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on 04 março 2024

POLÍTICA - SOBRE PIB E FIB

 Sonho com o dia em que IDH e FIB terão o mesmo espaço nas manchetes que PIB e inflação.

Tivemos na semana passada, uma enxurrada de boas notícias no front econômico.

Começou pela confirmação do PIB de 2,9%, quase três vezes às expectativas. Após um governo desastrado e incompetente quase quebrar o país e nos jogar na 12ª posição da economia mundial, voltamos ao top ten. Desbancamos Canadá e Rússia, assumimos a  posição e beliscamos a 8ª, não ultrapassando a Itália por detalhe. I nostri fratelli non perdono aspettando.

Fomos o 14º país em crescimento e junto com o México, somos os únicos não asiáticos no topo da lista. EUA (2,5%) está na 18ª posição e só depois aparecem americanos, europeus e africanos.

Outros números do IBGE justificam a euforia do governo e do mercado. Separei alguns que considero importantes e comparo os anos 2022-2023.

O PIB per capita foi de R$50.193,72, crescimento real de 2,2%; renda per capita de R$1.893, crescimento de 16,5%; renda média habitual subiu 3,5% chegando a R$3.078; consumo das famílias cresceu 3,1%; indústria, serviços e agro cresceram, com destaque para o setor primário com 15,1%, graças a safra de soja e milho, a abertura de 78 novos mercados em 39 países e a maior liberação de recursos dos últimos 5 anos pelo governo Lula, objeto de ódio do setor; exportações cresceram 9,1%; importações recuaram -1,2%, impacto positivo na balança comercial; temos quase 101 milhões de brasileiros com carteira assinada; índice de desemprego caiu para 7,6%; inflação dentro da meta e taxa de juros diminui com sinais de mais queda.

Pesquisa da Febraban mostra que 75% da população acha que sua vida vai melhorar em 2024 e a do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-SP) junto às empresas, aponta que a maioria dos CFOs têm ótimas expectativas, mesmo sendo ano de eleição.

Tanto governo (2%) quanto o mercado (1,5%) são cautelosos com o PIB para 2024, mas alguns bancos já mudaram sua perspectiva, chegando próximos a do governo.

Realmente são números alentadores e causam urticária nos bolsonaristas e na oposição.

Aplaudo o otimismo, mas num horizonte histórico, são, no mínimo, preocupantes. Ainda temos 8,1 milhões de desempregados, o crescimento estagnou no segundo semestre de 2023, temos muita dependência do agro e a massa salarial cresce aquém do ideal, por exemplo.

Numa visão comparativa dos últimos 10 anos, o PIB anual passou de R$2.473 trihões (2013) para R$10.900 trilhões (2023), um crescimento de 4,4 vezes. Excelente!

No mesmo período, a renda média anual por domicílio que era de R$1.681, igual a 2,5 SM (R$678) aumentou para R$1.893, equivalendo agora a apenas 1,5 SM (R$1.302). A renda dos 5% mais ricos cresceu o triplo da média do país e dobrou em cinco anos. E os 15 mil super-ricos aumentaram seus ganhos em 96% de 2017 a 2022. Preocupante!

Não precisa ser um gênio para ver que os últimos 10 anos houve um grande avanço econômico, mas os recursos não chegaram ao bolso da população com a renda média do trabalhador caindo o equivalente a 1 SM e não caiu mais devido ao Bolsa-Família e ao Auxílio Emergencial.

Repetimos o ciclo econômico da ditadura em que o desenvolvimento (milagre econômico?) aumentou a concentração de renda, comprimiu os salários e não melhorou a vida da população. Uma diferença é que na ditadura, o governo foi o responsável pelo surgimento dos oligopólios e monopólios. Hoje, a tecnologia e a livre circulação do capital sem fiscalização fazem isso.

No meu ponto de vista, o papel do governo é frustrar positivamente as expectativas do mercado, corrigir distorções e criar oportunidades. O resto deixa na mão do povo que ele faz.

Equacionar esses problemas colocarão o país no rumo e quem sabe a gente entre no primeiro mundo como os países que além do PIB, avaliam também o FIB (Felicidade Interna Bruta) que mede o impacto do PIB na melhoria das condições de vida e no bem estar das pessoas.

Um assunto que foi discutido no país no final da primeira década desse século e sumiu da pauta.

Temos que retomar o assunto.