médica, tudo é fraqueza moral.

Sem que percebam, pessoas são testadas com o aumento de tarefas, pressão por resultados, jornada além dos limites, metas irreais e competição individual ou de times. Se você “vira o fio” ou não se adapta, ganha o rótulo de preguiçoso, ineficiente ou incapaz. A gestão do sofrimento psíquico avalia sua capacidade de se entregar, não de entrega, competência ou habilidade.

A meta importa mais que o resultado.

E a não-violência contra si mesmo é considerada um pecado, coisa do capeta.

Em meio ao surgimento de movimentos que tentam humanizar o capitalismo como o Capitalismo Consciente, Capitalism Reset, ESG, surge o *capetalismo capitalista.

Se você não é competente para gerir pela virtude, é um pecado ser líder.

 

*Capetalismo - capitalismo baseado na propriedade, lucro, luxúria, medo, sacanagem e satanismo.