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on 08 abril 2024

PLANEJAMENTO - JOGUEM FORA OS MANUAIS

"É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem", Elis Regina (Como Nossos Pais)

Pesquisa da Glassdoor, empresa norte-americana que avalia anonimamente empresas, mostra que há uma grande dificuldade de contratar o pessoal da Geração Z.

Muito das alegações são baseadas em percepções pessoais e estereótipos criados em empresas formais, lineares e hierarquizadas.

Essa questão é prioritária ou você terá sérios problemas para montar um time para tocar o seu negócio já que, em breve, essa turma será maioria no mercado de trabalho. Se não se acertar com a Z, o que fará quando chegar a Geração Alfa?

A pesquisa não incluiu o Brasil, mas os números do IBGE mostram que aqui não é diferente.

Em 2023, o índice de desemprego diminuiu (7,6%) enquanto houve o maior número de pedidos de demissões, desde 2004. Do total de 7 milhões* de pedidos, 39% tem nível superior, 6% tem doutorado, 29% possui nível escolar médio, 26% tem até o ensino fundamental.

Os motivos são semelhantes e merecem atenção, porque as reclamações estão nos dois lados.

1.    Visão** dos profissionais de Recrutamento com minhas observações.

- Não fazem contato visual (57%) – qual a relevância? Eles conseguem entender fazendo duas ou três tarefas ao mesmo tempo. Ouvir, entender e ter competências são mais importantes.

- Não se comunicam bem (39%) - minha vó Maria dizia - “se não tens má fé e não te entendem, o culpado é tu”. Fato! A comunicação com a Geração Z é em outra frequência e, temos que nos atualizar, obrigatoriamente.

- Não se vestem adequadamente (58%) - sua visão de mundo é outra e o formalismo não está nela. O ambiente de trabalho mudou e seguirá mudando para que as pessoas se sintam bem e produzam com excelência.

- Exigências salariais irracionais (42%) - eles valorizam suas habilidades e disponibilidade. Diferente do trabalhador histórico, não temem a perda do emprego, têm facilidade em executar multitarefas com alta produtividade em curto espaço de tempo. Podem trocar uma metalúrgica por um banco equalizando seu conhecimento em curtíssimo prazo, graças a inteligência fluída. Sua capacidade de aprender, absorver conhecimento e propor inovação está fora da curva.

 - Demonstram pouco interesse ou engajamento (33%). Qual a proposta de trabalho e de valor? Qual é o propósito da empresa? O colaborador também é seu cliente e precisa de uma estratégia cultural para sua captação e retenção.

São, visivelmente, perspectivas de gestores com manuais desatualizados. Quatro dos cinco pontos são questões comportamentais que um bom líder resolve.

2.    Visão** dos candidatos e demissionários, com minhas observações.

- Melhores oportunidades no mercado – essa geração não teme a mobilidade, novos desafios e o desconhecido. Não quer raízes – família, carro, patrimônio, seus bens cabem numa mochila.

- Falta de perspectivas de crescimento – planos de carreira hierarquizados e com tempo de serviço e metas para promoção estão superados. Eles não têm paciência para esperar, preferem um plano com mobilidade, benefícios e reconhecimento justo.

- Salário abaixo da média do mercado – valorizam suas habilidades e não temem dizer não. A estrutura laboral mudou quanto a ambiente, tecnologia e, também cultural e economicamente. Matéria publicada no Wall Street Journal, nesse final de semana, nos EUA, mostra que para escapar da concorrência no mercado de tecnologia e com a melhora das condições de trabalho e dos salários no setor metalúrgico, após a greve, a Gen Z está migrando para as linhas de produção fabris.  

- Trabalho presencial – as novas relações exigem empatia e bom senso. O home office tornou o colaborador mais produtivo, pessoal e profissionalmente. Estudos mostram que o afastamento físico aproximou equipes e a competição deu lugar à cooperação, até os tímidos participam mais e melhoraram a produtividade. Metas, dinâmicas de grupo, cobranças e competições constantes criavam um ambiente de desconfiança, pressão e conflito entre os membros da equipe.

- Falta de reconhecimento e recompensas - mérito para quem faz, eles não aceitam a usurpação de autoria. O reconhecimento é emocional e a recompensa é material.

- Dificuldades de comunicação e feedback – problema claro de falta de perfil do líder.

- Não conseguir conciliar trabalho-vida pessoal - é uma nova relação laboral onde você contrata habilidades, não a vida do profissional.

Na visão dos profissionais, apenas dois pontos são comportamentais e impactam na sua capacidade de produzir, mas todos têm a ver com a carreira e perspectivas profissionais.

Como visto, os motivos são semelhantes, demonstrando uma clara questão de ponto de vista e a necessária inovação nas políticas corporativas.

Conhecimento e formação perderam espaço para softskills junto com a decisiva análise de como seu potencial pode contribuir e como investir no desenvolvimento de suas habilidades.

É função dos gestores entender as dificuldades do recrutamento, analisar as pesquisas de satisfação e estar em permanente alerta no acompanhamento dos dados.

Não precisa radicalizar e jogar fora os manuais, mas é preciso uma nova versão revisada, atualizada e com novos capítulos, que servirá de guia para construir um novo perfil de liderança.

Capital humano, política de remuneração e endomarketing são estratégicos, afinal, negócios são pessoas.

*Dados do IBGE

** Dados da Glassdoor