Cincopes

on 07 março 2024

PROSA - GERAÇÃO Z - ANCESTRALIDADE JUVENIL

 Gerações passadas eram instruídas com conceitos transmitidos como verdade absoluta baseada na fé, moral, ética, conhecimento e projeção de autoridade de pais, professores e antepassados.

Livros didáticos eram revisados a cada cinco ou dez anos porque a história era imutável. Heróis eram eternos, vestais sem idiossincrasias. Regras gramaticais eram definitivas e termos estrangeiros eram raros ou técnicos.

Hoje, as novas gerações se apopriaram da tecnologia para absorver uma combinação de saberes ancestrais, intelectuais e espirituais conseguindo fazer avaliações, dar forma ao seu ponto de vista e tomar atitudes de uma forma em que passado, presente e futuro se fundem.

Essa capacidade de transformar informação em conhecimento é, na verdade, o resgate e a modernização da oralidade, uma forma de transmissão de saber comum nas tradições africanas e indígenas. E, também, do início do cristianismo, até virar negócio na boca de falsos profetas.

Eles aprenderam que estudar é questionar o que não sabemos e como e por que esse não-saber está ligado ao poder, à violência, ao cancelamento de identidades e histórias. O saber deve ser transmitido, vivenciado e atualizado respeitando suas raízes.

O Brasil é multipolar, uma fonte inesgotável de culturas e tradições e há tanto a saber que por mais que saibamos ainda é nada. Esse, talvez, seja um fator crucial que impede a conexão entre os brasileiros. Desconhecemos nossos irmãos e o quanto estamos ligados, impedindo a construção de uma identidade nacional.

Entendendo essas limitações, a nova geração resolveu agir. Ela sabe muito e está pronta para aprender mais. Quem puder que acompanhe e aprenda junto.

Eles têm condições, vontade e acesso a conteúdos em bibliotecas de qualquer lugar do mundo. A tecnologia ajuda na busca de raízes e na compreensão desses padrões morais e culturais impostos ou absorvidos que eles contestam.

Os discursos sobre preconceito, pobreza, educação e discriminação foi retirado das mãos da elite pelo sujeito objeto do discurso. Ele assumiu suas bandeiras e debate abertamente sem depender mais de um porta-voz a reproduzir chavões e lugares comuns e que, sempre que o tema ameaça o status quo, se protegem com o “sempre foi assim”, “foi sem querer”, “no meu tempo”... Muitas vezes, seu lugar de fala era usurpado pela elite para proteção e perpetuação do sistema.

A universalização da educação e o acesso à tecnologia deu voz aos desassistidos e vulneráveis. Abriram mão da tutela cuidadosa da burguesia para proferir uma fala forte, contundente, respeitável, responsável e democrática, sem cor, gênero ou raça, mas com autoridade.

O representante e a representatividade se transformaram em participação e presença.

Os jovens do século XXI criaram um modo fusion cultural para pesquisar, aprender, se expressar e viver. Uma geração disruptiva que assusta a muitos.

Para o bem da humanidade, é melhor aprender com eles.