"Há mais de um caminho até o topo da montanha", Miyamoto Musashi
O comandante do Exército, general Tomás, proibiu manifestações que exaltem o golpe que levou o país à ditadura, em 1964. Concordo em gênero, número e grau porque um Exército ideológico é um perigo à nação, principalmente onde existe o serviço militar obrigatório.
Anualmente, 50 mil jovens voltam à vida civil após cerca de um ano com disciplina, hierarquia, regulamentos rígidos, rotinas comuns à caserna e como objeto de doutrinação ideológica.
O maior perigo são os militares temporários
que convivem até 8 anos na Força e, muito jovens, assumem comandos sem vivência social e política suficiente para entender os limites do poder.
Os oficiais ainda têm a vida
acadêmica, mas os graduados, cabos e
sargentos, na maioria, vivem um ápice
de poder sem base intelectual e cultural de chefia e liderança, exceto
panfletos, manuais, regulamentos e exemplos, nem sempre positivos.
No Exército, cumprir ordens supera
o cumprir sua responsabilidade,
exige obediência cega, compreensível
em um ambiente formado por jovens que precisam ser alinhados ao RDE.
Um cabo ou sargento manda sem contestação.
O sargento de carreira, em sua
maioria, é o pai ou o tio, respeitado
pela experiência e atitude.
O sargento temporário convive
com subordinados da mesma idade, muitas vezes, colegas de incorporação. A falta de experiência e essa relação
próxima exige que a ordem seja imperiosa.
O tenente vive outra
experiência, compartilha decisões e
responsabilidades com 4 a 6 sargentos. Seja da AMAN ou dos CFOR, aprende
a respeitar a opinião dos mais
velhos e experientes, ouvir para decidir. Muitos graduados têm de tempo de serviço o que ele tem de vida. Sob seu comando estão jovens com quase a sua idade, podendo ser um ideal para eles.
Ao terminar seu tempo, repentinamente e sem preparo, perdem o poder, descobrem
que suas competências profissionais
não têm utilidade no mundo real e têm dificuldade em viver num ambiente diverso, plural e democrático,
onde sua palavra vale tanto quanto a do outro.
Alguns se readaptam, outros absorvem
a postura militar e o discurso ideológico
e têm dificuldades em debater e
conviver em grupo. Uma atitude que pode lhes custar caro.
Esse é um modelo que se
perpetua em nossa história, uma sombra
sobre a sociedade, ameaça à
estabilidade e um risco à democracia. A
formação militar privilegia mitos, heróis, superiores infalíveis. É uma
estrutura paternalista, cada um
cuidando do seu quadrado, cumprindo cegamente
o regulamento e com a garantia de
que o superior resolverá os problemas.
Organizações hierárquicas jamais
serão democráticas e justas, sempre haverá os peixes, safos, bisonhos e
alterados, conceitos que não estão
nas pessoas, mas em quem avalia e promove.
As FFAA, além da Constituição, seguem a Estratégia Nacional de Defesa e a Política de Defesa Nacional e
desconheço o alinhamento ideológico
incluído em seu adestramento. A
escolha de inimigos fictícios prejudica
o cumprimento de sua missão, além do risco à estabilidade por rompantes autoritários
e golpistas, como estudamos na história brasileira e vivemos nos últimos anos.
Gestado desde 2012, o processo de tentativa de desestabilização atual
teve seu lançamento público dentro da AMAN,
em 2016, contaminando gravemente uma safra de cadetes que em
sua maioria nasceu na democracia.
Acho que o general Tomás poderia preparar debates democráticos analisando historicamente o golpe e a ditadura, uma autocrítica dolorosa, que creio necessária, mas sei que é pedir demais.
O pensamento único é uma violência ao livre arbítrio e à democracia. Os militares sabem que estratégica e taticamente, há mais de um caminho para se atingir o mesmo objetivo.
Emoticon Emoticon